sábado, 20 de dezembro de 2014

Desconstruindo castelos..

     Eu estava perplexa enquanto olhava aquele castelo.
  Definitivamente, não era um dos mais bonitos, ou maiores que já construí. Nem mesmo o que dediquei mais tempo. Mas ele insistia em permanecer ali, firme contra todas as circunstâncias.
   O máximo que eu conseguia produzir com minhas marretadas de raiva, eram lascas.
   Fiquei observando, e tentando me lembrar de alguma coisa, qualquer coisa que justificasse toda aquela resistência.
   Relembrei os passos de sua construção: nada de extraordinário; mantive basicamente os mesmos passos dos demais castelos. Se alguma coisa era diferente nesse, era simplesmente o fato de tê-lo construído mais rápido, e de forma mais simples que os anteriores.
  Eu tinha absoluta certeza que ISSO, tornaria sua demolição mais fácil.
 Não me entenda mal: não é que eu planejei construí-lo para depois derrubá-lo, como fazemos com castelos de cartas, ou fileiras de dominós. Eu apenas considerei a possibilidade, já que até hoje, esse é o destino de todos os que construí.
   Se for pensar bem, comecei como uma distração. Era pra ser "divertido", então evitei desgastes em todos os níveis, inclusive o desgaste com a escolha dos materiais utilizados, e dos cálculos. Queria termina-lo rápido.

   Possuía algumas pedrinhas, que guardei com cuidado e sem nada em mente. Apenas porque gostei delas, porque quando as recebi, me agradaram.
   Mas com o tempo, ( e nem demorou muito), recebi em quantidade suficiente para tentar construir mais uma vez, e resolvi tentar.
  O máximo que poderia acontecer era desconstruí-lo depois. E francamente, nisso eu parecia estar craque! 
  Mas desconsiderei uma questão muito básica enquanto gastava minhas horas transformando aquelas pedrinhas em castelo: mudei a forma e o tempo de construir, até mesmo a intenção, mas não mudei a qualidade do material.
 Aquelas pedrinhas, feitas de fatos, frases soltas e frases implícitas, além de olhares e sorrisos , misturadas com a areia da minha imaginação, e a água das minhas esperanças, em proporções adequadas, produziram material suficientemente forte para manter aquele castelo firme.
  Eu não prestei atenção nesse detalhe. Não observei as benditas proporções.

   E agora estou aqui. Tentei utilizar uma técnica menos violenta de início: deixar esse castelo se deteriorar, se desgastar com o tempo e com a indiferença. Afinal, ela corrói não é mesmo?
   Mas não foi suficiente, mesmo tendo destruído algumas partes dele.
 Quando percebi que não podia mais desfrutar e nem suportar esse castelo abandonado e frio, resolvi juntar raiva, toda raiva que pude , concentrar em marretadas, mas também não resolveu.
  Está disforme sim, mas esta lá, no espaço que não deveria ser ocupado com " distrações".
  A questão agora é que decidi demoli-lo. Não domino as técnicas para isso, mas uma coisa eu sei: ainda que a mistura de materiais tenha o fortalecido, não deixa de ser, essencialmente um castelo de ilusão. 
  Precisaria de mais pedras para ser indestrutível...e já que não é, não está construído no lugar certo.