segunda-feira, 12 de março de 2018

Não era o que eu esperava...

 “Eu não esperava estar como estou hoje, com essa idade”
 Já parou pra pensar em algo do tipo? Essa pode ser uma sentença de frustração ou gratidão, depende do que você escolhe.

 Particularmente, oscilo entre as duas. 
 Essa questão estava presente na crise dos 20 ( socorro Deus!) e em todas as outras subsequentes, quando a ansiedade e a ingratidão tomavam conta e tudo parecia muito sem sentido, sem propósito, as vezes até sem valor.
 Verdade que eu planejava demais. Nas minhas loucuras infantis e apressadas meus planos eram muito bem organizados. Com 11 pra 12 anos, eu já tinha esquematizado tudo até pelo menos uns 21. Achava que tinha tudo sob controle -haha pode rir, hoje acho graça dessa ingenuidade - e a essa altura estaria bem encaminhada na vida, seguindo aquele padrão ocidental de pessoa feliz e bem sucedida (aquele, sabe?).
 Mas olha que impressionante: nada foi como eu esperava! E quando eu digo nada, é nada mesmo. Não estou aqui dizendo isso pra me isentar da responsabilidade sobre minhas escolhas ou o caminho que segui até aqui. Essa coisa de “ autopiedade” já foi. Talvez uma vez ou outra que não conseguisse ver que tinha escolha, mas de forma geral, a gente sabe que tem sim. O sim e o não tão sempre aí antes de darmos qualquer passo. Indecisão também é uma escolha, no fim das contas.  Nada foi como eu esperava, e sinceramente? Ainda bem!
  Eu me lembro como se fosse ontem da época que eu acreditava estar lutando pra viver naquele padrão que citei : acordava as 5:15 pra sair as 6:15, mesmo entrando na escola as 7:00. Pra quê tudo isso de tempo né? Porque eu tinha pavor de atrasos e imprevistos. Me arrumava meio rápido até, mas tinha que ter um tempo de sobra pra “planejar” meu dia.
  Eu sentava no sofá antes das 6:00, e mentalmente organizava cada hora que eu teria dalí pra frente: tal hora faço isso, tal hora faço aquilo. Ia feliz e contente que tinha espaço até pra algum imprevisto ou uma distração. Que lindo!
   Na escola eu nem esperava ter algum controle sobre a rotina, então a loucura começava ao sair dalí correndo pra pegar o primeiro ônibus e não perder mais nenhum minuto.
  Isso aí já era um problema né? Mas amém. Eu chegava em casa ainda determinada a executar minha agenda. Quase NUNCA dava certo. As mudanças de planos de qualquer pessoa lá me afetavam diretamente. As vezes tinha que ir pra outro lugar e ficar totalmente impossibilitada de fazer qualquer coisa que eu planejei. Aquilo acabava comigo: era uma frustração imensa, uma raiva! Eu chorava, ficava um tempão irritada com o que não pude fazer , ao invés de aproveitar o que estava acontecendo ( soa familiar isso, inclusive).
 Levei uns bons anos pra perceber isso. Mas hoje agradeço a Deus pela família que fui criada haha porque se tivesse crescido num ambiente um pouco mais metódico ou rígido nessa questão de planejamento e rotina, TOC, neurose, tudo ia ser apelido pra me descrever rsrs.
  Mas voltemos: claro que estendi esse planejamento pra vida:
Com 21 anos, eu já teria no mínimo a graduação e estaria encaminhando algum mestrado ou pós.  Estaria trabalhando obviamente, e dirigiria meu próprio carro. Provavelmente também estaria iniciando os processos de adoção, porque sendo mãe solo eu já sabia desde criança que o negócio seria demorado. Ah, também viajaria o mundo, em todas as férias que pudesse. 
  Queria ser inteligente, independente e feliz. E pra mim, isso era tipo um pacote indissociável. Era meu alvo, ideal de felicidade.
   
