segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A mistura de pó e glória

  Não é sempre, mas algumas vezes as palavras somem. Outras elas parecem não expressar bem o que gostaríamos, tamanha a intensidade das experiências que temos.
 
 Vi essa frase há um tempo, já havia pensado em escrever alguma coisa sobre, por ser tão verdadeira, e tão próxima do que eu estava pensando.
  E hoje eu queria falar sobre depressão. Sobre esse vazio imenso que se instalou em mim esses dias, e do quanto eu parecia cada dia mais engolida por ele.
 Mas também queria falar sobre a misericórdia de Deus. Sobre o quanto Ele é incrível, e nos resgata não importa quão profundo estejamos afundados.
Sobre Ele não desistir. Sobre sermos pó, mas também sermos essa mistura linda de pó e glória. E sobre Ele ser o Oleiro, e nós o barro. Sobre Ele nos moer mas refazer também....

  Por isso, talvez aqui não caibam metáforas...talvez seja necessário eu ser mais explícita:

 Era como se eu estivesse me desligando do mundo lentamente.
 Não, não era uma fuga. De fugas eu entendo bem. Me aprimorei tanto nelas com o passar do tempo que conseguia transformar qualquer coisa em fuga, e “ voltar” quando sentisse que podia ser descoberta, ou quando estivesse mais segura. Se tornou um hábito, uma coisa automática, quase natural. Mas eu decidi não fugir mais há um tempo. E mesmo não sendo muito fácil, estava conseguindo.
  Então eu sabia que não era fuga...principalmente porque não era algo que eu estivesse controlando, ou tivesse decidido. Parece mais um buraco, que a gente cai e parece não ter fundo, nem paredes pra subir.
  Os sons vão ficando cada vez mais distantes. A luz também. Firmeza não existe, nenhuma. 
É uma luta pra respirar, pra tentar manter os sentidos em algo real, pra quem sabe encontrar uma saída, ou um fim pra queda. Porque a impressão que dá, é que estamos em queda livre. E ela é lenta. E te afasta cada vez mais de tudo e de todos. Mesmo que não pareça.
  É como se o mundo, fosse sumindo do seu alcance. E quando digo mundo, é tudo que ele representa, com todas as suas dificuldades e possibilidades.
  As cores vão ficando cada vez mais opacas, as imagens cada vez menos nítidas. Os sons se transformam em silêncio ensurdecedor, porque a mente grita. O tempo todo.
  Nada mais faz sentido. E não é que tudo precise fazer... A gente sabe que a maior parte das coisas estão além da nossa capacidade limitada de entendimento, e aprendemos a lidar com isso, cada um a seu modo. Mas quando todo o sentido se esvai, as coisas mais simples se tornam fardos. O tempo, uma tortura. Até que você chega naquele momento do “ tanto faz”.
  A indiferença. Pra mim, uma das coisas mais mortais que existem nesse buraco. Perceba que aí não há mais tristeza, ou angústia que se externalizem. Essas muitas vezes sufocam, mas se transformam em alívio e coisas boas quando passam.
 A indiferença não. Quando não há mais lágrimas, ou gritos, ou vozes, ela chega invadindo tudo com esse vazio, que ocupa um espaço imenso. Não chamaria de desespero, porque no desespero a gente sente vontade de sair. A gente grita, a gente sente algo.
  Ali não. Só silêncio em tudo. Porque tudo já está muito distante.
  A esperança desaparece, e no lugar dela, a certeza que é o fim. E se não for, é melhor que seja. Porque parece impossível que algo mude, ou melhore.

