quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Coragem e vulnerabilidade...


É. Se eu pudesse dar um conselho pra qualquer coração, não encontraria melhor do que esse ( C.S Lewis arrasa sempre).Essa imagem apareceu nas lembranças do face esses dias, e acabou confirmando algumas coisas que estavam em um dos meus rascunhos há algumas semanas.
  Me lembrei desse vídeo. 
 Ele me quebrou desde que o assisti.  Toda vez que assisto fico pensando na coragem desse cara.
  Sim, dele. Não de quem o abraçou. Porque o vídeo é curto, é simples, e mostra todos que corresponderam. Mas não mostra quantos lugares ele esteve, quantas horas permaneceu ali, de olhos vendados e braços abertos, completamente disposto e vulnerável a qualquer reação, inclusive às ruins.
  Eu não sou muito de abraçar, considero um gesto muito significativo pra desperdiçar a toa e com qualquer pessoa.Preciso sentir um mínimo de afeto e confiança pra ser capaz de abraçar alguém. Me julgue. Mas quando vi esse vídeo pensei: abraçaria sem pensar duas vezes. Abraçaria com certeza. A coragem dele desarma minhas proteções e desconfianças estúpidas, os medos.
 A vulnerabilidade incomoda porque confronta, vamos combinar. De alguma forma tácita aprendemos que ela é sinônimo de fraqueza – credo! Deus me livre!- e geralmente preferimos a fuga, qualquer fuga pra não nos sentirmos expostos. Pode doer, vai saber. Frustrar. Decepcionar. Machucar.
 Não acredito que seja errado se proteger. Mas já disse isso, e sempre lembro das palavras do meu sábio líder da ETED, Fernando “ A luta pela não dor, trava a vida”. Então, tudo depende da perspectiva de vida que temos.
A minha tem a ver com ser, e viver não só existir. Mudar, sentir, crescer, me transformar, compartilhar, transbordar, e tantos verbos nesse sentido.
 Percebi que as fugas não evitam as dores. Pelo contrário. O coração tá aí pra sentir mesmo. Pra mudar, se desenvolver. Se fechar pras coisas geralmente só torna tudo mais difícil, dramático e dolorido.
Porque as pancadas vêm de qualquer forma. Sempre imagino um coração fechado, como se tivesse uma casca em cima, que se parte e o perfura quando recebe as pancadas. E dói. Muito. O aberto? Dói também. Mas tenho a impressão que tem menos estilhaços, e frustrações. É mais fácil de curar também. Amém.
 No fim das contas, nos enganaram. Vulnerabilidade fortalece. É o que tenho dito por fé.
 Na mesma semana que vi esse vídeo, vi essa matéria, e não consegui deixar de relacionar as duas coisas:egocentrismo em fotos - hypeness

Olhar pra si é necessário, e essencial sem dúvida, pra encontrar essa coragem, essa força que existe na vulnerabilidade.
 “ Gosto de mim na medida que acredito na minha dignidade, quero me expandir conforme meu valor. E também segundo acho que vale a pena esse salto, esse crescimento, essa entrega. Depende da minha confiança.”- Lya Luft – Perdas e Ganhos p.35
Mas olhar só pra si mesmo pode se tornar um buraco sem fundo, que nos impede de ver o que está a nossa volta, e de minimamente aproveitar a vista.
 É verdade que o cara do vídeo tava lá de olho fechado. Mas isso não o impediu de vivenciar o máximo da experiência que se propôs.
 O carinha da tela tava de olhos abertos. E sua intenção era justamente mostrar que isso não é suficiente pra aproveitar o que estava a sua disposição.
Percebe? Coragem. Vale a pena o risco. Porque de tudo, se muitos passaram batido, muitos abraçaram o rapaz do vídeo. E tenho certeza que ele foi fortalecido, transformado, e acabou transbordando isso também.
 Enfim, o conselho é mais que tudo sempre um lembrete pra mim mesma: coragem, querido coração.


"Vulnerabilidade é assustadora, mas pura. Nela você pode encontrar bravura."

Créditos: matéria do site Hypeness
Imagens: tumblr
Vídeo: compartilharam no twitter hehehe

