terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Não conte comigo.

 “ Não conte comigo”.

To com essa frase entalada na garganta, explodindo na cabeça desde de manhã; e agora, que finalmente parei pra deixar ela sair, as outras que estavam enroladas junto, desapareceram no ar.

 São 23:16. Mas vou continuar. Pq a tendencia é elas voltarem, conforme percebem que aqui e agora é a hora mesmo de despejar e saírem livres.

 Não, não conte comigo.

Pra nada no momento.

Nada mesmo. É isso.

Nem eu podia contar.

É verdade. Eu não sabia. Então vivia por aí, me colocando à disposição pra toda e qualquer pessoa, sem escrúpulos, sem medo de errar, só soltando tão frequentemente, que virou um automaticamente:

“qualquer coisa só chamar tá? To por aqui. Se precisar. Tmj. Conta comigo”

Era sincero. Eu ia dizer que não fazia ideia do que estava fazendo...mas eu fazia sim. Os tempos eram outros. E principalmente eu, era outra. tão outra, que quase não me reconheço hoje.

Ou finalmente estou me conhecendo?

Nessa vontade de ficar mais quieta. De não puxar conversa. Aliás, de responder depois também. De mudar de número, e não passar pra quem tem ele hj.

De deslogar das redes. De não sair, a menos que seja extremamente necessário.  De não querer interagir com tudo e todos a qualquer custo. 

De não prestar contas ou explicar tudo que estou ou não fazendo. De deixar muita coisa pra lá. De só falar mesmo com quem tá na minha frente.

 Ok, tem exageros aí. Mas antes tbm tinha. Então to nesse “ in-between” até chegar num ponto mais equilibrado eu acho.

 Verdade é que me esforcei demais. Cansei demais. Pra investir em coisas e relacionamentos que passaram. E aqui não to dizendo que eram ruins. Pelo menos, não todos. Mas passaram.

 Eu mudei tbm. Tenho certeza. Estou mudando. Amém.

Me irrito profundamente com pessoas que surgem do nada, só pra pedir algo...

Sério? Gente, misericórdia...

Se Deus quiser me usar de alguma forma, pode ter certeza, Ele fala. Na boa.

Ah, era isso que eu queria falar: não conta comigo. Pq nem eu posso contar.

Soa dramático né? Pois é.

Mas não posso.

Não podia pelo menos. To tentando entender isso aí.

Mas não precisa ir longe pra perceber que não posso.

Lembro daquela carta da noite das Meninas. E só de lembrar já me da vontade de chorar.

Pq não, eu nunca escreveria aquilo pra mim mesma. Mas se eu ler, consigo ver verdade naquilo...só que é estranho, e dolorido perceber que não vejo aquilo sozinha.

 Não posso contar comigo, pra me cuidar. Eu canso. Eu dou desculpas. Eu sempre acho algo mais importante.

Não posso contar comigo pra orar por mim. Pra buscar. Pra ter uma disciplina mínima. Pra me exercitar. Pra mudar hábitos. Pra dormir direito. Pra ler. Pra estudar. Pra trabalhar. Pra distrair. Pra me levar menos a sério. Pra sonhar e entregar.

Não posso.

E quer saber? É isso mesmo.

Eu não dou conta. Do mínimo.

 Pq eu não posso contar comigo, nem mesmo pra respirar sozinha.

 Eu preciso de alguém.

Eu preciso de alguém confiável. Forte. Poderoso. Que interceda. Que permaneça; que não mude. 

Que cuide. Que cure. Que ensine. Que dê descanso, força, e atenção. 

Que dê graça, sabedoria, e esperança. 

Que me faça rir. E chorar. 

E console. 

E abrace.

Que seja provisão . E paz.

 Eu não posso contar comigo pra absolutamente nenhuma dessas coisas.

E por um bom tempo, eu lutava e achava que eu tinha que conseguir.

Não, eu não tenho.

E na boa, eu não preciso de nada disso.

Pq na verdade, eu preciso muito, totalmente, completamente, é Dele.

Daquele que é tudo. Em todos. E que eu posso contar.

Então é isso : Não tenho respostas, não sou resposta. Ele é.

Não vou salvar ninguém. Nem eu mesma. Ele salva.

Não vou mudar o mundo, e trazer o reino. Ele vai.

Não vou curar, servir , ou mesmo amar ninguém, se Ele não o fizer através de mim.

