sexta-feira, 16 de junho de 2017

Então né #2

Faz tempo que penso em retomar essa ideia do " Então né #1 - relembre aqui. Já pensei em diversos assuntos que tem tudo a ver com essa “ cara”, mas nesse mês de dia dos Namorados, não deu pra me segurar: vou falar de status de relacionamento porque sim. No caso, o meu, porque o blog é meu ;)
Estou solteira.
E aparentemente esse é um assunto que preocupa algumas pessoas, mesmo sendo algo que diz respeito a mim apenas. Sempre tem aquele parente/amigo/colega que insiste em “ achar alguém pra você”, mesmo que você deixe muito claro que não está procurando. Geralmente os parâmetros dessas pessoas são: a pessoa respira? Tá ótimo!"Dá uma chance pra ele Gabi, vc é muito exigente!" Senhiôr dos Anéis...a gente tem que largar a educação um pouco, responder brava, se fazer de jacu pra deixar claro pro Universo que não, você não tá na vibe da procura.
Mas só eu passo por isso, óbvio. Tem também aquele momento que perguntam, e ao ouvir a palavra “ solteira” fazem aquela cara sem graça e já começam a me consolar kkkkkk. Ou então as piadinhas :não importa o grau de intimidade que a pessoa tem comigo, ao ouvir a palavra “ solteira” ela faz a palhaça e começa a me zuar. Se eu rio muito, a criatura se sente respaldada pra continuar. Se brigo, sou mal amada, e preciso URGENTE de um par. Nessas horas, relembro que a criatividade humana e a falta de noção desconhecem limites.
Daí eu fico observando como isso funciona com os caras que conheço. Nem preciso comentar que a pressão sobre eles sequer existe. Ninguém pergunta, cobra, faz piadinhas. Aparentemente é normal um cara estar solteiro, independente da idade. Se ele é solteiro pressupõe-se que ele não está sozinho também, tudo bem existirem contatinhos, friends with benefits, e coisa e tal. De boa eles pegarem geral porque não querem compromisso. Agora as minas que eles pegam  que é  o problema. Geralmente a gente ouve essa conversinha fiada mesmo de outras mulheres: hoje em dia é tão difícil pra eles encontrarem uma mulher que preste né? Só tem biscate. 1 minuto de silêncio pra essa vida tão dura que não dá opções pra eles. Poor guys…( vou parar, pq se não vo levar esse post pra outro lado. ) Troque tudo que eu escrevi acima por uma mulher solteira, e perceba a diferença absurda que existe no preconceito e julgamento das mesmas situações.

Seguimos: Dentre os preocupados, também tem os que querem causar discórdia baseados numa competição invisível:  “ Noss, você tá perdendo pra sicrana…” e completa a frase com algum dado estúpido que pode ser desde a idade até alguma característica física. Gente...gente, gente...como assim? Oremos.
Daí eu to lá, nas redes sociais esses dias próximos ao dia 12 e o que vemos: fotos de casais perfeitos pra todo lado, protagonizadas por aquele casal que um dos dois tava no tinder ontem, e curtiu tua amiga que veio confirmar se a pessoa não era compromissada. Ou aquele que briga de se bater no meio da rua, e claro, aquele casal que tirou mil fotos de pétalas de flor no chão...mas que durante o ano o cara trata a mulher como a flor mesmo, aquela ali que tá no chão. Todos dizendo nas legendas o quanto se amam eternamente e o quanto estão lindos e plenos juntos. Ou pior, o quanto “ o amor que sentem um pelo outro é maior e melhor do que o de outros casais…” what?
É uma bizarrice sem fim. Fico pensando se a galera que tá muito preocupada com meu estado civil mora nesse planeta e vê essas coisas também. E se considera que ISSO é ter um relacionamento,e é melhor do que não ter. Aliás parênteses aqui sobre esse verbo: Ter. TER me dá uma ideia de posse...e a gente possui coisas..não pessoas.  Mas todo mundo usa, eu que gosto de causar. Pensando no verbo prefiro ESTAR em um relacionamento. Ser uma namorada, não ter um namorado. Isso traz a responsabilidade pra mim. Se eu quero estar em determinada situação, cabe a mim  ser não é mesmo? Tão simples. Mas ok, fecha parênteses porque eu não tenho e nem sou. Então, óbvio que tem algo errado comigo, ou eu sou muito exigente. Claramente , a culpa é sempre minha que sou mulher. Devo estar sendo ou fazendo alguma coisa errada.
