domingo, 16 de março de 2014

a brisa que vem chegando


   Aqui dentro, os pensamentos se atropelam. Empurram as horas, perturbam as obrigações e as coisas que já são feitas no automático.

  Lá fora, o sol brilha. O céu de um azul tão límpido, que parece brilhar tbm. Tudo está parado;

 Aqui dentro, as coisas parecem não caber dentro do tempo, e vão se sobrepondo, de forma que as vezes, parece não ter espaço nem pro ar mais...


Lá fora, as nuvens permanecem exatamente onde estavam, 

e tudo está parado.

Aqui dentro, os passos tem que ser rápidos, os movimentos certeiros, cada gesto muito bem pensado, e executado.


Lá fora, tudo está parado.


Aqui dentro, a culpa esmaga, no fim de cada linha escrita...não deveria estar aqui, deveria estar fazendo pelo menos uma das coisas que estão na minha lista.


E lá fora, tudo continua parado.


Aqui dentro, continuo no meu ato de rebeldia a mim mesma...e deixo escorrer pelas palavras, apenas gotas do turbilhão que só aumenta dentro de mim.


E lá fora, as folhas começam a dançar...é a brisa que vem chegando!


domingo, 2 de março de 2014

Passos rápidos


  Seus passos eram rápidos. Curtos. Firmes. Procurava não pensar demoradamente em nada naquela hora. Apenas continuar em frente, na esperança de que isso se refletisse de fora pra dentro.
  Não estava pensando nem mesmo nas ruas por onde passaria. Conhecia as possibilidades,então apenas continuava andando, sem parar nem mesmo para atravessar a rua, de forma que a pressa se tornou seu guia.
  Virou na esquina, ao perceber que precisaria parar e esperar um carro passar se continuasse em frente.
 Nesse momento, esbarrou em Alguém: "Oi, tudo bem?" As palavras a atingiram como um raio.
  Não sabia se estava feliz ou triste por ouví-las.
 " Tá", foi a resposta que saiu automaticamente. Tão rápida, que traduzia justamente o contrário. 
  Isso, porque as palavras têm que ser ditas. Caso contrario, elas dão um jeito de sair. Perpassam os gestos, a voz, os olhares....principalmente os olhares.
  Alguém percebeu isso. E nesse meio tempo, ela foi obrigada a parar por um instante, pelo menos para manter o curso " normal" das coisas, e se livrar rapidamente.
   " Não, não tá", foi o que ouviu, antes de sentir aquela onda de desespero aumentar dentro de si, e reunir todas as forças para se segurar , e não derramar todas as lágrimas que vinha juntando, justo ali, justo naquela hora.
  " Não, não precisa se preocupar, não é nada...to cansada só, vai melhorar"....falava enquanto tentava sair dali.
   A questão era que, parar, teve um efeito congelante em suas pernas, e simplesmente não conseguia se mover.
   Alguém decidiu ir além da cordialidade, e insistir: " vamos tomar alguma coisa, e conversar um pouco. Tenho certeza que seja lá o que for que você precisava fazer agora, não é mais importante do que tomar um café comigo".
  E falando isso, seguiu em direção a primeira lanchonete que viu. 
  Ela caminhava em silêncio. Não sabia como reagir...queria correr, queria ir embora e continuar seu caminho de apenas seguir em frente.
  Mas estava tão perturbada, por ter parado, por ter virado a esquina, por ter respondido aquele oi que não parecia levar a lugar algum, por não querer falar , mesmo sabendo que era o que mais precisava, que simplesmente o seguiu.
  Passos curtos, rápidos, mas não mais firmes. 
   Sabia que estava caminhando para o fim do seu disfarce. Sabia que ali, as máscaras que havia habilmente esculpido nos últimos tempos, já tinham começado a cair.
   E não sabia mais o que restava sob elas...mas Alguém estava disposto a descobrir. E isso não fez diferença apenas no ritmo, ou nas ruas por onde Ela caminhou dali pra frente...fez toda diferença pra Ela.