quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Eu, a tal resiliência, e um setembro amarelo

  Já faz um tempo que vejo, leio e ouço a palavra “ resiliência” por aí.
 Tenho certeza que isso não é apenas coincidência ou questão de moda.Faz total sentido que não só usemos a palavra, mas principalmente o que ela expressa em nossos dias.
 Pra falar disso, eu poderia abrir aqui qualquer assunto de qualquer noticiário de hoje. Veja lá, se não são situações que nos forçam a agir como diz a definição ali.
 Mas pra não te deixar ainda mais apavorada(o) com a vida, e pra manter minha perspectiva pessoal das coisas, escolhi  compartilhar um pouco da minha simples e limitada experiência de uns tempos pra cá.
 Faz dias que estava tentando escrever. Uma linha que fosse. Não saía nada. Tenho vários “ rascunhos” iniciados numa pasta do note, séries de textos que acabei não continuando, vários interesses e assuntos que poderia falar. Mas nesses dias nem toda a minha teimosia parecia surtir o menor efeito pra realizar minha vontade de escrever.
  Não era bem falta de inspiração, ou decisão, então resolvi me aventurar naquele espaço fértil e com incrível potencial para se tornar um labirinto dos questionamentos sabe?  Não é o melhor lugar pra encontrar respostas, mas é um começo.  E nesse caminho, encontrei algumas considerações:
 Uma delas, foi o cansaço (sem muitos detalhes, basta  que você saiba que esse pode ser físico ou mental, e esse é o pior deles. Voltando..)
   Não, cansaço não define. Eu estava exausta, como se estivesse o tempo todo fazendo um enorme esforço pra me manter no caminho das “ coisas novas” e de me “ reinventar”. Tem situações que exigem mais do que posicionamento, exigem enfrentamento (#vamofalar que isso é necessário mas desgastante).  
   Como escrever exige bastante coragem e honestidade e exige que eu mesma me enfrente, cheguei a conclusão de que o que eu precisava era de força. E fui deixando pra depois.
 (Aqui, vou chamar esses enfrentamentos e cansaço de pressão externa, logo esclareço mais o raciocínio)
  Simultaneamente, mesmo cansada, tava me sentindo uma pilha de caos, um tumulto absurdo, que não conseguia sequer verbalizar o que estava de fato sentindo e pensando, nem mesmo pra mim.
 Lá fui eu questionar, de novo. Ao perceber que a angústia só aumentava, resolvi mudar de estratégia: fazer todos os dias, pequenas coisas que me fazem bem, e o máximo possível delas. 
  Desde andar descalça na grama seca e ensolarada, até comprar um chocolate quando desse vontade. Até descobrir coisas e gostos novos também.Fazia efeito, mas pouco. Logo estava eu lá de novo, tentando escrever - quem sabe ajuda?
  A ideia mais forte e recorrente nessas horas é sumir, sem dúvida. Mas como o mundo não pára quando a gente sente que precisa, resolvi  carregar tudo como se fosse uma mochila pesada, esperar um belo dia em que as obrigações não parecessem tão urgentes, e só então lidar com tudo, mesmo que fosse uma coisa de cada vez. Porque eu sabia, que na hora que eu me dispusesse a entrar nessas questões mesmo, eu poderia travar, ou sei lá. E pensava que não existia pior hora do que agora.
  Fui tentando administrar. Até ver pessoas próximas de mim entrarem nesse processo de colapso, aparentemente “ do nada”.Foi aí que percebi que esse belo dia não existe, e que eu estava caminhando pra isso.
  A verdade era que as pressões internas e externas estavam tão fortes,  que enquanto as duas se mantinham assim, eu estava inteira. Mas bastava um desequilíbrio mínimo que fosse, pra eu explodir, por “ nada”.
  Obviamente minhas defesas estavam altíssimas, e nem percebi que pessoas que eu convivo estavam basicamente na mesma situação, ainda que por outros motivos.Todo mundo sofrendo, e sofrendo pra se manter de pé.
 Um verdadeiro caos. Eu não queria mais passar nenhum dia num ambiente assim, nem mesmo chegar a esse ponto de explodir  de qualquer forma.
 Mas minhas estratégias não estavam sendo muito eficientes. Baseei todas elas em mim mesma. Mania de não querer incomodar, de sempre deixar tudo  pra depois no que se refere a mim, de agir como se minhas dúvidas sempre fossem menos importantes, ou mais simples, me levou a isso. Ou o contrário: que são tão absurdas, que é injusto querer dividir com alguém. “ Não, ninguém merece passar por isso. Ninguém, exceto eu”. 
( Orgulho e teimosia não é uma combinação legal, vai por mim). 
 Mas voltando as pressões,  acredito que não fomos feitos pra isso, sinceramente.
 É estranho pensar em possíveis soluções. Porque se a gente eliminar pressões internas totalmente, a impressão que tenho é que nos tornamos vazios. E que a pressão externa que existe independente da nossa vontade,  pode então nos invadir ou nos aniquilar.
  Também não podemos ficar apenas cheios, sem nenhuma pressão interna. Tenho a impressão que um pouquinho de pressão interna, nos faz ter vontade de expandir, de superar limites.  Estar apenas cheio,  pode me levar ao conformismo e mediocridade.
Pode levar àquele estado que eu mais temo e abomino na vida, que é ser indiferente. (Dizem que o contrário do Amor é a Indiferença. Deus me livre disso!)
 Como lidar com tudo isso então?  Não acredito que existam
 fórmulas.Também acredito que é preciso procurar ajuda, mas isso é delicado, porque precisamos saber a quem pedir ( não vou entrar muito nesse aspecto hoje não. Basta dizer que busquei, encontrei em Deus, e estou aqui escrevendo rs).