Homens não gostam de mulheres assim”....Hmm legal. SE fosse o caso de considerar os homens como uma massa homogênea com comportamento e gostos padronizados, e as mulheres também, essa frase faria sentido. Pra quem se importa, claro. Mas não é o caso. Existem pessoas de todos os tipos, e eu sinceramente não estou preocupada com o que os homens gostam. isso é problema deles. Ou seu, hehe . Não me leve a mal, mas você sabia disso né? Não existo pra satisfazer exigências e preferências de outro ser humano, seja ele quem for.
Minha preocupação hoje tá bem longe disso. Me preocupo sim com o que agrada a Deus, num âmbito mais profundo. E dentro dessa perspectiva, com o que EU gosto. ( É, soa egoísta assim mesmo, mas você acostuma).
Sabe a ideia de que é impossível ser feliz sozinho? É uma música, e é uma gracinha ouvir isso com aquele som de bossa nova que tem uma pegada leve, feliz e melancólica tudo ao mesmo tempo. Mas desconfio que o autor tava apaixonado quando escreveu isso aí. Espero. Porque apaixonado a gente fica bem brisado mesmo. Eu fico pelo menos. Ficamos mais corajosos, sensíveis, bonitos, mais alegres, mais bestas...kkkkk brinks. É ótimo estar apaixonada, recomendo pelo menos 1 vez na vida. Mas paixão acaba, a vida segue, e daí você fica com cara de quê, se acha que é impossível ser feliz sozinho?  Te digo que fica a cara da derrota, tentando achar o que você fez de errado, já que esta só, e que isso é sinônimo de infelicidade.
É mais do que possível ser feliz sozinho. É necessário. Sabe por quê? Porque não podemos colocar nossa felicidade em algo que podemos perder ( olha aí, grande C.S Lewis arrasando nas palavras). E mais do que isso, geralmente, quando colocamos a felicidade no outro, além do enorme risco de perdê-la ao menor sopro de distância que o outro demonstrar, a gente corre o seríssimo risco de se perder.
Sim, a gente se perde. Parece poético mas é terrível. Pode acreditar. Acredito que é possível se reencontrar talvez. Se descobrir em alguns aspectos, mudar, se reinventar ou ate se reconhecer ( oi AnaVitória). Mas não SE encontrar, se preencher, e coisas assim (perceba que abomino os conceitos de metade da laranja e tampa da panela...essas metáforas de cozinha só por Deus) acredito mais em duas laranjas inteiras que sozinhas dão certo, e juntas também. O tal do “somar”.
Quando você tem todas essas ideias a respeito de relacionamento, estar solteiro é um momento crucial e precioso. É  necessário, fundamental e ótimo. Porque é nesse tempo que vou me descobrir inteira. Que vou me reconhecer de volta ( acho essa musica incrível gente, desculpa ...escuta lá e me diz se não é AnaVitória :Agora eu quero ir). Estar solteira e plena é o que vai me dar todas as condições pra perceber se eu quero ter um relacionamento, qual o papel mais coerente disso na minha vida , contexto e sonhos, se é algo que vai fazer sentido pra mim ou se é só mais uma imposição social, ou costume da geral; pra só depois me dar condições de viver isso plenamente, de acordo com minhas definições e escolhas. É tempo de desconstruir muitas ideias de músicas românticas hahaha principalmente Los Hermanos ( parei, desculpa). A bad de estar só, é meio que “ liberada” se o problema for carência .Porque sabeDeuspq nosso corpo parece estar enlouquecido e manda mensagens de loucura pra mente, que parece assimilar que "qualquer coisa é melhor do que estar sozinho". Maior cilada isso aí. Nada e qualquer coisa tão ali ó. Essa fatídica e indesejada situação acomete todos os seres humanos pelo menos uma vez na vida, e é um estado difícil, mais perigoso que a TPM, e não é específico do sexo feminino. Com carência a gente luta, não se joga não ( eu acho). A boa notícia é que passa. Ufa!
Voltando de novo: se conhecer e se amar é básico, e muito difícil. Tem que se empenhar. To nessa vibe aí.