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Caminho no vento

Não era um daqueles dias lindos com cores fortes e paisagem bem delineada. Estava tudo esbranquiçado.
  Uma mistura de vento,  neblina, umidade, e aquela luz pálida de dias nublados sem nuvens.  Não tinha chuva, nem sol, embora tudo estivesse propício pra que qualquer um dos dois aparecesse e definisse logo pelo menos o clima daquele dia.
   Mas estava perfeito pra o que eu precisava.  Saí sem dar muitas explicações, vesti um casaco leve, prendi o cabelo .
 Fui andando firme e rápido, entrelacei meu casaco e cruzei os braços. Me protegendo do vento, de pessoas conhecidas, de novas descobertas, de qualquer coisa que me distraísse naquele caminho. 
 Queria um lugar onde pudesse encarar o vazio de frente, sem ser perturbada. Não precisava ser longe, ou completamente vazio. Apenas longe e vazio o suficiente pra estar ali, pra estar comigo, de frente pro vento, de frente pro horizonte.
  Uma praia seria o cenário perfeito. Poderia olhar praquele ponto invisível no horizonte, representando o ilimitado pra mim. Aquele ponto que não consigo definir em palavras, que começa onde o alcance da vista termina, e me diz “ tem mais lá”. Sabe aquela cena bonita, do céu e o mar?
 Mas faz anos que estou a muitos quilômetros de distância da praia, e perfeição não existe.
Então fui caminhando e olhando pro horizonte que estava na minha frente mesmo. Olhos apertados e secos. Pelo vento? Talvez.
Era exatamente isso que eu precisava, que eu queria. Sentir o vento plenamente. Com força. Queria que ele varresse mesmo tudo que não me pertencesse. Ao mesmo tempo, meus braços, mesmo que inconscientemente, tentavam proteger o que podia de mim mesma.
“ O vento pode levar”- eu pensava. Mas no fundo eu sabia que o que vivi, me pertence de qualquer forma. Nessa hora, afrouxava os braços. Mas não muito. Mania besta de se defender de coisas invisíveis.
 Ajeitava aqueles fios de cabelo teimosos que insistem em aceitar o convite do vento pra dançar na minha cara. Não gosto mais de prender o cabelo. Mudei. Mas sei que ele jamais permaneceria imóvel diante de qualquer estímulo externo. Uma brisa suave que fosse. No mínimo aproveitaria a liberdade que o vento oferece, intensamente. Teimoso como eu, sensível como eu.
 Não, hoje eu precisava prendê-lo, manter tudo que eu podia no lugar. Porque já estava bagunçada o suficiente e tinha muita coisa pra arrumar.
  Continuei  e fiz do espaço a minha frente o ponto invisível que representa o ilimitado.
É nesse lugar que encaro melhor minhas limitações. Quando as coloco de frente com o que não posso ver, com o que está além da compreensão, de frente com o que é mistério, mas também esperança.
 Ali. Ali também não tenho controle sobre absolutamente nada a minha volta. As coisas fluem naturalmente, do jeito que “ tem que ser”.
  Não sou necessária, nem rejeitada. É um espaço aberto, onde posso estar pura e simplesmente.
 Não preciso falar, explicar, questionar, chorar, rir, nada.  Embora possa fazer todas essas coisas se eu quiser. E  faço, interiormente. 
 Não sinto então a  necessidade de materializar qualquer pensamento que seja no som da minha voz, risada ou choro.
Estou sozinha. Uma olhada de relance e você pode achar que meu pensamento está longe, em qualquer lugar do Universo. Se olhar um pouco mais, vai notar que meus olhos estão secos sim, e apesar de apertados apenas para continuar enxergando, tem um aspecto de serenidade e determinação que não posso disfarçar.
 E no canto da boca, um meio sorriso que começa a se formar e eu não consigo controlar.

 Enquanto caminho -indo ou vindo, quem sabe?-  revisito os lugares necessários pra de certa forma, me reencontrar. 
 O sorriso ? É porque eu sei, que a qualquer hora, eu mesma, renovada e plena de mim mesma ,vou voltar. 

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Meninas

Você notou que esse ano, pela primeira vez foi comemorado/divulgado o Dia Internacional das Meninas ? Não? Eu notei. Você notou quantos vídeos, notícias, mobilizações, manifestos aconteceram ultimamente, não especificamente sobre mulheres, mas sobre MENINAS?
 Faz um tempão que penso em escrever sobre Meninas. Milhares de polêmicas se destacam, e somem da mídia, mas o nó na garganta não passa.
  Eu fico naquela esperança da poeira baixar, e me permitir escrever algo coerente, que não te leve ao desespero, nem banalize absolutamente nenhuma das lutas e dores que tenho visto, que não seja cheio de revolta ou tristeza.
 Mas não tem como. É como um grito, que tem ecoado por todo o mundo. Porque ser menina hoje, não é apenas " difícil ou complicado". É mortal. É se tornar alvo dos mais variados ataques físicos, psicológicos, sociais. 
  Li estarrecida esses dias um texto que colocava a frase " É menina", como uma das mais mortais que existem. Isso porque existem mais de 200 milhões de meninas que " desaparecem ao nascer". O texto fala de países distantes, como China e Índia. ( É menina - sentença que mata).
  Daí você pode falar da política do filho único, ou das religiões e crenças. Da pobreza, da cultura. Mas percebe que antes de todas essas coisas, existe uma ideia que diz que a vida de uma menina não vale absolutamente nada?
 Então se você ainda não percebeu que o mundo é um só, e que tudo que acontece nele te afeta de alguma forma, teve aquele outro vídeo, que foi muuito divulgado aqui :Pai, me ajude! Nasci menina. 
 É americano, verdade, mas mostra uma realidade mais próxima pra nós brasileiras que tivemos a sorte de conseguir nascer. Mas vamos ser honestos, ninguém sabe quanto tempo aguentaremos, pois seremos sistematicamente atacadas. Física e emocionalmente. 
 O que me lembra aquela tal pesquisa, que o Brasil é um dos piores paises da América Latina pra ser uma menina(um pouco da pesquisa aqui) 
  Sim, o índice de gravidez precoce e casamento infantil aqui é assustadoramente alto pra uma “ economia emergente”. 
Enquanto to aqui, escolhendo palavras pra descrever a urgência do que está acontecendo, a cada 7 segundos, uma menina, se casa no mundo. 
 Uma menina. Pode ter entre 7 a 15 anos. A idade média dos estupros é 13 anos. Meninas.
 Sem falar nas milhares que estão sendo vendidas, por serem a única esperança de sua família ter o que comer e sobreviver mais um dia. Ou as que estão sendo raptadas pelo Estado islâmico, ou Boko Haram.