Não vou ajudar, consertar, mudar. Mas Ele vai.

Ele é. ele está. Ele foi, ele sempre será.

É com Ele, que sinceramente, eu, e se vc quiser, vc tbm pode contar.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

1 ano

Já faz 1 ano. Parece que foi ontem que a sra estava aqui.

Só faz 1 ano. Parece que esse vazio e essa dor imensas estão aqui desde sempre.

Já faz 1 ano, e eu continuo sonhando com a sra viva, rindo e falando: lembra quando vocês pensaram que eu morri?

Só faz 1 ano que a sra não está mais aqui. E eu ainda falo “ minhas tias” como se estivesse. Como se ao chegar em SP eu ainda pudesse ir na sua casa pra no mínimo tomar um chá e desabafar.

Já faz 1 ano que me vi levantando de madrugada no meu turno do clamor pra orar e até dançar com todas as minhas forças.

Só faz 1 ano que não restam muitas palavras, ou forças pra fazer muito menos que isso.

Já faz 1 ano que comemorar qualquer data especial se tornou uma mistura de uma forma de te honrar, parte do seu legado com a falta absurda que a sra faz.

Só faz 1 ano que essa falta parece preencher tudo, espaços, sons, e é uma falta tão absurda que faz parecer muito mais.

Aliás, já faz 1 ano que tudo perdeu a cor e o brilho. Sério. Até as flores, os pássaros, até o mar. Tudo que você olhava e dizia “ Meu Pai que fez”. Consigo ouvir você me dando bronca se me visse falando isso. Você diria “ quê isso Gabriela, tá maluca?”

Só faz 1 ano que tudo ficou meio opaco. O som distante. Parecendo aquelas cenas de filmes que mostram algo do “passado”.

Já fa 1 ano que cada um tem tentando se reinventar.

Já faz 1 ano que quase nada parece realmente importar.

Porque na verdade, 1 ano é tempo.

Mas passou tão rápido! Como eu queria nem pensar nesse dia, e aqui estamos.

E já foi. Mas dói. Como todos os outros. Como em ondas.

Na verdade, 1 ano é tempo.

E passou tão devagar! Principalmente aquelas horas que pra acordar, a primeira coisa a pensar era:  foi só um pesadelo, um dos piores, mas não é possível, é só um terrível pesadelo. E não era.

Como eu queria não acordar com essa ideia de que tem tanta coisa pra enfrentar.

Enfrentar mesmo por enquanto. Porque por enquanto, o luto ainda é luta que se faz presente, de tantas formas, com tanta intensidade.

Maioria lágrimas sim, mas muitas vezes raiva. Algumas vezes, risos dos momentos engraçados que foram muitos graças a Deus.

O que nunca muda é o vazio; esse vazio gigantesco que parece ter colocado tudo em outra perspectiva. Sabe aquelas cenas que o som fica distante, as cores opacas e pouco foco?

Foi assim esse 1 ano.

Mesmo com 1000 coisas acontecendo. Tudo parecia desfocado. Deslocado. Tudo fora do lugar.

E você não está mais aqui pra organizar, arrumar, transformar, embelezar, ensinar, alegrar.

Mas a gente tá. E tentando se ajustar. Nesse “ por equanto”, que as vezes dói pra valer e a impressão que dá, é que é eterno.

Mas eterna é você tia. O choro não. A dor não. A falta não.

Eterna é você, que na vida e na morte continua me fazendo olhar pra Jesus, olhar pro céu, e querer mais que tudo estar com Ele. Aqui e eternamente.

 Já faz 1 ano, só faz 1 ano. Saudades que não são eternas, mas são enormes.

É isso. Te amo sempre.

 

 

domingo, 13 de junho de 2021

Chamado pra parar

 

Quando Deus me chamou pra parar...

Pera! “Como assim??? Deus CHAMOU alguém, pra PARAR? Isso é um absurdo. Ridículo. Não, Ele não te chamou pra parar! Você que não ouviu antes, e não parava quando devia, daí teve que parar de uma vez!”- pensou algo do tipo? Eu sim. Vááárias vezes.

Eu disse isso pra mim mesma muitas vezes. E faz sentido. Porque de fato, o impulso obstinado de "não parar nunca", era meu. Eu sabia do sábado. Do descanso, que isso é princípio e tudo mais. Então me autoenganava com paradas físicas, rápidas, aparentemente estratégicas, superficiais. 