Agora se você já se jogou na ideia de que estar solteiro é ruim, é sinal de fracasso, ou qualquer baboseira dessa, presta atenção: pra VC, estar com alguém também vai ser ruim #prontofalei. Porque você vai transferir toda expectativa de felicidade e culpa da sua frustração pra alguém que provavelmente não pode suprir ou suportar esse peso. E tem mais : nenhuma das situações nos faz melhor ou pior do que ninguém. Parece existir uma competição invisível e tácita pra ver quem se deu melhor nessa vida...e estar em um relacionamento geralmente te dá mais pontos com aquele juiz  invisível e onipresente que alguns chamam de  opinião social. Mano, sério: quando você se sentir pressionado por esse juiz, foge pras colinas. Essa opinião NUNCA vai estar satisfeita, ninguém nunca vai ser bom o bastante, então vai na vibe do “ who cares?” e se liga mais no que você pensa e quer pra você. Tem uma galera também que se acha mais inteligente por estar solteira...também não é por aí. É preciso saber que cada um é cada um, cada um tem seu tempo , sua história, sua forma de escrevê-la ( já passei por essa fase...#shameonme).
Não tenho certeza, mas parece que quanto mais a gente se conhece e se respeita, mais capaz de conhecer o outro e respeitá-lo a gente se torna.
Então né...seja qual for o status de relacionamento que tá lá nas redes sociais, melhor coisa que tento fazer é viver ele plenamente, e convicta de quem sou, o que quero e pra onde estou indo. Isso serve pra você também, se quiser. Ficar se comparando, tentando crescer em cima do que se considera fracasso no outro, ou se depreciar no que se considera vitória do outro...meo, é muita perda de tempo.
 Tive que repostar as palavras do incrível João Doederlein o@akapoeta, porque é isso aí. " Não é estar perdida".
 Ser solteira ou compromissada, tudo pode ser lindo ou horrível. Depende muito mais de mim, e no seu caso, de você que de mais ninguém.#ficaadica

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Meus cachos : sobre identidade, autoestima, transição e liberdade

Faz bastante tempo que penso/quero/tento escrever sobre meu cabelo. Sobre a transição, sobre o processo de aceitação, essas coisas. Não dicas. Isso tem aos montes em blogs especializados- indicações no final deste post. A história da minha relação com ele me parece interessante, e mesmo comum, acredito que pode ser tornar referência ou inspiração pra alguém- quem sabe?- já que muita gente me pergunta : " O que você faz pra deixar seu cabelo assim?"
Eu respondo lisonjeada e rapidamente, mas a verdade é que eu " não deixo meu cabelo assim". Ele é assim. Faço minhas as palavras de muitas blogueyras lindas cacheadas e crespas: cabelo cacheado/crespo não é moda, é identidade. Não uso meu cabelo assim, ele É assim. Não faço mil truques pra deixar ele com a aparência tal, eu aproveito o potencial que ele já tem, cuido e brinco com as possibilidades que ele mesmo me dá. É muito mais do que tendência, porque ir contra o padrão de sempre é sim um ato de resistência (mais sobre isso aqui, no Cacheia).A história de quase toda cacheada assumida hoje bem pode ser descrita pelos versos do Chorão " histórias, nossas histórias, dias de luta, dias de glória" haha. Dito isso, vamos à minha :
Eu nasci com cabelo cacheado. Nas fotos antigas, dá pra ver que os cachos eram mais abertos, mas sempre volumoso, sempre muito cabelo. As referências em casa eram mistas: tem tia de cabelo liso e outra de cachos, vó de cabelo liso, mãe de cachos, irmã de cabelo lisérrimo, outra com cachos bem abertos, uma coisa bem Brazeel. Era minha mãe quem cuidava do meu cabelo e me ensinava também tudo que podia. Lembro que ela sempre fazia penteados, e eu sempre gostei mesmo é de ficar de cabelo preso, bem preso. Se não fosse assim, ele " armava" ( e quem nunca ouviu a piadinha infame de que " cabelo ruim é igual ladrão, quando não tá preso tá armado"?). Minhas amigas e professora tinham cabelos lisos. Como a maioria das crianças da face da terra, peguei piolho e foi um sofrimento absurdo...era muito cabelo, um caos até minha mãe cortar ele bem curto. Tão curto, que só prendia com tiaras e presilhinhas. Eu lembro de ter achado legal, mas era tanta zuação pelo volume dele, que esqueci aquele relance de boa impressão que tive quando usava tiaras. Voltei