 “ Bring back our girls”, “ Ni uma a menos” é familiar pra você? Meu primeiro assédio?
Todas campanhas que movimentaram as redes sociais. Que causaram choque, revolta, Deus permita, resultados.
 E então, surge essa palhaçada de “ escola de princesas”. Porque tem pessoas muito preocupadas com o comportamento das meninas atualmente.
 Quantas vezes você já não ouviu isso? Que “ as meninas hoje em dia” são isso, ou aquilo. São vulgares, mal educadas, não se respeitam, e por aí vai?
 As tragédias : da vítima do estupro coletivo, da Lucia Perez.
 Surge um pouco de esperança também , com aquela escola no Chile, de “ desprincesamento”. Lindo. Amém. Onde elas estão aprendendo a ser mais livres de todos esses condicionamentos terríveis que as pobres princesas estão aprendendo por aqui. 
  E tudo isso por que? Porque essa ideia simplesmente contamina tudo em todo lugar. A vida de uma menina não vale nada.
 Tem outras questões que aumentam a exclusão e a vulnerabilidade social, obviamente. Mas se você pensar bem, a vida de meninas " ricas" também não vale muito. O índice de tráfico humano também as atinge. Todo o esquema de padronização, de fazer com que elas sintam-se envergonhadas, insuficientes, feias, incapazes, que não queiram muita coisa além de serem bonitas e terem algum tipo de sucesso a qualquer preço, as atinge profundamente.
 É uma outra forma de assassinar. Mate os sonhos delas. Mate qualquer senso de dignidade intrínseca. Aniquile sua visão, limite suas possibilidades. Mate sua esperança. A alegria vai sumir junto, a qualquer momento.
  Mate seu coração, lentamente. Pronto. Você tem uma menina morta, cuja vida é pura aparência.
 Tenho a chance de conviver com algumas meninas no meu serviço, na igreja, em alguns lugares.
 Se você convive com alguma , provavelmente já viu aquele brilho nos olhos de quem tem toda a vida pela frente. Algumas querem realmente ser princesas. Outras modelos. Outras só querem poder estudar. Outras querem ser policiais, pilotas, marinheiras, tantas coisas!
  E a verdade é que hoje a gente não tem muito o que mostrar pra elas saberem que podem. Absolutamente tudo parece trabalhar para limitar, e matar mesmo, se não fisicamente, emocionalmente esse grupo específico.
 Mas calma, claro que tem esperança.
Você também já deve ter ouvido falar da Malala. Uma menina que mudou o mundo. Mudou porque mudou a perspectiva, mudou realidades, mostrou que ser menina, mesmo em circunstâncias muito difíceis, não é determinante para destruir um sonho, uma visão, um propósito. Vídeo lindo- meninas do mundo e Malala
  Então o que eu quero dizer com tudo isso, se você já leu até aqui e tá se perguntando aonde eu quero chegar com tanta tragédia:
Eu quero que você desperte pra responsabilidade, pra possibilidade que você tem quando convive com uma menina.
 Tudo está aí pra limitar. Pra dizer que não dá. Pra dizer que ela é um problema. Que não é suficiente. Que tem um papel determinado a cumprir. Que a vida dela não importa.
 Mas você, que sabe que tudo isso é mentira, e as consequências desastrosas que essas mentiras estão gerando, pode se levantar e dizer que dá sim, pra continuar. Que ela não é um problema. Que ela é o suficiente pra ser amada por ser quem é. Que o papel que ela tem a cumprir, é o que ela quiser. Que a vida dela é profundamente e indizivelmente importante, e por isso tem tanta coisa tentando convencê-la do contrário.
  Você pode dizer. Mostrar. Sorrir. Amar. Abraçar. Permitir. Perdoar. Respeitar.
Pra que essa menina, cresça com a força que o amor e a esperança podem proporcionar. E possa lutar pelas outras, que hoje ainda não conseguimos alcançar.
  As vezes a gente não sabe o que fazer, ou simplesmente não faz porque pensa que " não pode fazer nada". Mas quero te dizer, que podemos sim, fazer tudo
Podemos fazer qualquer coisa na verdade. E fazendo tudo que pudermos, mesmo que pareça pouco, bom, é muito melhor do que nada. Só precisa começar, não importa o lugar, nem quantas vamos alcançar.
 Porque a vida de cada menina que existe na face da terra importa sim.
 Pode ser o nome de um relatório : " Ate a última menina. Livres para viver. Livres para aprender. Livres de perigo".. Que seja também não apenas nosso sonho, mas nosso propósito. Amém.

Links se você se interessou pelas notícias:
Casamento Infantil- Carta Capital, dados da Save the Children
Meninas se sentem pressionadas com relação a aparência desde os 7 anos
* Dados do site da ONG Save the children, você pode ver mais aqui :Save the Children- about girls.



sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Palavra é...

Palavra é forma, expressão
É ambígua e exata,
é caminho e construção


É dúvida, possibilidade,
dificuldade, desconstrução.
É recomeço, novidade
palavra é poder, criação

Palavra é  substância, beleza.
Palavra é peso, e leveza.


Palavra é semente

é sol, chuva e vento.
É planta, flor, fruto
é completa e complemento





Palavra é espaço

é o universo.

É vida, é morte
é esse ser controverso


Palavra  é liberdade
palavra é movimento.
Palavra é eternidade
não se limita no tempo


A palavra é tudo ,
devidamente acompanhada
quando todo o resto é mudo

ela se transforma em nada.

O que é a palavra pra você?


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Voltar no tempo...