Sem dúvida, a tal da resiliência é necessária. Eu nem conhecia a palavra, mas na necessidade a gente aprende o significado sem dicionários rs.
 Mas ela não é tudo. Ela é necessária pra sobreviver.
 Só que eu quero mais que isso.
 Claro que a forma como cada um enxerga a vida faz diferença nessas escolhas.  Cada um tem um ideal.
 Sei qual é o meu. Viver plenamente, com fé, amor, coragem e simplicidade , aparentemente exige tudo de mim. Mas eu tenho certeza que vale a pena. 
  E nesse “ setembro amarelo”, perto do fim já, queria te lembrar isso:
 Que a vida vale a pena, sempre. E só tem um jeito de descobrir e experimentar isso: continue tentando.
#keepcalm #keepgoing


quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Peças de um quebra cabeça....

 Ela estava sentada no chão, na direção da janela. 
Amava a luz do sol, e por isso compartilhava os momentos mais importantes com ela, o máximo que podia. 
 A luz inundava tudo com aquele brilho de esperança que as manhãs tem e dava ânimo! Mesmo diante daquele chão com alguns pedaços de um quebra cabeça montados, e outras tantas peças soltas. Eram muitas. Todos os dias ela sentava em algum lugar no chão, e tentava montar mais um pouco.
 Geralmente eram momentos tranquilos, tentando encaixar as peças que via, ou admirando com gratidão os pequenos pedaços montados. 
  Quando recebia peças novas, ficava profundamente animada. As vezes elas davam sentido há peças que estavam lá há anos. As vezes eram vislumbres de algo inédito, que nem imaginava fazer parte do quebra-cabeça.
  Mas não lembrava mais quanto tempo fazia que não recebia peças novas. E ultimamente, estava sempre tentando encaixar o que já estava lá. Tinha a impressão que tinha muitas, e que se estavam soltas ainda, provavelmente era só questão de olhar mais um pouco e encontrar seu lugar.
  O movimento das nuvens fazia a luz se alternar sobre as peças. Isso fez com que ela visse uma das últimas que recebeu.
 Ela estava próxima, e instantaneamente a pegou para observar melhor seus detalhes.
 Não conseguiu conter um sorriso enquanto olhava pra ela.
 Uma profunda gratidão, parecia acompanhar aquela peça particularmente, desde a primeira vez que a viu.
 E assim começou a pensar em como era antes de recebê-la. 
 Percebeu nitidamente que estava diante de um divisor de águas. Algumas peças eram assim, tão únicas e transformadoras, que era possível distinguir exatamente como eram as coisas antes e depois dela.
 Antes estava sempre ocupada com as peças que já possuía. Tentando encaixá-las, colocar em lugares diferentes, pra ver se davam mais certo. Sempre se movimentando, mas sempre esperando. Porque no fundo, sabia que estava faltando muitas. Enquanto esperava, se mantinha ocupada, o máximo que podia. Gravando os detalhes das peças soltas, mudando a perspectiva, fazendo qualquer coisa pra passar o tempo, numa mistura de ansiedade e as vezes animação que a deixavam sempre inquieta, e as vezes exausta.
 Na verdade percebeu que até ali, ela que dizia odiar esperar, estava cada dia mais plena desse estado e ansiosa por livrar-se dele. Preenchendo as horas com o que podia, tentando não pensar nas peças que faltavam, enquanto orava silenciosamente, no fundo de seu coração, todas as noites: "me ajude a encontrar as peças que faltam, e reconhece-las ao encontra-las. Amém".
 A verdade é que não esperava encontrar peças realmente novas. Tinha certeza que apareceriam complementos, quando aparecessem. Pedaços com cores que já conhecia.
Mas aquela peça? Ela era realmente nova. Completamente diferente. Ao mesmo tempo que trazia cores novas, parecia tão familiar! Ela deu uma nova perspectiva pro quadro todo. Era incrível e ao mesmo tempo, um pouco assustadora. Cada hora parecia se encaixar em algum lugar, com várias peças diferentes, mas ao mesmo tempo, ainda não tinha encaixado em nenhum espaço montado realmente.
  Desde que recebeu aquela peça, percebeu que se sentia mais em paz, e ao mesmo tempo mais corajosa. Mais livre pra tentar, e com uma nova força pra isso também.
  Era isso! Não era uma solução pronta. Solução a gente vai atrás, encontra, e se encontra também, no caminho.
  Era uma possibilidade. Que trazia um misto de alegria, paz, coragem, força, liberdade!
 O quebra cabeça continuava lá. Quantas peças faltam? Ela não sabe. Também não sabe a imagem final que vai se formar.
É uma loucura e uma aventura viver montando algo assim. Mas é o que ela faz, todos os dias.
E olhando aquela peça ,percebeu que embora a imagem não tenha mudado tanto assim, ela estava diferente.
 Antes ela era espera.  
 Hoje é esperança.