Enganava eu mesma, mas só eu mesma.

 O problema dessa ideia, de que eu que não ouvi antes, é que se a minha desobediência que me guiou o tempo todo, o que me parou foi o desgaste. Ou o fim da linha. E é impossível não me sentir extremamente culpada olhando isso. Esmagadoramente. A sensação de “ até quando eu acho que to fazendo tudo certo, to fazendo errado.”

 E não vou tirar todos os méritos dessas questões. Faz muito sentido. Eu tenho parte/responsabilidade sim, na obstinação desobediente de não parar.

  Mas eu caio num outro extremo quando começo a enxergar esse ponto como verdade absoluta : quem fez tudo foi eu.

  Eu fui. Eu caguei com td. Eu errei. Eu tive que parar. Porque sou um desastre, não ia dar outra. Óbvio né Gabriela, quer salvar o mundo, abraçar o mundo com as pernas, fazer tudo, porque “ quem sabe o bem que deve fazer e não faz comete pecado”, quer agradar td mundo, evitar conflitos, não sabe dizer não, só vai mesmo.

   Péssimo tudo isso né? Pois é.

 Mas tem outro lado: não fui eu que fiz tudo. Eu jamais poderia ter feito tudo, porque teve muita coisa BOA e SOBRENATURAL nesse tempo. Não, não foi eu. Minha cabeça não chegaria a tanto. Por mais imaginativa que seja. E péra essas coisas não estavam escondidas? E não é aquela parada de “ todas as coisas cooperam pro bem dos que amam a Deus?” e Ele se faz forte na nossa fraqueza, e tantas coisas, que gente, TÁ ESCRITO, deixam muito claro que andar com Deus NÃO SIGNIFICA QUE A GENTE VAI ACERTAR SEMPRE?

  Meu Deus, pera.

Daí hoje esse relance de “ Deus me chamou pra parar”.

Eu ouvi? Não. E nem to querendo colocar a culpa Nele pelo que eu fiz de errado, porque certamente errei, e não foi pouco. Mas Ele me guiou mesmo nos meus erros.

E sabe , eu ainda to lidando e me livrando da culpa de pensar que esse parar veio como consequência, ou castigo do que fiz de errado.

  Cara, é muito poder pra mim. Não tenho não.

Hoje pela primeira vez percebi que tem muito mais  a ver com cuidado. E que mais até do que “Ele sabia” que eu pararia por um tempo, Ele queria!

Agora talvez vc esteja chocado. Eu fiquei. Como que parar é vontade de Deus? a troco de que? Num mundo desesperadamente doente, perdido, “ aguardando a manifestação dos filhos” quem sou eu pra ousar PARAR?

  Eu aprendi quando criança que a gente só descansa quando termina. CLARAMENTE nada está terminado

Mas quando terminar também, acaba tudo, percebe?

 Enfim, voltando: soa tudo muito bonito, toda essa história de não parar até Ele voltar, mas é horrível. A Bíblia por acaso pauta nossa vida em produtividade e eficiência? Não né?! 

 Obediência certamente. Por isso que Jesus lindo, sabendo que minha vida estava toda fundamentada nessas ideias do nosso tempo, me chamou pra parar. Porque obediência pra mim, é incontestável. Mesmo quando dói pra caramba.

E não vou mentir. Tá doendo demais. 2021 Maravilhosamente doloroso, é o que tem sido ( frase autoral da Yas maravilhosa, num dos feedbacks do Celeiro Missões).

 Dóí pq sou obrigada a reconhecer que sim, o mundo está daquele jeito, mas não sou eu quem o esta salvando. É Deus. 

 Dói pq sou obrigada a encarar não só quão minúscula eu realmente sou diante dessa tarefa, mas reconhecer q ela não é minha, portanto, não tenho controle sobre ela.

 Dói pq sou obrigada a reconhecer que muitas vezes, as coisas que eu oro e quero que aconteçam, vão acontecer na exata hora q eu não estiver. E eu não vou receber nada por isso. E mesmo falando que estou aqui pra servir, nessa hora o orgulho é moído, como quase nada nessa vida é capaz de fazer. Já sobe aquela voz maldita que diz : é, mas eu que tava lá, fazendo tal coisa, se não fosse eu no processo....” mano, ia acontecer. Eu sei que ia. E reconhecer tudo isso dói, embora tudo seja verdade, e sempre esteve aqui, na minha cara.

