terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Cadê minha identidade?

- Onde está sua identidade?

A pergunta caiu como uma bomba:

- “ Oi?”

- Sua identidade, o documento, sabe?

  - Ahhh!

  Abri a bolsa, a carteira bordada, mas não estava lá. Dei uma olhada nos bolsos internos, ‘vai que estava aqui o tempo todo, mas eu não vi?’ – pensei. 

Mas não estava. E eu sabia. Eu demorei uns dias pra perceber que não estava onde ‘sempre esteve’. E jurei que tinha se perdido dentro de uma das bolsas que sempre uso, provavelmente ficou em alguma troca. E fui deixando. Meses.

‘Vai aparecer quando eu der aquela geral de fim de ano nas minhas coisas’. Mas também não apareceu.

  O ano acabou, todas as bolsas e espaços possíveis foram verificados. Porque como diz minha mãe, ‘quando você não sabe onde está, pode estar em qualquer lugar’. Mas aparentemente, esse ‘qualquer lugar’ era literal e bem mais amplo.

 Só caiu a ficha mesmo que havia perdido depois do Natal, quando minha irmã disse:

- Você tem que fazer B.O e a segunda via, logo.   

 De fato. Ela provavelmente sumiu em outubro, se minhas impressões não estiverem erradas...pera...ele, o documento.

   Ou a identidade? Sabe que eu não sei?

‘ Me perdi na personagem’, - eu falei brincando.

 Não quis foto nesse início de ano, porque tinha essa sensação forte de estar ‘ perdida’ sobre mim mesma. Uma coisa é não me reconhecer por não me enxergar...e isso geralmente acontece, e se torna um processo muito interessante ver o ‘ que eu não consigo ver’ através dos olhos dela.

 Mas esse ano, o medo era não me reconhecer em nenhum momento. Parecia tudo meio ‘ embaçado’.

 E eu que sou dessas que mistura tudo mesmo, que nada é por acaso, e coisa e tal, já vi toda a sincronia da perda do documento com a perda da ‘identidade’. Por que afinal, onde ela estava, que pareceu se perder assim?

 Já quis fazer associações com Outubro, e situações dali em diante. Faz sentido? Se eu quiser sim, mas acho que foi antes.

 Não tenho clareza do momento. Mas percebo essas linhas difusas nesse processo doido de ‘ mudar e se descobrir, e reinventar’ enquanto caminho.  Mudar é extremamente necessário, e se tudo der certo e a gente não ‘ emperra’ na própria teimosia, é natural também.

 Mas percebo coisas que eram essenciais e foram ficando pra trás sendo retomadas e devolvidas de certa forma.

  Tentei fazer minha segunda via do documento online, fiz a foto em casa, do jeito que eu quis. Pensei : " finalmente uma 3x4 minimamente decente, diante das condições absurdas que a gente tem que seguir - onde já se viu, não sorrir?. 

 Mas não foi ‘ aceita’. E eu perdi um tempão ‘ esperando’ pra ver. Fui lá só pra checar. E não ‘ estava em andamento’. Mas se eu quisesse fazer na hora podia.

 Eu ri. Porque estava uns 40 graus. Eu estava suando, sem maquiagem, quase desisti.

 Mas quer saber?  Pra quê, ficar tentando ‘ montar’ uma pessoa ‘ apresentável?’ quem é ela?

Me perdi na personagem’, foi o que eu disse rindo  pra minha irmã enquanto recusava as fotos novas.

 A  pessoa do ' finja até se tornar’ sabe?

A pessoa ‘ apresentável’ é legal, faz parte de alguns momentos. Mas não é tudo. A que sai andando por aí pra fazer as coisas a pé porque tem medo de dirigir também faz parte.

 A ‘ teacher’ que costuma aparecer mega animada ou feliz pros alunos sem precisar fingir, porque de fato, ver gente, ter gente pra conversar, compartilhar, ouvir , ajudar, faz todo sentido , e é um privilégio pra mim. Mas a que termina a aula e se vê exausta no fim do dia e nunca entende o por quê, também.

 A que chora por ( quase) tudo , seja de rir, de alegria, de emoção, de tristeza ou de saudade. E também a que se 'esconde'.

   A que tem pavor de errar e acaba errando muito mais só por isso. 

   A que tem enxaqueca e fica arrasada quando a ‘ crise não passa’.

   A que pensa e planeja o dia como se ele tivesse 350 horas e eu tivesse toda energia do mundo pra fazer tudo que acho que ‘ tenho que fazer’.

   A que queria manter contato com Deus e o mundo e mal dá conta de responder mensagens simples de alunos.

  A que ama dar risada, ri a toa , alto e ainda por cima ‘errado’ – como diz minha mãe rs.

  A que ainda está se descobrindo em tantos aspectos, e tá amando os 30+ apesar de toda doideira que tem sido.

 A que hoje, tem convicção do chamado missionário. Da facilidade com aprendizado de idiomas, e de contação de histórias, e absoluta aversão a matemática e a dirigir, mesmo sabendo que ‘tudo é possível de aprender’ e que não vai dar pra ‘ empurrar’ isso pra sempre.

 A que é faladeira, curiosa, determinada, exagerada, dramática, ansiosa, feliz, agitada, paciente ( dizem).

 Que diz que não gosta de estereótipos mas viveu enfiada em um quase a vida toda, e quase morreu quando Deus começou a quebrar seus próprios moldes.

 Mas que não é só o que faz. O que mostra. O que tem de ruim, ou de bom.

 Que tá aprendendo todos os dias, a ser Filha.

E nesse ser filha inclui aí : discípula, amiga, noiva, casa.

  Onde está minha identidade? Nele. 

