sábado, 26 de fevereiro de 2022

Ídolos - Parte 1

O problema é o Covid.

O problema sempre foi a política.

O problema é a religião.

O problema é o egoísmo.

O problema é a desigualdade social.

A fome.

A depressão.

Ansiedade.

Pluralismo ideológico.

É a geração X, Y, Z. Millenials.

Não, o problema é a humanidade.

É ...o problema sem dúvida é a pandemia.

Quantas vezes me vi pensando ou falando sobre alguma dessas coisas, como quem parece mensurar o maior culpado, mais do que como alguém que quer realmente achar uma solução.

Noite dessas tava divagando sobre essas coisas. Mas tava pensando justamente o contrário, que o problema não é nada disso.

 Embora eu concorde que tudo isso são problemas, enormes. De fato.

Mas o real problema, sabe, aquele que a gente fala que “é mais embaixo” não é nenhum desses.

 Na real, o meu verdadeiro problema é mais óbvio, simples, terrível e mortal do que parece.

 O real problema poderia  até dizer : sou eu, mas sendo muito mais clara, o real problema é o pecado.

E não, não to falando de um tanto de regras de conduta. Não é disso que eu to falando.

 To falando do coração. 

 Não de pensar abobrinha, desejar o mau, cobiçar o que não se tem. Tudo isso é péssimo, mas é óbvio.  To falando das intenções do coração sabe?

Aquilo que me motiva a fazer o que faço, ou não fazer também.

Já parou pra pensar sobre elas? Se são autênticas? Puras?  Profundamente?

To falando de não parar nunca pra descansar, “porque tem que dar conta de tudo”.

To falando de nunca querer que ninguém tenha absolutamente nada contra você, não porque você realmente quer que todos de fato esteja bem, mas pelo simples fato de não querer que ninguém se indisponha com VOCÊ.

  Todas as estratégias politicamente corretas, aparentemente bonitas de não ser criticado, de evitar conflitos, de ser “ perfeito”.

  De pedir perdão não porque reconheceu que errou, mas porque quer continuar “ de boa” sabe?  To falando dessa performance.

 To falando de ser extremamente organizado e eficiente.

  Da autocobrança excessiva que não se permite errar, e se coloca numa gangorra absurda: hora num pedestal, hora na lama. 

 Da condescendência excessiva com os erros dos outros. Não porque realmente compreende, mas porque não esperava nada de ninguém mesmo.

 To falando do “ pode deixar comigo” quando isso não é pelo outro, não é pra servir de fato, mas é só mais uma das mil manifestações de um vício em controle.

To falando de se esconder. Se ali eu não posso, não vou nem aparecer. Timidez? Humildade? Não sou muito de aparecer? Não. To falando quando isso na verdade é puro Medo. E orgulho.

Ou medo e orgulho que te faz fazer tudo, tudo que todo mundo pede. Não importa. Afinal, eu preciso ser amado né? E se não fizer, não vou conseguir o que quero.

To falando desse fardo de tentar ser deus.

E não, isso não é só sobre personalidade, temperamento, trauma, genética, seja lá o nome que você quiser dar.

 Isso é o pecado. Que deturpa todas essas coisas. Que distorce a nossa natureza.

Porém, embora seja a corrupção e deturpação de todas as coisas, não é algo que eu posso terceirizar. Não é aleatório. Não é exterior a mim.

 Sou pecadora.

“ Mas todo mundo é, e daí?” sim, somos. Mas isso precisa ser reconhecido com a gravidade que merece.

Porque no geral, a gente costuma pensar no pecado como os 7 capitais. Ou como atitudes que ferem o outro principalmente.

Mas sabe, a real é que nosso coração é uma fábrica de ídolos : idolatramos o controle, a atenção do outro, o serviço. Confiamos e nos satisfazemos em coisas que são boas, mas se tornam alvos da nossa adoração. 

 Porque passamos a viver por elas e para elas. 

Porque nascemos pra adorar , e qualquer coisa pode ocupar esse lugar. Qualquer coisa.

  A gente sabe e crê que em Deus, a adoração é redimida. Redirecionada. E tudo em nós consequentemente também. Aleluia.

Mas então, por que eu continuo praticando o mal que eu não quero, e o bem que eu quero, isso eu não faço?

Porque  meu coração continua no fundo, amando ou confiando em algo ou alguém mais do que em Deus.  E isso é pecado. É a falta de confiança em quem Ele é e no que Ele diz. É aí que eu desobedeço. Porque não confio.

É a cobiça. Porque algo parece mais atraente aos meus olhos do que Ele. Do que a Beleza e Santidade Dele.

É querer algo que eu não tenho, não por sonho ou meta, porque isso é importante.

Mas pra satisfazer o vazio do meu coração, que se recusa a confiar que o que Ele é , é tudo que eu preciso.

É o sonho que me valida. Porque eu não consigo acreditar que o que Ele fez em mim, é verdadeiramente bom.

É a eterna ingratidão por ser como sou. Ele é bom e faz coisas boas, mas não aqui. Não. Ele errou. Ou eu errei. Não tem bondade aqui. Talvez castigo. Preciso consertar.

Ou pior...deixa, não tem jeito. Que tal me ocupar com tudo e todos. Externalizar as dores. Tirar o cisco no olho do irmão sem sequer perceber a viga no meu. E se perceber, bom, é melhor não deixar ninguém mexer. É muito pesado.

 Percebe?

Ninguém faria isso em sã consciência. Ou faria? Não sei.

Porque é mais fácil e menos dolorido lidar com o ídolo, que eu criei, do que com um Deus que não foi criado.

 Que é Soberano e Rei. E não vai lidar com meus problemas e questões na hora e do jeito que eu quiser, ou espero.

 Um Deus que não é domesticado. 

(continua)


Texto iniciado em 15/08/2021