   “ O que você faria se pudesse voltar no tempo e reviver algum momento?”
  Já vi essa pergunta antes. Não foi naquela conversa descontraída? Ou naquela outra, totalmente nostálgica sobre lembranças de infância? Ah, acho que foi naquele filme que eu amo, e perdi a conta de quantas vezes assisti:. Questão de Tempo - trailler
 Naquele episódio de uma série, numa música. É, já vi essa pergunta, em todos esses lugares.
 Embora eu não tenha mudado a resposta, acabei pensando mais sobre minha relação com o tempo que nunca foi muito boa, e no que me faz não mudar de ideia todas as vezes que a respondo.
 Pra começar, não sei nem o que é o tempo exatamente. Deixo essa definição pros interessados. O que eu sei é que ele existe, e me parece valioso, incontrolável, contraditório.
Dizem por aí que o tempo cura qualquer coisa. Que resolve, que esclarece.
Dizem que se pudéssemos voltar no tempo, muita coisa poderia ser resolvida ou evitada.
Dizem que se soubéssemos quanto tempo ainda temos de vida, ou as pessoas que nos cercam,  valorizaríamos mais cada momento.
Dizem que se tivéssemos mais tempo, poderíamos ser ou fazer o que realmente gostaríamos.
Dizem, dizem, dizem.
 É mais fácil culpá-lo ou responsabilizá-lo por tudo. Ele que aparentemente nos limita, intimida e absolve diariamente.
  Mas tenho que falar que não concordo muito com isso. Não que eu tenha a melhor relação do mundo com ele. Não tenho. Nunca tive. Vivo tentando me acertar mais ou menos, pra convivermos em paz, já que somos obrigados.
 Apressada desde que me lembro ,“ não esperei nem pra nascer”- digo entre risadas.  Aquele eufemismo básico pra dizer que não sou eu quem sou impaciente. O tempo que se arrasta e não colabora com todos os meus planos.
  Mas quando preciso resolver algumas coisas, principalmente escolhas, ele se mostra tão curto, tão arredio! Parece escorrer entre os meus dedos, enquanto eu peço : calma, preciso de você pra decidir! E ele continua, parecendo escapar como o vento.
 “ A vida é tão curta como o dia é longo” diz aquela música Here's to you- Brooke Fraser, e é por aí mesmo.
 Não, não temos uma boa relação. Sem falar na minha perspectiva sonhadora, de quem tá quase sempre com os olhos e os pensamentos no tempo que ainda não chegou.
 O presente sempre foi uma dificuldade tremenda. Ansiedade vive me roubando a possibilidade dele se tornar uma boa lembrança. O que poderia ser um “ futuro passado bonito”, se torna um passado sem muita conexão com o futuro. Algo meio solto. 
 Não é fácil lidar com o tempo. 
 Ele desafia:  sempre podemos desistir ou continuar, mudar ou permanecer. 
  Ele confronta:  cada vez que temos que esperar. É desconfortável, mas nos faz ver o que realmente queremos, o que realmente vale a pena pra nós.
 Ele revela o valor que damos as pessoas e as coisas, pois investir tempo em algo ou alguém, é investir algo precioso que nunca mais teremos de volta. 
 Tirando a ansiedade e toda carga que colocam em cima dele, as vezes consigo perceber que “ estamos juntos nessa”.
E aí a resposta que eu dei praquela pergunta se torna óbvia.

Não voltaria. Nenhum momento sequer”.
“ Nenhum? Nada que você tenha saudade, ou que tenha se arrependido?" 
 Mas não foi isso que eu respondi. Quem me conhece sabe. Sou formada de sonhos e saudades. Sinto-as plenamente, exageradamente as vezes. Mas nem por isso voltaria se pudesse.
 Talvez, mas apenas se pudesse ser como sou hoje. E isso mudaria tudo.
 Arrependimentos? Claro. Mas pra que voltar e desfazer os erros, ou algumas dores que parecem desnecessárias, se elas fazem parte da minha história
Seria como arrancar uma página de um livro, porque não gostei. Estúpido. Daí eu me dei conta que isso pode soar meio orgulhoso, mas no fundo não é. 
Eu odeio errar, odeio lidar com minhas falhas. Mas é lidando com elas que aprendo. Detesto sentir dor. Mas é com elas que me fortaleço. Tem momentos que a gente passa e não deseja nunca mais viver nada parecido, nem deseja pra ninguém? Tem. Mas sobrevivemos, e isso é incrível. Eles nos dão condições e perspectivas para enfrentar outras coisas, que não teríamos de outra forma.
 Então não, não " corrigiria" absolutamente nada.
 É pra frente que se anda, como dizem aqui em casa. É pra lá que eu to indo rs.
Posso ficar tentando reviver e recriar momentos bons, mas eles nunca mais serão os mesmos. “ Nada acontece duas vezes da mesma maneira”- Aslam diz, nas Crônicas de Nárnia.
 Posso continuar com fé que existirão outros. Esperança ta aí pra isso.
Percebi que pra chegar a essa resposta com convicção, não sou mais aquela menina medrosa que chorava por tudo e tinha pavor de fazer qualquer tipo de escolha, que sempre achava que o pior aconteceria.
 Continuo chorando bastante rsrs, e não curto muito ser obrigada a escolher ainda.
  Mas percebi que é preciso coragem pra assumir o que sinto, acredito ou quero. E que é preciso responsabilidade pra assumir minhas escolhas. 
Que é preciso força pra ter fé e confiar em Deus, e pra acreditar que seja lá o que acontecer, sempre vai ser o melhor. E que por mais que Ele direcione, mostre, conduza, sustente, as escolhas sempre caberão a mim.
  São esses sentimentos, crenças e vontades que assumi ( e que deixei de assumir também) que resultaram nas escolhas, ou na falta delas, que me transformaram e trouxeram até aqui.
  Me apressar não vai me fazer ir mais longe. Até porque a questão não é bem de espaço.
 Minha briga não é com o tempo. É com o que me rouba ele, e tenta me dar um controle sobre o que eu não tenho. Ansiedade, medo por exemplo.
  Não, eu não voltaria nenhum dia se pudesse. Pra que ter controle sobre o passado, se mal sei lidar com o mínimo controle que tenho do futuro?