Fotos : arquivo pessoal

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Entre pensamentos de ansiedade e esperança ...

 Eu queria um texto ágil.

Não, na verdade, profundo.

E rápido.

Visceral?

Que palavra é melhor?

Hmm...não parece com essas...

Parece que não consigo lembrar...ou escolher? Não sei ao certo.

É tudo tão rápido!

A velocidade do pensamento nunca acompanhou a velocidade dos dedos ou da fala. 

 Sempre é muito mais rápida...sempre parece me atropelar e levar pra várias hipóteses, ruins na maioria das vezes. 

  E quando eu me dou conta já estou exausta, e quase sempre, arrasada.

‘ Desisto antes de tentar’, ‘ Morro antes do tiro’.

 A culpa cai como uma luva..não, uma luva se adequa. A culpa esmaga.

É um rolo compressor.

Porque no fim, é assim que o corpo responde: sem ar...o coração apertado, a mente gritando pra tentar sair desse ritmo frenético de milhares de pensamentos por segundo, todos ao mesmo tempo, todos aparentemente sem solução...todos caindo como enxurrada.

Tanto que as vezes escorre.

Sai derrubando tudo pela frente. E parece que não vai parar..que fonte é essa que só produz e não diminui essas lágrimas?

 As vezes não escorre mas explode, se manifesta de algum jeito.

 Não tem como ficar, não foi feito pra ficar.

 E não é poético. Não é bom. Não alivia o tanto que eu gostaria. 

 Porque cansa. Porque não dá pra saber muitas vezes o ‘ por quê’...fica tudo embaçado.

Afinal,  foram tantos ‘ porquês’ ignorados, deixados pra ‘ depois’ que eles se misturam e viraram uma coisa só. 

 O 'depois', sempre é uma hora inesperada. É uma gota que cai ali, e pronto.

E a gente fica sem ‘entender’ muitas vezes. Porque parecia 'tudo bem'. 

  E quase ninguém entende.

Digo ‘ quase’ porque alguns sabem do que eu to falando. Não devem ser poucos, é verdade.

 Mas poucos admitem, reconhecem, encaram de alguma forma.

 Eu levei anos. Tantos, que quando descobri o que era, fiquei : meu Deus, por quê não descobri isso antes? Quanto sofrimento e desgaste eu poderia ter evitado!

 Foi ‘ me ouvindo falar’, que percebi o absurdo: pra quê evitar a dor?

Se a ‘ luta pela ‘não dor’ trava a vida?

Quanta vida travada em tanto tempo!

Quanto tempo parado, em tanta vida pulsando aqui dentro!

Eu chorei dolorosamente. E me arrependi.

De ter vivido tanto e tudo só na minha mente.

Vivi? Não sei. Sofri, cansei? Com certeza.

 Me arrependi porque a vida ‘ não é ciência exata’. Me arrependi  porque a vida ‘ é uma engrenagem múltipla’, e eu passei muitos anos vivendo como se só uma fosse suficiente.

 Preguiça? Medo? Fuga da dor? Tudo junto, provavelmente.

E o mais trágico é que não evitei dor alguma. Elas chegam, não há planejamento e proteção no mundo que as evite plenamente.

 Qualquer armadura é fumaça, ilusão, dissolve no primeiro vento contrário.

  Hoje sei o nome. Aprendi que ‘ nomear as coisas faz com que elas existam’.

Eu amo as palavras. Elas dão nome. Elas fazem existir. E o que existe , geralmente é matéria prima pra transformar.

 Eu tenho TAG. Muita gente tem, eu sei.

Não é o fim do mundo, não é algo a se envergonhar, mas também não é justificativa e armadura pra comportamentos que não quero mais ter.

 Já quis procurar ‘ culpados’ – genética? Trauma de infância? não sei ...

Já quase caí na armadilha do ‘ e se eu soubesse’...

Mas isso é coisa dela. Não vale a pena.

O que vale é saber que ainda há vida , então ainda há esperança.

Hoje eu sei que estamos nessa aventura que é viver, juntas. Não é bem uma amiga, mas tá aqui, então vamos fazer o melhor que dá pra ser.

 Sei que tem dias que ela vai aparecer com mais força. E outros que não vou nem lembrar como era viver com 84.000 preocupações na mente, todas ao mesmo tempo.

 Hoje eu sei que a vida é ‘engrenagem múltipla’.

Eu via como ‘ uma coisa só’, meio uniforme, mas não é.

 Uma coisa afeta o todo? Sem dúvidas

Mas cuidar só de uma coisa não é suficiente para resolver todas as outras.

Dá trabalho. Exige coragem. De tentar. Enfrentar. Errar.

Sempre tive dificuldade de lidar com essas coisas. O peso da ansiedade parece deixar tudo, absolutamente tudo , maior.

O mundo acaba toda vez que algo dá errado. 

Quantas vezes meu mundo já acabou , e recomeçou? Milhares.

 Ainda colho frutos de ter ignorado as outras partes.

 Mas em todo caminho de recomeço, vejo a graça de Jesus me acompanhando no caminho de cura.

Cura porque  o ‘ fardo ‘ Dele , é leve. Porque como disse meu pastor domingo, "situações difíceis nos fazem crescer." 

 E Ele é um bom Pai, que quer me ver crescer.

 Que não vai fazer o que eu preciso fazer.

 Mas que está aqui, ajudando, conduzindo, deixando eu errar também, pra aprender.

 Mostrando que nunca foi falta de fé, e que pra Ele, tudo, tudo mesmo, pode ser redimido e transformado. Vai saber o que ainda pode ser ?

 "Entre pensamentos de ansiedade e esperança", encontro Graça - que é tudo o que eu preciso pra viver.