a prender, sempre puxando ele bem pra trás, com bastante creme, pra acabar com qualquer intenção de frizz que ele tivesse rs. No "boom” das escovas, chapinhas, químicas, várias pessoas conhecidas fizeram, todo mundo na tevê fazia, eu quis fazer também. Antes de ir num salão, minha mãe toda disposta e corajosa resolveu tentar fazer escova em mim. Mas não tinha como dar certo: um secador super fraco, sem força e pouco calor, uma escova péssima: o resultado foi que a escova enroscou na mecha de um jeito, que teve que cortar. Eu detestava tanto meu cabelo naquela altura, que pedi pra ela cortar logo, não fiquei com dó nem nada. Eu ia prender mesmo. Tem outras coisas envolvidas, porque a gente não nasce detestando o próprio cabelo. Mas eu me detestava por completo, Então esse dia não foi bem um trauma. Aos 11 anos, uma prima resolveu me presentear com a tal “ escova progressiva”. Ela e todas as filhas, irmãs, sobrinhas ( cacheadíssimas na época) fizeram, estavam satisfeitas e na minha opinião e de todos da família, mais bonitas. Fui, sem fazer ideia do que realmente estava fazendo. No dia, com a escova a chapinha e tudo, ficou lindo. Lembro até hoje de chegar na escola mesmo com o cabelo preso, e ser elogiada pela maioria dos colegas que antes riam do meu cabelo. Lembro também que mais pessoas passaram a “ andar comigo”. Foi aí que me dei conta de que cabelo era mais importante do que eu pensava. Depois, ganhei todo o equipamento necessário pra fazer as escovas em casa. Aprendi nem sei como. Fazia touca, hidratação, chapinha, tudo que eu via sobre. O problema é que a tal progressiva era cara e eu não pude fazer a manutenção. Continuei um tempo escovando em casa, mas não ficava igual, então parei. Adotei a rotina de acordar cedo, lavar o cabelo todo dia, passar creme, puxar ele bem pra trás e alternar entre coró e trança -meu cabelo era bem comprido na época- dava muito trabalho sair com cara de quem não fez nada rs. Permaneci com esse visual que na verdade não era nada se não um apagamento próprio, dos 12 até quase 16 anos.
Aos 16, o boom da progressiva inteligente. Eu passo num concurso público pra estagiária. Tinha uma sinusite terrível até então. Volto pra escova, ganho de novo uma progressiva. Usei cabelo liso e comprido um tempão. Fiz a famosa “ franjona” que era meu sonho e tava na moda haha. Depois que me adaptei totalmente a fazer escova sozinha e cuidar mais ou menos dele, resolvi cortar curto. Outro sonho, que na minha cabeça, jamais realizaria de cabelo cacheado. Cortei antes de fazer a química. Ficou do jeito que eu queria. Mas a escova inteligente tava marcada pra dois dias depois.
E minha surpresa foi enorme quando saindo do salão, vi que meu cabelo estava liso sim, mas sem volume algum, e o corte tinha perdido toda a graça. Permaneci nesse corte e escova até quase os 18.
O estágio acabou, o dinheiro também. Voltei pros cachos presos, dessa vez com franja lisa ( não sei por quê a gente passa por essa fase) Ganhei de presente uns relaxamentos na raiz. E seguia minha vida de “ menos volume, mais bonito. Menos volume, menos trabalho”.  Foi depois dos 19, já sem condições de alisar só a franja, mas com o cabelo afetado sim pelas químicas que passei a usar mais ele solto. Era uma época com mais referências. Mas quando as via, pensava duas coisas: meu cabelo não é IGUAL o dela- o que era um pensamento bem avançado pra época- e pra ter esse cabelo cacheado bonito eu precisava ser rica. Porque sim, os cremes eram caros, bem caros. Fiz relaxamento na raiz mais uma vez, no meu aniversário de 20. O cabelo ficou bonito? sim, porque tinha mais ondas do que antes. Mas não era eu,eu sabia,e era o que eu queria também. Foi só um ano depois, quando praticamente toda a química já estava na ponta dele, que eu comecei a tentar usar ele cacheado. Eu não sabia por onde começar, só sabia que ficava inexplicavelmente feliz quando fazia hidratação. Parti desse princípio e comecei a tentar. Passei a pesquisar no youtube, e numa linda tarde descobri aRayza Nicácio , ensinando a fazer gel de linhaça pra dar definição e brilho. Não é exagero algum dizer que ali minha vida mudou. Comecei a testar e ver os videos dela. Eu sabia que meu cabelo não era exatamente igual, mas era um começo, e eu me empenhava pra usar ele solto.
