“ O que você faria se pudesse
voltar no tempo e reviver algum momento?”
Já vi essa pergunta antes. Não
foi naquela conversa descontraída? Ou naquela outra, totalmente nostálgica sobre
lembranças de infância? Ah, acho que foi naquele filme que eu amo, e perdi a
conta de quantas vezes assisti:. Questão de Tempo - trailler
Naquele episódio de uma série, numa música. É,
já vi essa pergunta, em todos esses lugares.
Embora eu não tenha mudado a resposta, acabei
pensando mais sobre minha relação com o tempo que nunca foi muito boa, e no que
me faz não mudar de ideia todas as vezes que a respondo.
Pra começar, não sei nem o que é o tempo
exatamente. Deixo essa definição pros interessados. O que eu sei é que ele existe,
e me parece valioso, incontrolável, contraditório.
Dizem por aí que o tempo cura
qualquer coisa. Que resolve, que esclarece.
Dizem que se pudéssemos voltar no
tempo, muita coisa poderia ser resolvida ou evitada.
Dizem que se soubéssemos quanto
tempo ainda temos de vida, ou as pessoas que nos cercam, valorizaríamos mais cada momento.
Dizem que se tivéssemos mais tempo,
poderíamos ser ou fazer o que realmente gostaríamos.
Dizem, dizem, dizem.
É mais fácil culpá-lo ou responsabilizá-lo por
tudo. Ele que aparentemente nos limita, intimida e absolve diariamente.
Mas tenho que falar que não concordo muito com isso. Não que eu tenha a melhor relação
do mundo com ele. Não tenho. Nunca tive. Vivo tentando me acertar mais ou
menos, pra convivermos em paz, já que somos obrigados.
Apressada desde que me lembro ,“ não esperei nem pra nascer”- digo entre
risadas. Aquele eufemismo básico pra dizer que não sou eu quem sou impaciente.
O tempo que se arrasta e não colabora com todos os meus planos.
Mas quando preciso resolver algumas coisas, principalmente escolhas, ele
se mostra tão curto, tão arredio! Parece escorrer entre os meus dedos, enquanto
eu peço : calma, preciso de você pra decidir! E ele continua, parecendo escapar como o
vento.
Não, não temos uma boa relação. Sem falar na
minha perspectiva sonhadora, de quem tá quase sempre com os olhos e os
pensamentos no tempo que ainda não chegou.
O presente sempre foi uma dificuldade
tremenda. Ansiedade vive me roubando a possibilidade dele se tornar uma boa
lembrança. O que poderia ser um “ futuro passado bonito”, se torna um passado
sem muita conexão com o futuro. Algo meio solto.
Não é fácil lidar com o tempo.
Ele desafia: sempre podemos desistir ou continuar, mudar ou permanecer.
Ele confronta: cada vez que temos que esperar. É desconfortável, mas nos faz ver o que realmente queremos, o que realmente vale a pena pra nós.
Ele revela o valor que damos as pessoas e as coisas, pois investir tempo em algo ou alguém, é investir algo precioso que nunca mais teremos de volta.
Tirando a
ansiedade e toda carga que colocam em cima dele, as vezes consigo perceber
que “ estamos juntos nessa”.
E aí a resposta que eu dei
praquela pergunta se torna óbvia.
“ Não voltaria. Nenhum momento
sequer”.
“ Nenhum? Nada que você tenha
saudade, ou que tenha se arrependido?"
Mas não foi isso que eu respondi. Quem me conhece sabe. Sou formada de
sonhos e saudades. Sinto-as plenamente, exageradamente as vezes. Mas nem por
isso voltaria se pudesse.
Talvez, mas apenas se pudesse ser como sou hoje. E isso mudaria tudo.
Arrependimentos? Claro. Mas pra que voltar e
desfazer os erros, ou algumas dores que parecem desnecessárias, se elas fazem
parte da minha história?
Seria como arrancar uma página de um livro,
porque não gostei. Estúpido. Daí eu me dei conta que isso pode soar meio
orgulhoso, mas no fundo não é.
Eu odeio errar, odeio lidar com minhas falhas. Mas é lidando com elas que aprendo.
Detesto sentir dor. Mas é com elas que me fortaleço. Tem momentos que a gente
passa e não deseja nunca mais viver nada parecido, nem deseja pra ninguém? Tem.
Mas sobrevivemos, e isso é incrível. Eles nos dão condições e perspectivas para
enfrentar outras coisas, que não teríamos de outra forma.
Então não, não " corrigiria" absolutamente nada.
É pra frente que se anda, como dizem aqui em
casa. É pra lá que eu to indo rs.
Posso ficar tentando reviver e
recriar momentos bons, mas eles nunca mais serão os mesmos. “ Nada acontece
duas vezes da mesma maneira”- Aslam diz, nas Crônicas de Nárnia.
Posso continuar com fé que existirão outros. Esperança ta aí pra isso.
Percebi que pra chegar a essa
resposta com convicção, não sou mais aquela menina medrosa que chorava por tudo
e tinha pavor de fazer qualquer tipo de escolha, que sempre achava que o pior
aconteceria.
Continuo chorando bastante rsrs, e não curto
muito ser obrigada a escolher ainda.
Mas percebi que é preciso coragem
pra assumir o que sinto, acredito ou quero. E que é preciso responsabilidade
pra assumir minhas escolhas.
Que é preciso força pra ter fé e confiar em Deus,
e pra acreditar que seja lá o que acontecer, sempre vai ser o melhor. E que por
mais que Ele direcione, mostre, conduza, sustente, as escolhas sempre caberão a
mim.
São esses sentimentos, crenças e vontades que assumi ( e que deixei de
assumir também) que resultaram nas escolhas, ou na falta delas, que me
transformaram e trouxeram até aqui.
Me apressar não vai me fazer ir
mais longe. Até porque a questão não é bem de espaço.
Minha briga não é com o
tempo. É com o que me rouba ele, e tenta me dar um controle sobre o que eu não
tenho. Ansiedade, medo por exemplo.
Não, eu
não voltaria nenhum dia se pudesse. Pra que ter controle sobre o passado, se
mal sei lidar com o mínimo controle que tenho do futuro?
Não
sei o que acontecerá amanhã ou daqui 10 anos. Mas certamente as escolhas
que faço hoje, estarão lá pra me mostrar que o tempo todo, o que eu faço no e com
o tempo que recebo, está sim em minhas mãos.