 
Eu caí. Não foi a primeira vez.  Não me pergunte como, ou quando. Quando me dei conta, já estava caindo.
  E a gente luta, tenta se agarrar em qualquer coisa, olhar pra cima, tenta achar uma luz, uma voz, alguma noção da realidade que a gente sabe que existe.
  Eu fiz tudo que dizem ser suficiente pra não cair, cultivei e mantive os hábitos saudáveis que todos ensinam pra não chegar nesse ponto. Eu me esforcei. De verdade. Porque já havia caído uma vez. E sabia o quão horrível isso é. Mas por mais que os esforços ajudem, eles não alcançam o principal...a alma. O interior. A minha estava em frangalhos. Moída mesmo, não tem outra palavra.
Não vou dizer que foi apenas isso...sei que existem questões químicas, fisiológicas, e tantas outras que também influenciam muito.
Mas sei também que quem nunca passou por isso, não entende. Pensa que é drama. Que é falta de inteligência emocional, maturidade, ou algo assim. Que é “ não saber lidar”. Que basta crescer, se tornar mais maduro, ou mais duro também. Consigo e com os outros.
  Mas sabe, eu espero realmente que você que nunca passou não precise passar pra descobrir que está errado. Que você também não precise conviver com alguém que passe por isso, pra perceber que seus conselhos , geralmente superficiais,não resolvem.
  Sei que existem diversos caminhos comprovadamente eficazes de sair de lá. e que não é o mesmo pra todos.
  Eu saí de lá, as duas vezes, com um resgate incrível do Amado da minha Alma. Sim, Ele foi tão fundo quanto é possível, porque o Amor Dele é implacável. Poderoso. Irresistível. Libertador. 
 E Ele não desiste!
 Eu sei que Ele nunca me abandonou. Nem mesmo nesses momentos de escuridão profunda. Ele estava lá. Ele era a Vida, o Ar que me manteve viva quando tudo em mim dizia que eu não queria mais estar.
 E eu sei que Ele nunca me disse que não passaria por isso...o que Ele disse foi que estaria comigo.
  Nas vezes que estive próxima de cair nesse buraco, questionei qual era a vantagem de crer e confiar Nele, se isso não me protegia de todas as coisas que me quebravam. Pelo contrário, parecia muitas vezes que eu passava mais vezes por esses processos do que pessoas que pareciam estar no controle de suas vidas.
 Mas foi lindo o que aprendi estando quebrada: não é apenas uma vantagem, é uma esperança de vida eterna.
 Somos barro, parecemos duros mas somos frágeis, e diante de golpes nos tornamos pó. A única coisa que pode nos refazer, nos transformar de pó em algo novo, é a Agua da Vida ( Jesus), misturando-se conosco, nas mãos do Oleiro ( Deus). E nos fazendo essa mistura de pó e glória.
  Ele sabe o que está fazendo. Sempre. Mesmo que eu não saiba ( e geralmente, eu não sei mesmo rs).
 E é nesses momentos, onde somos resgatados, com esse Amor tão doce e ao mesmo tempo tão forte, que nos damos conta que tá tudo bem não saber, tudo bem não aguentar, tudo bem se eu cair. 
  Tudo bem não conseguir controlar minhas próprias emoções tantas vezes...tudo bem ser fraca, porque é o que eu sou, e com Ele posso ser qualquer coisa.
  Ele Sabe, Ele segura, Ele nos levanta, Ele nos aquieta, Ele nos fortalece. Ele nos transforma. 
 Ele é simplesmente muito mais do que qualquer palavra pode expressar. E não expus essas coisas pra falar de mim, mas Dele. 
 Pra que você que está lendo saiba, que não importa quão fundo pareça o buraco, quão escuro, ou quão sozinho você se sinta hoje, o Amor Dele te alcança, e não desiste!



 créditos: 
Fotos : Tumblr
Vídeo: Bethel Music
Ressignificado: João Doederlein ou @akapoeta


  

terça-feira, 31 de outubro de 2017

O vento está passando

“ Ventos que vem do leste, uma névoa a se aproximar. Como algo sendo preparado, prestes a começar” - Frase bonitinha do trailer do filme " Walt nos bastidores de Mary Poppins".