Só que ele começou a desmoronar bem cedo: quando não passei no Vestibulinho pro ensino médio técnico - que era um passo importantíssimo pra chegar lá - eu já sabia que metade desses planos estaria comprometido.Teria que me dedicar mais, muito mais, e crer num milagre. 
  Eu tinha as duas coisas : fé e dedicação. Mas não tinha assimilado ainda que não tinha controle sobre muitas coisas, inclusive sobre as mudanças que ocorriam em mim ao longo do tempo. Os sonhos inclusive foram mudando, conforme fui me conhecendo e me constituindo enquanto um ser humano único. Escolhas, identidade, destino, tudo foi de certa forma se desdobrando ao mesmo tempo, e ainda é assim.
 

O caminho que escolhi é de renúncias mesmo. E desde a primeira, percebo que o principal é aprender que eu não tenho o controle sobre tudo. Aliás, se existe um controle que exerço, é apenas em mim e bem limitado rs.
 Parece doido e doído de início, mas hoje dou graças a Deus por isso.
 Percebo que boa parte dos planos que fiz eram mais socialmente aceitáveis do que fariam sentido pra mim. 
  Já falei sobre isso aqui: o que eu não quero. Minha prioridade se tornou ser, e não ter, há muito tempo. Ela tem me levado a caminhos muito inesperados e muitas vezes “insanos” pra maioria das pessoas. Cada oportunidade que tenho de aprender, de mudar, eu aceito. E tem sido uma aventura, mesmo que muitas vezes pareça uma verdadeira loucura. Ainda assim, encontro mais sentido, mais crescimento nesses passos, do que em passos óbvios.
  Mas por que eu resolvi falar isso? Pra dizer que o IR faz o caminho...como disse C.S Lewis. 
 Eu nunca pensei que estaria onde estou hoje...mas também nunca pensei que já teria passado por tantos lugares, conhecido tantas pessoas, vivido tantas coisas diferentes!
   Nasci e cresci na maior cidade do país, e no IR  acabei morando já em 3 regiões do Brasil com pessoas de todos os lugares. Tive acesso a uma diversidade de culturas imensa, desde criança. Viajei pro exterior antes dos 20, sem precisar de passaporte, sem falar a língua oficial também ( aprendi lá, na cara e na coragem rsrs). Passei num concurso público aos 15 anos, não fiz a Fuvest como esperava, mas passei em 1º lugar  no primeiro e único vestibular que fiz na vida. Trabalhei com uma variedade de coisas: num call center de emergência, numa secretaria de escola de música, fui babá, professora de inglês, recepcionista, auxiliar de biblioteca e contadora de histórias. Fora todas as experiências em missão, que foram igualmente variadas: de pintar parede, podar hortênsias rs, reformar móveis, fazer pantomimas em praças e escolas, até cozinhar macarrão pra 170 pessoas. Muito mais riqueza de vida do que meus planos poderiam alcançar rs.
   Eu realmente nunca pensei estar como, ou onde estou hoje, percebe?  Mas pensar sobre isso foi como um lembrete: mesmo que nada faça muito sentido agora, que o caminho pareça muito incerto, e dê aquele medo de continuar, bom, tá tudo certo, do jeito que o certo for rs.  
 E eu compartilhei essas coisas não porque considero meu caminho um exemplo a ser seguido literalmente rsrs. Mas pra te lembrar, ou te encorajar se você tá nessas vibes de questionamentos sobre onde ou como gostaria de estar, a olhar pras respostas que você encontrar com gratidão e esperança.
  A sensação de andar num caminho enquanto estou construindo ele é doida mesmo: esse misto de animação com desespero as vezes. De coragem com canseira também. Mas pra quê percorrer uma jornada já trilhada, já programada, quando a vida é única e isso me possibilita escrever uma história assim também?
 Parece mais fácil se encaixar em algum caminho pronto, é verdade. Mas não creio que seja. Porque se distanciar de si mesmo e da sua história é um processo dolorido também. O preço é igualmente alto, só que cobrado mais tarde.
 Mas a escolha é sua. É minha. Ta sempre aí. Bóra?

Créditos:
Fotos- Beatriz Ramos Fotografia
Palavras: Akapoeta - instagram