 Não sei o que acontecerá amanhã ou daqui 10 anos. Mas certamente as escolhas que faço hoje, estarão lá pra me mostrar que o tempo todo, o que eu faço no e com o tempo que recebo, está sim em minhas mãos.



quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Eu, a tal resiliência, e um setembro amarelo

  Já faz um tempo que vejo, leio e ouço a palavra “ resiliência” por aí.
 Tenho certeza que isso não é apenas coincidência ou questão de moda.Faz total sentido que não só usemos a palavra, mas principalmente o que ela expressa em nossos dias.
 Pra falar disso, eu poderia abrir aqui qualquer assunto de qualquer noticiário de hoje. Veja lá, se não são situações que nos forçam a agir como diz a definição ali.
 Mas pra não te deixar ainda mais apavorada(o) com a vida, e pra manter minha perspectiva pessoal das coisas, escolhi  compartilhar um pouco da minha simples e limitada experiência de uns tempos pra cá.
 Faz dias que estava tentando escrever. Uma linha que fosse. Não saía nada. Tenho vários “ rascunhos” iniciados numa pasta do note, séries de textos que acabei não continuando, vários interesses e assuntos que poderia falar. Mas nesses dias nem toda a minha teimosia parecia surtir o menor efeito pra realizar minha vontade de escrever.
  Não era bem falta de inspiração, ou decisão, então resolvi me aventurar naquele espaço fértil e com incrível potencial para se tornar um labirinto dos questionamentos sabe?  Não é o melhor lugar pra encontrar respostas, mas é um começo.  E nesse caminho, encontrei algumas considerações:
 Uma delas, foi o cansaço (sem muitos detalhes, basta  que você saiba que esse pode ser físico ou mental, e esse é o pior deles. Voltando..)
   Não, cansaço não define. Eu estava exausta, como se estivesse o tempo todo fazendo um enorme esforço pra me manter no caminho das “ coisas novas” e de me “ reinventar”. Tem situações que exigem mais do que posicionamento, exigem enfrentamento (#vamofalar que isso é necessário mas desgastante).  
   Como escrever exige bastante coragem e honestidade e exige que eu mesma me enfrente, cheguei a conclusão de que o que eu precisava era de força. E fui deixando pra depois.
 (Aqui, vou chamar esses enfrentamentos e cansaço de pressão externa, logo esclareço mais o raciocínio)
  Simultaneamente, mesmo cansada, tava me sentindo uma pilha de caos, um tumulto absurdo, que não conseguia sequer verbalizar o que estava de fato sentindo e pensando, nem mesmo pra mim.
 Lá fui eu questionar, de novo. Ao perceber que a angústia só aumentava, resolvi mudar de estratégia: fazer todos os dias, pequenas coisas que me fazem bem, e o máximo possível delas. 
  Desde andar descalça na grama seca e ensolarada, até comprar um chocolate quando desse vontade. Até descobrir coisas e gostos novos também.Fazia efeito, mas pouco. Logo estava eu lá de novo, tentando escrever - quem sabe ajuda?
  A ideia mais forte e recorrente nessas horas é sumir, sem dúvida. Mas como o mundo não pára quando a gente sente que precisa, resolvi  carregar tudo como se fosse uma mochila pesada, esperar um belo dia em que as obrigações não parecessem tão urgentes, e só então lidar com tudo, mesmo que fosse uma coisa de cada vez. Porque eu sabia, que na hora que eu me dispusesse a entrar nessas questões mesmo, eu poderia travar, ou sei lá. E pensava que não existia pior hora do que agora.
  Fui tentando administrar. Até ver pessoas próximas de mim entrarem nesse processo de colapso, aparentemente “ do nada”.Foi aí que percebi que esse belo dia não existe, e que eu estava caminhando pra isso.
  A verdade era que as pressões internas e externas estavam tão fortes,  que enquanto as duas se mantinham assim, eu estava inteira. Mas bastava um desequilíbrio mínimo que fosse, pra eu explodir, por “ nada”.
  Obviamente minhas defesas estavam altíssimas, e nem percebi que pessoas que eu convivo estavam basicamente na mesma situação, ainda que por outros motivos.Todo mundo sofrendo, e sofrendo pra se manter de pé.
 Um verdadeiro caos. Eu não queria mais passar nenhum dia num ambiente assim, nem mesmo chegar a esse ponto de explodir  de qualquer forma.
 Mas minhas estratégias não estavam sendo muito eficientes. Baseei todas elas em mim mesma. Mania de não querer incomodar, de sempre deixar tudo  pra depois no que se refere a mim, de agir como se minhas dúvidas sempre fossem menos importantes, ou mais simples, me levou a isso. Ou o contrário: que são tão absurdas, que é injusto querer dividir com alguém. “ Não, ninguém merece passar por isso. Ninguém, exceto eu”. 
( Orgulho e teimosia não é uma combinação legal, vai por mim). 
 Mas voltando as pressões,  acredito que não fomos feitos pra isso, sinceramente.
 É estranho pensar em possíveis soluções. Porque se a gente eliminar pressões internas totalmente, a impressão que tenho é que nos tornamos vazios. E que a pressão externa que existe independente da nossa vontade,  pode então nos invadir ou nos aniquilar.
  Também não podemos ficar apenas cheios, sem nenhuma pressão interna. Tenho a impressão que um pouquinho de pressão interna, nos faz ter vontade de expandir, de superar limites.  Estar apenas cheio,  pode me levar ao conformismo e mediocridade.
Pode levar àquele estado que eu mais temo e abomino na vida, que é ser indiferente. (Dizem que o contrário do Amor é a Indiferença. Deus me livre disso!)
 Como lidar com tudo isso então?  Não acredito que existam
 fórmulas.Também acredito que é preciso procurar ajuda, mas isso é delicado, porque precisamos saber a quem pedir ( não vou entrar muito nesse aspecto hoje não. Basta dizer que busquei, encontrei em Deus, e estou aqui escrevendo rs).

