quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Escreva


Escreva.

 Não é bem uma voz, mas é como se fosse: calma, porém firme.
Não soa como sugestão, mas também não tem aquele tom incisivo meio rude que costumo associar com a maioria das ordens.

Escreva.

Assim que eu tiver tempo...tá muito corrido, não dá pra escrever assim, precisa de tempo”.

Escreva.

"Sem inspiração não sai nada, já cansei de tentar! Fica tudo horrível, não compensa..."

Escreva.

"Mas tenho tanta coisa pra falar, tanto assunto, tanta ideia, preciso organizar antes de tentar expressar....sério, tá uma bagunça aqui! Não vai fazer sentido..."

Escreva.

"Sobre o quê? Não tenho condições de falar sobre o que não conheço, não vi ou experimentei...é absurdo dar opiniões sobre coisas que só vi ou ouvi falar. Tem bastante por aí inclusive."

Escreva.

"Sobre mim? Mas já? Acho que tá muito cedo pra mexer em algumas coisas ainda, não dá. Preciso processar melhor. Além disso, quem vai querer ler?"

Escreva.

"Não sei por onde começar! Que que eu faço?"

Escreva.

 A insistência me desarmou por completo.
 Até porque as desculpas são esfarrapadas até pra mim, nunca me convenceram. Os motivos são legítimos, fazem sentido e são verdadeiros. Mas sempre soam pra mim como um remendo mal feito pra minha falta de coragem de me enfrentar, de enfrentar minhas limitações, de me expor novamente...
Mas ao mesmo tempo, é como disse Eugene Peterson “ você escreve porque há fogo em seus ossos. Você tem que fazer isso, se alguém ler ou não”.
É exatamente isso: algo que parece impulsionar e consumir...até que você simplesmente e finalmente escreve!
 E aqui cabem tantos propósitos, tantos sonhos, tantos lugares, tantas possibilidades...mas pra mim, escrever ainda é sobre compartilhar, mais do que qualquer outro verbo.
 É na escrita que compartilho sonhos, vivências, angústias, questionamentos, experiências, dificuldades, superações, possibilidades, transformações...
É quando escrevo que me torno mais vulnerável e também mais fortalecida.
 Aqui, nesse espaço de exposição sim, mas também de diálogo que melhor vivencio pedacinhos de eternidade. Vislumbres dela...quando a palavra flui da alma de forma livre, franca, com potenciais infinitos que só se concretizarão na recepção e resposta do outro.
 Parece absurdo, utópico, mas pra mim é isso. Era meu sonho de infância, e pra realizar, a gente tem mesmo é que lutar.

 Foi por isso e tantas coisas, que resolvi ouvir...e escrevi!