  É uma dose pesada e massacrante de autoconsciência. Não tem como esconder  quão fundamentada estou no fazer, na aprovação e validação que isso traz. Nos elogios, que no fim das contas, sustentam quem eu sou.

Tudo isso desaba. E fica só eu. E Deus. E isso é extremamente assustador.

Porque não tem fugas. Não tem disfarces. Não tem nada que eu faça pra impressionar Deus. Não posso dizer : olha Deus, fiz isso que você pediu, você gostou?

 Fica só eu ali. Parada. Doida pra fugir. Sério. Porque se eu não fugir, parece que não sobra muita coisa.

  Eu sempre digo que missionária é sobre ser antes de ir. Mas quando eu voltei, ou parei, ou fiquei, sei lá que verbo você escolhe pra esse momento x na minha vida agora, bom, a crise veio. E foi punk. Porque fui obrigada a admitir que condiciono toda essa questão de vocação e chamado com tarefas ou projetos.  

To em casa, não sou mais. To numa pausa.

  E a conversa segue : 

 Ah eu sou obediente....ok. e quando o pedido é parar? Sério, eu tento desobedecer all the time.

 Eu sou filha. Humm...vagal então. 30 anos nas costas, sem profissão, sem relacionamento, sem projetos..que vergonha... é filha não, filha daria orgulho aos pais né? Não tá rolando.

 Ninguém nunca me disse isso . Mas eu digo. E digo mais:

Ah mas sou sonhadora. Jura? Qual seu sonho agora?

Mano nem sei. Os últimos não deram certo. Ou tavam errados em algum ponto. Não sei por onde começar.

  Sou....alguém que está se descobrindo....(?)

Poético. Mas que derrota. 10 anos nesse negocio e você ainda não sabe?

Culpa, culpa , culpa. Vergonha, medo. Medo e vergonha.

Tudo mistura aqui. E fica esse caos. Que faz eu não querer parar.

Porque parando sou obrigada a encarar essas verdades. Coisas horríveis sobre mim. E se eu não mexer algo pra resolve-las, serei responsável . Uma vez que a ignorância é perdida, a responsabilidade É minha.

 Mas não sei resolver. É muito profundo. Não sei de onde vem. Dói, você não entende? Não mexe aí não!

Chega.

Vou fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Só preciso sair daqui. Vai que dá certo?

Percebe?

É por isso que Deus me chamou pra parar.

Pq se aproximar Dele, é se aproximar da Luz. E as trevas não podem prevalecer contra ela...

Meu Deus transforma em Luz as minhas trevas ( Sl 18:28)

E assim tem sido. Não é legal. Não é bonito. Não é interessante. Não dá vontade de compartilhar. Não da vontade de falar com ninguém na verdade. Dá vontade de chorar. Ou se fechar mesmo. De sumir, sem dúvida.

 Fiz isso. No proud.

 Tentei nas minhas forças também, consertar os erros. Pior besteira. Sozinha não dá.

Então to aqui. Quebrada? Sim. Mas incrivelmente grata, porque Ele me chamou pra parar. E ele só fez isso porque me ama demais pra me deixar seguir errando e batendo a cabeça a toa.

 Não é sobre isso.

É sobre ser como Jesus, que fazia o que via o Pai fazer.

Sobre realmente conhecer a Deus, deixar Ele me conhecer profundamente tbm...de forma a me transformar. E fazê-lo conhecido.

E no processo, ir, fazer, "transportar o que estou me tornando" nas palavras do Maycon Barroco.

 Parar não é erro. Não é acidente de percurso. Não é castigo.

Parar é necessário. É uma estação se a gente for ver bem certinho. Tipo o inverno, toda aquela parada de fortalecer a raiz.

Então gente, é isso. Se Deus te chamar pra parar, não vou te iludir não, vai doer.

 Mas pense como Ele é Perfeito de te dar esse tempo com Ele,e cuidar de vc...

É isso que tenho vivido. Tempo de cura e reestruturação. Amém Jesus!

 Mas é isso . Estar aqui, escrevendo isso é um passo importante e significativo antes e mais do que tudo, pra mim. Mas sei que estamos vivendo dias doidos. E talvez você se identifique em algum grau com essas questões. Então que você perceba mais do que " você não está sozinho", que Ele é Bom, te ama e não perdeu o controle!