Sem dúvida, a tal da resiliência é necessária. Eu nem conhecia a palavra, mas na necessidade a gente aprende o significado sem dicionários rs.
 Mas ela não é tudo. Ela é necessária pra sobreviver.
 Só que eu quero mais que isso.
 Claro que a forma como cada um enxerga a vida faz diferença nessas escolhas.  Cada um tem um ideal.
 Sei qual é o meu. Viver plenamente, com fé, amor, coragem e simplicidade , aparentemente exige tudo de mim. Mas eu tenho certeza que vale a pena. 
  E nesse “ setembro amarelo”, perto do fim já, queria te lembrar isso:
 Que a vida vale a pena, sempre. E só tem um jeito de descobrir e experimentar isso: continue tentando.
#keepcalm #keepgoing


quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Peças de um quebra cabeça....

 Ela estava sentada no chão, na direção da janela. 
Amava a luz do sol, e por isso compartilhava os momentos mais importantes com ela, o máximo que podia. 
 A luz inundava tudo com aquele brilho de esperança que as manhãs tem e dava ânimo! Mesmo diante daquele chão com alguns pedaços de um quebra cabeça montados, e outras tantas peças soltas. Eram muitas. Todos os dias ela sentava em algum lugar no chão, e tentava montar mais um pouco.
 Geralmente eram momentos tranquilos, tentando encaixar as peças que via, ou admirando com gratidão os pequenos pedaços montados. 
  Quando recebia peças novas, ficava profundamente animada. As vezes elas davam sentido há peças que estavam lá há anos. As vezes eram vislumbres de algo inédito, que nem imaginava fazer parte do quebra-cabeça.
  Mas não lembrava mais quanto tempo fazia que não recebia peças novas. E ultimamente, estava sempre tentando encaixar o que já estava lá. Tinha a impressão que tinha muitas, e que se estavam soltas ainda, provavelmente era só questão de olhar mais um pouco e encontrar seu lugar.
  O movimento das nuvens fazia a luz se alternar sobre as peças. Isso fez com que ela visse uma das últimas que recebeu.
 Ela estava próxima, e instantaneamente a pegou para observar melhor seus detalhes.
 Não conseguiu conter um sorriso enquanto olhava pra ela.
 Uma profunda gratidão, parecia acompanhar aquela peça particularmente, desde a primeira vez que a viu.
 E assim começou a pensar em como era antes de recebê-la. 
 Percebeu nitidamente que estava diante de um divisor de águas. Algumas peças eram assim, tão únicas e transformadoras, que era possível distinguir exatamente como eram as coisas antes e depois dela.
 Antes estava sempre ocupada com as peças que já possuía. Tentando encaixá-las, colocar em lugares diferentes, pra ver se davam mais certo. Sempre se movimentando, mas sempre esperando. Porque no fundo, sabia que estava faltando muitas. Enquanto esperava, se mantinha ocupada, o máximo que podia. Gravando os detalhes das peças soltas, mudando a perspectiva, fazendo qualquer coisa pra passar o tempo, numa mistura de ansiedade e as vezes animação que a deixavam sempre inquieta, e as vezes exausta.
 Na verdade percebeu que até ali, ela que dizia odiar esperar, estava cada dia mais plena desse estado e ansiosa por livrar-se dele. Preenchendo as horas com o que podia, tentando não pensar nas peças que faltavam, enquanto orava silenciosamente, no fundo de seu coração, todas as noites: "me ajude a encontrar as peças que faltam, e reconhece-las ao encontra-las. Amém".
 A verdade é que não esperava encontrar peças realmente novas. Tinha certeza que apareceriam complementos, quando aparecessem. Pedaços com cores que já conhecia.
Mas aquela peça? Ela era realmente nova. Completamente diferente. Ao mesmo tempo que trazia cores novas, parecia tão familiar! Ela deu uma nova perspectiva pro quadro todo. Era incrível e ao mesmo tempo, um pouco assustadora. Cada hora parecia se encaixar em algum lugar, com várias peças diferentes, mas ao mesmo tempo, ainda não tinha encaixado em nenhum espaço montado realmente.
  Desde que recebeu aquela peça, percebeu que se sentia mais em paz, e ao mesmo tempo mais corajosa. Mais livre pra tentar, e com uma nova força pra isso também.
  Era isso! Não era uma solução pronta. Solução a gente vai atrás, encontra, e se encontra também, no caminho.
  Era uma possibilidade. Que trazia um misto de alegria, paz, coragem, força, liberdade!
 O quebra cabeça continuava lá. Quantas peças faltam? Ela não sabe. Também não sabe a imagem final que vai se formar.
É uma loucura e uma aventura viver montando algo assim. Mas é o que ela faz, todos os dias.
E olhando aquela peça ,percebeu que embora a imagem não tenha mudado tanto assim, ela estava diferente.
 Antes ela era espera.  
 Hoje é esperança.