Até que um dia, num culto em casa, um amigo da minha mãe que é cabeleireiro mexeu no meu cabelo sem falar nada. Eu perguntei pra ele o que poderia fazer pra cuidar dele melhor, e ele só disse: vai no salão dia tal, eu arrumo ele pra você  Eu fui. Morrendo de medo, curiosidade, expectativa. Sabia que ele era muito bom e muito criativo, mas e o medo dele alisar meu cabelo de novo?  Então foi a unica coisa que eu pedi : pode fazer o que quiser, mas mantenha os cachos por favor. Enquanto eu andava em direção a cadeira, ele segurou meu cabelo que estava mais ou menos no meio das costas e cortou na altura dos ombros, de uma vez. Foi um susto tão grande que eu não reagi. Ele só disse: se eu perguntasse você não ia deixar - eu não ia mesmo- tinha certeza absoluta que por sendo alta e gorda jamais poderia cortar o cabelo numa altura daquelas.Ele ficou mais um bom tempo mexendo no meu cabelo: lava, corta mais, passa creme, corta mais. E foi cortando por horas ( sério, enquanto conversava, haha minha transição foi chocante e terapêutica). Quando olhei no espelho levei um super susto...não sabia o que dizer.
Tava lindo? Tava. Mas a primeira coisa que eu pensei foi: não dá pra prender :o Depois eu olhava e falava: gente, mas sou eu? Eu não sou assim, tão moderna e descolada, chic também...ficou com uma cara de uma pessoa confiante, arrumada..quem é essa? Eu acordei no outro dia e ele ainda tava lindo. E mega volumoso. E não dava pra prender. Eu olhava no espelho e repetia pra mim o tempo todo: tá armado, mas tá lindo! Eu ficava com uma cara arrumada o tempo todo e isso me incomodava bastante. As pessoas olhavam e desconhecidos elogiavam. Fui ganhando tanta confiança que mesmo nos dias que ele não tava muito arrumado eu saía toda feliz. No fim daquele ano mudei pra Campo Mourão. Os cachos já estavam em alta em SP mas aqui não. Então a galera olhava mesmo quando eu passava, com uma cara de quem nunca viu. Todo mundo sabia que eu não era daqui hahahah e isso foi fazendo eu amar ainda mais meu cabelo, pois sempre gostei de " causar" sendo diferente. A novela foi manter : ele foi crescendo e perdendo o volume, e aqui é muito quente a maior parte do ano. Resolvi cortar de novo. Mas não é todo bom cabeleireiro que sabe cortar cachos. A maioria não queria arriscar, porque não tinham experiência.Passei a cortar ele só quando ia pra SP, nas férias ou na semana do saco cheio.  
E desde então uso ele sempre cacheado. Sempre. passei pela fase da ditadura dos cachos perfeitos? Sim. Eu cuidava, cortava , hidratava,  fazia de tudo pra ele ficar impecável , com volume, definição e brilho. Claaaaro que isso não acontecia sempre, mesmo que eu me esforçasse muito.Graças a Deus cacheadas lindas e inspiradoras começaram a falar sobre esse assunto. Mostrar seus cabelos  em dias “ reais” : com frizz, ou menos volume do que nos vídeos. Muita gente passou a falar sobre isso , a pressão que essa ideia estava exercendo sobre nós, o apelo ao consumo. E aos poucos a vida foi se equilibrando, e fui aprendendo a amar, aceitar e respeitar meu cabelo mesmo quando ele não está do jeito que eu gostaria.