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Beleza - se sentir bem na própria pele

    Com certeza você já viu ou ouviu falar sobre empoderamento. Autoestima então, nem se fale. Assuntos tão comentados que geram até desconfiança pelo mau uso, mesmo sendo muito muito relevantes pra todas as pessoas.
 Confesso que faz muito tempo que penso em compartilhar algo aqui relacionado a esses temas. Mas duas coisas específicas me fizeram parar e perceber que já demorei demais pra escrever: uma experiência dos dias em SP ( calma, me aguentem só mais um pouquinho, já já viro a página rs) e  esse post do Think Olga, que parecia sincronizado com coisas que venho pensando há anos: Empoderamento e autoestima no Think Olga. 
 A experiência dos dias em SP, foi nada mais nada menos do que um convite surpreendente para ir ao desfile Fashion Weekend Plus Size Primavera/Verão 2017 ( obrigada Dani!). 
 Sabia que seria legal, mas tenho que admitir que não imaginava o quanto! 
 Eu já tinha sido uma daquelas meninas fascinadas pelo SP Fashion Week, que colecionava catálogos e fazia colagens com os encartes que vinham nas revistas ( isso com uns 8 anos). A moda das passarelas costumava me encantar, com toda aquela inovação e irreverência de roupas que ninguém usava na rua.Só que isso foi antes de eu perceber que era um mundo completamente excludente, limitado e rígido. Pra que eu pudesse estar nele, basicamente eu precisaria nascer de novo. Sempre fui maior que as meninas da minha idade. Mesmo antes de estar realmente acima do peso, sempre fui chamada e considerada gordinha. (Imagino que o diminutivo no final era pra soar bonitinho rs). Meu foco aqui definitivamente não é o que falavam. Até porque hoje penso que a questão não é essa, mesmo que sejam todas as pessoas que eu conheço.   O que acaba fazendo diferença é o que EU acredito. SE EU acato e acolho essas palavras como verdade ou não. Agora, claro que quando se é uma criança sem nenhuma roupa legal do seu tamanho, zoações constantes, e uma estima nula, que sempre se apoiou e foi construída a partir das palavras dos outros, minha visão era essa mesma : Sou gorda, e isso é péssimo. Isso é péssimo porque me impede de usar roupas normais, que dirá as legais. E mil outras desvantagens que passei a atribuir a essa certeza que aceitei de graça:  Ser gordo é feio, é ruim, é péssimo, é minha culpa, é coisa de gente preguiçosa, desleixada, e por aí vai ( o preconceito existe, e se multiplica disfarçado de preocupação com a saúde, quase sempre). Eu nem era tanto. Mas comparada ao padrão irreal não tinha espaço pra mim mesmo. Hoje não vou nem entrar no assunto da cor da pele ou cabelo. Basta dizer que quem quer me elogiar até hoje, diz que sou branca, que não sou gorda, e que meu cabelo é cacheado, mas é diferente (pelamor né? seria engraçado se não fosse tão comum esse pensamento).
  A minha relação com a moda se tornou conturbada, só um reflexo da minha relação comigo mesma. Usar roupa masculina e super larga foi a solução. Ainda mais porque eu queria demonstrar de qualquer forma que era totalmente contra o que se pregava por aí com relação aos corpos e roupas. Mas isso não me fazia menos frustrada comigo, porque ainda não conseguia me enxergar com clareza. Isso foi um processo. De quase 10.000 dias até agora rs, porque é basicamente o processo de toda a vida, e ainda não terminou. 
  Poderia inclusive escrever ou falar mil coisas sobre isso, mas vamos pular pra parte boa: graças a Deus, a história deu uma reviravolta gigantesca, e parte disso devo ao fato de ter começado a conhecer o mundo Plus Size ( já tinha uns 17 anos nessa época).
  Foi aí que comecei a entender:a questão não era ser. Era me ver bonita.E isso fez toda a diferença.
 Daí você pára de ler e pergunta: que tanto essa menina ta falando dela? Dos sentimentos, traumas e experiências limitadas? Te digo porquê: porque foi quando comecei a olhar pra construção da minha história, que comecei a me empoderar ;). E empoderada todas as outras áreas da vida mudaram, porque isso se estende, reflete, ecoa por aí em dimensões impressionantes. 
   
 Descobri de curiosa, os blogs  Grandes Mulheres e o Entre Topetes e Vinis, em 2010 mais ou menos. Comecei a ler, e tentar incluir na vida aquilo que eu via em todos os posts:  elas se amavam. Se sentiam bem na própria pele. E sabiam que ISSO é transformador. Elas inspiravam a mudar os questionamentos. Parar de perguntar: " Por que eu nasci assim, ou por que eu não emagreço, ou por que tenho tal característica ao invés daquela? "  e passar a fazer perguntas muito mais produtivas e coerentes : "Por que eu acho que é preciso ter isso ou ser aquilo pra me sentir bonita?, ou por que eu não gosto do que eu vejo?
 Porque na boa, eu detestava. Olhar no espelho? Não, obrigada. Comprar roupa? Que martírio. Nada serve. Até aí, já tinha feito milhares de regimes. Não digo todos, porque todo dia inventam um. O resultado era frustração e muitas vezes, mais quilos. 
 Claro que não mudou minha visão toda de uma vez. O complicado desses processos é que implicam necessariamente numa desconstrução primeiro. E isso dói, desestabiliza, é uma coisa muito doida e insegura. Mas é profundamente necessária pra quem quer mudar. E eu queria, como eu queria ! 
  Então eu vi essa bendita frase que me atingiu como uma bomba e desconstruiu tudo que eu tinha questionado até ali "Se sentir bem na própria pele." 
 Mesmo lendo as duas divas que super viviam isso, eu nunca tinha pensado que isso seria possível. Até porque, mesmo vendo uma luz no fim do túnel no mundo plus size, tinha outros aspectos em mim que ficavam de fora: cabelo e pele por exemplo. (É suuper mais recente toda a supervalorização de cachos. Até ontem ninguém sabia sequer mexer com eles. E a pele ainda é mais ou menos assim: ou você é branca ou negra. Mas quem é moreno? Pardo? Todos esses tons mestiços que são parte do povo brasileiro? Rende outros posts esses dois aspectos). 
  A questão é que isso é um problema, e claramente não era só meu. 
 O sistema mundial lucra horrores com nossa insegurança. Horrores mesmo. Em todos os sentidos. São indústrias e indústrias de bilhões de dólares, que geram outros milhares de problemas além da sua depressão, que já é ruim o suficiente. Elas se alimentam da criação de novos estereótipos. E como disse minha sábia mamys, sempre substituindo o anterior, por um completamente oposto. Justamente pra gerar maior consumo da nossa parte. A escravidão de mão de obra por exemplo, os problemas ambientais, só para citar assuntos que a gente nunca relaciona. Sem falar em transtornos alimentares, marcas e mais marcas de cosméticos, alimentos milagrosos, livros de auto-ajuda, e por aí vai.
 Percebe como uma mudança aparentemente "pequena" pode desencadear outras tantas urgentes? 
 Digo pequena pra você que ainda não percebeu o quanto isso é importante.
 Por isso fiz esse post que ficou milhões de vezes maior do que eu gostaria. Pra te incentivar a no mínimo, pensar sobre isso. 
  Campanha Dove pela Real BelezaStop the beauty madnessBonita Também“ são exemplos de vozes que tem se levantado pra mudar essa história. 
  No desfile, o que eu presenciei foi uma alegria contagiante, uma confiança transbordante, belezas que inspiravam. Foi inexplicavelmente emocionante estar ali. Não foi " só um desfile".  Pra mim é um desfile de lutas e conquistas. De histórias de pessoas reais que dão esperança pra mim e pra você que quer se olhar no espelho e se sentir bem na própria pele. Foi como respirar um ar puro da diversidade, depois de anos em lugares onde todo mundo quer ser igual, e parece se empenhar e conseguir fazer isso muito bem. Tenho a vantagem de sempre ter valorizado muito o que é diferente.  De forma exagerada até, talvez. Mas pra mim, sempre o que é bonito, melhor, interessante, rico em inspiração é o diferente. Mesmo nas minhas frustrações da vida com o q eu era eu me firmava nisso : pelo menos sou diferente! Hoje eu percebo o quanto  isso é o máximo. O quanto é libertador e poderoso ser você mesmo, com todas as riquezas e limitações. 
 É difícil acreditar nisso quando tudo que é valorizado e considerado bom é feito em larga escala. Ou pelo menos feito de forma suficiente a gerar imitação, padronização e adivinha só?  Consumo.  
 Mas posso dizer que nesse desfile eu me senti privilegiada. De ver que sim, todas as pessoas, de todos os “ tipos”, tem beleza pra mostrar. Todas. Mas é preciso primeiro enxergar. E depois que a gente consegue enxergar, transborda. Todo mundo vê. E toca as pessoas de forma diferente, é algo genuíno, livre. Inspira e traz esperança. Justamente por ser contrária a outra forma que gera morte, gera vida.  
 A beleza fabricada e condicionada por padrões gera competição, frustração. Oprime.
 Eu realmente valorizo a liberdade. Não aceito nem me conformo com essas formas de controle e opressão que nos matam diariamente. ( matam, não é exagero. Veja as estatísticas de gente que morre com transtornos alimentares, depressão, cirurgias estéticas loucas e desnecessárias, bullying que vira um suicídio). 
  Pra fechar com chave de ouro, além de todo empoderamento e alegria que contagiaram o evento,  conheci, conversei e tirei  foto com as duas lindas dos blogs que mudaram minha forma de ver  tanta coisa.  Se já não bastasse essa emoção, que quase me fez desmaiar,  Ju Romano, sim, ela mesma,  disse que “ amava meu cabelo”...eu quase chorei!
 Respondi qualquer coisa, fiquei sem palavras. Mas pensei “ hoje eu também amo.” 
 No fim das contas, o que eu quero dizer é: a moda dos cachos vai passar. A dos corpos magros, ou musculosos, ou curvilíneos, todas passam. O que vai ficar? 
 Eu, e você.  Porque seu cabelo é seu, não é moda. Sua cor é sua, não depende da moda. Seu tamanho, ou biotipo também é seu,  por mais que existam milhões de recursos pra mudar tudo isso. 

E claro :não somos apenas isso, aparência. Mas ela faz parte.
Só não se engane.  Auto estima e empoderamento são questões muito mais amplas do que estamos acostumados a pensar. É uma luta diária. Primeiro em nós mesmos. Porque só assim teremos condição para entrar e permanecer em lugares e situações desfavoráveis com convicção. 

 É uma luta que vale a pena. Todo esforço. 
 Como já dizia o slogan da Loreal, que soube usar um argumento profundamente verdadeiro : “ Porque você vale muito!"

Uma dica de música bonita sobre isso : Try- Colbie Caillat