Hoje to numa fase nova. Pintei - coisa que eu sempre quis- e to tentando deixar ele crescer - tipo um desafio pessoal. Particularmente prefiro curto, é mais prático e mais moderno, me sinto muito eu com ele curto, mas resolvi tentar. Busquei referências que eu me identificasse, e achei a Carla Lemos Diva. Estamos nesse projeto aí, que até agora é o mais difícil de todos. Também cortei as pontas sozinha - uhul, me segurem- pra fazer a manutenção e deixar ele crescer mais saudável. E foi uma experiência a parte, porque apesar de ter seguido dicas do Youtube, na prática, percebei que conhecer meu cabelo foi mais importante do que ter coragem de tentar. Porque EU sabia onde ele é mais fino, ou pesa mais, e por aí vai.
Tá, mas por quê eu contei aqui mil e um detalhes da minha vida capilar? ( e não foi nem metade, acredite). Porque por mais simples que pareça, aceitar e aprender a gostar do próprio cabelo é uma coisa pra além da estética. Vejo vários perfis no insta, e pins com frases do tipo “ meu cabelo é um ato de resistência”, “ ele tá armado contra o seu preconceito” e coisas assim,  muito legais que te jogam lá pra cima, com uma vibe empoderada muito boa. Cabelo cacheado/ crespo tá em alta? Tá. Tem uma galera aproveitando isso pra lançar milhares de linhas de tratamento e cuidados? Siiim, graças a Deus. E é maravilhoso ter opções nesse sentido. Metade do sofrimento que passei na adolescência uma cacheada/crespa hoje não vai passar. Tem várias blogueyras muito inspiradoras na rede? UHUL, sim. graças a Deus tbm! pq representatividade importa e muito. Olhar e ter alguém pra se inspirar, pra se espelhar, é muito mais importante do que parece.
Mas essas coisas tem que ser meios, ferramentas. Conhecer o próprio cabelo, olhar pra ele com mais aceitação, é algo que só eu posso fazer, mesmo que me cerque de toda boa influência empoderadora possível. Nada nunca vai superar o você se conhecer. e tentar, e errar, e acertar. E descobrir que seu cabelo é parte de você.
Eu vivia tentando ser invisível fisicamente. Queria ser a diferente, a que chama a atenção por outras qualidades. Por conversar, por conhecer lugares e pessoas diversas, por alguma inteligência, coisas assim. Quando passei por aquela transição fulminante de tão radical e rápida que foi, fui profundamente confrontada nas minhas convicções a respeito de mim mesma.
Qual era o problema de andar com cara arrumada o tempo todo?  Por quê isso me incomodava tanto? Por que eu só sabia receber atenção pra características internas? O meu cabelo chamava atenção - muita inclusive- e aí? Por que ficar tão desconcertada com qualquer olhar ou elogio, mesmo que de parentes?
Todo o questionamento me ajudou a entender coisas sobre mim que estavam diretamente ligadas a forma como eu via, cuidava e mostrava meu cabelo.
Com o tempo descobri que eu gostava sim de chamar atenção com ele. Essa sensação de “ impactar” sempre me fascinou, e agora tinha um jeito. Me sentir mais confiante, mudou minha perspectiva e forma de encarar tantas outras coisas.
Hoje eu AMO meu cabelo. Não consigo manter uma rotina de cronograma capilar há um tempo. Não tenho e nem compro todos os cremes da moda. Não sou a louca da hidratação. Não deixo de fazer alguma coisa porque ele tá com frizz ou sem volume, ou sem definição. As vezes fico um pouco chateada, claro, porque sei do potencial dele hahaha. Mas procuro fazer o melhor com o que tenho, e o que posso, e ficar minimamente satisfeita.
Mas percebe como falar/mexer com cabelo envolve tantas outras coisas? Envolve auto respeito, auto aceitação, empoderamento e sororidade - -significado aqui-, e sim, mais liberdade.
E é isso que eu quero viver e transmitir. Que você que leu tudo isso aqui - ual!- seja cada dia mais livre.
Se a sua liberdade for assumir seu cabelo natural, ou alisado, branco ou colorido, raspado ou comprido, se joga! Vai com tudo mesmo, seja você, com toda a beleza e singularidade que só você pode ter.
Dicas que falei no começo do post:
Rayza Nicácio ,Coisas de uma cacheada , CacheiaModices- Carla Lemos ,Steffany BorgesApenas Ana, e milhares de outros. Sério, esses são os que mais assisti ou li ;)