 Os dias seguiam, se desenrolando com pressa sob a rotina já bem estabelecida.
 O céu variava, as interações, e muitas situações também. Mas de forma geral, estava tudo muito bem encaixado e organizado. 
  As maiores preocupações tinham mais a ver com programações. Detalhes de tarefas, e coisas pra se executar. As maiores satisfações também tinham a ver com o êxito dessas coisas...mesmo que um sorriso ou uma palavra ou outra surgisse trazendo aquela alegria gratuita das coisas inesperadas e honestas.
  
  Então, surgiu esse vento. Mas não como um vendaval, ou uma tempestade, nem como uma brisa leve de verão.
 Um vento. Firme e constante, mesmo sendo vento rs. Desses que se não trouxer chuva, vai trazer alguma mudança.
  E trouxe. Muitas. Um vento como o tempo, que por onde passa não deixa nada como está.
 E conforme passa vai tirando as coisas do lugar...mas talvez, só tire mesmo as que não estão onde deveriam estar.
  As preocupações, ocupações, satisfações são totalmente outras com ele. E enquanto ele passa, a vontade instintiva é se abrigar. Nem que seja com uma blusa, ou qualquer coisa familiar que traga aquela sensação de proteção sabe?  
  O que costuma parecer mais familiar e automático nessas horas é o medo. Se fazendo de saudável e necessário. Fingindo ser “aquele que sempre esteve ali ,pra ajudar”. Mas nunca foi pra ajudar. E no fundo a gente sabe disso. Podem ser segundos ou dias até perceber essa armadilha, mas sempre parece uma eternidade. Um tempo paralisado.
 É uma jaula, que prende enquanto tudo acontece em volta. E estar ali não impede que tudo mude.
 E mudar, é o fluxo natural da vida. Só precisa esse despertar, esse ar de possibilidades que invade o ambiente pelas grades, pra que a gente descubra que essas grades, são fumaça...o vento leva.

 O vento está aí, passando, não sei quando vai terminar. O que eu sei é que trouxe mudanças, e eu também quero mudar.


domingo, 15 de outubro de 2017

Mudanças e impressões

  
 
É interessante lidar com mudanças. Não é fácil de forma alguma, mas não deixa de ser interessante.
 Eu acabo falando muito sobre isso, como constatação ou esperança.
 Não faz muito tempo eu não sabia lidar com elas...era tanto medo e insegurança juntos que me preenchiam e prendiam, que ficava em pânico diante de qualquer uma que fosse. Mas olha que incrível notar isso: mudei.  

  Verdade é que tudo está em constante transformação : o tempo, os espaços, e claro, nós mesmos. Poucas coisas permanecem impassíveis com o tempo.Mesmo que não pareça. 
  Um dos posts que eu mais gosto- e um dos mais compridos também rs- é o Mudei pra CM e CM me mudou. Eu escrevi após 1 ano morando nessa cidade. Acreditava que passaria apenas mais 3, numa situação completamente diferente da que acabei vivendo. Foram quase 5 no fim das contas, e saí agora,quando já havia mudado minha vontade de sair rapidamente.
  Nada do que eu esperava aconteceu. Nada mesmo. E hoje sou grata por isso. Mas durante, não foi agradável como essas linhas agradecidas fazem parecer.
  E agora estou aqui, diante de mais uma mudança que pra mim foi drástica.
Mas você não voltou pra sua cidade Gabriela? Isso não é uma mudança tão drástica”.
 Talvez não pareça; mas é. O nome da cidade pode ser o mesmo da minha certidão, mas não é mais a mesma cidade de quando eu saí.
  E mesmo que fosse, eu não sou a mesma Gabriela que saiu daqui (e por isso  fico muito feliz!)
  Não é minha também, não me sinto parte daqui ou de lá...embora reconheça em lugares e pessoas o que muitos descrevem como essa sensação de pertencimento, mas é uma sensação meio passageira.
  Quando entendi que meu caminho estava mudando novamente, e que passaria por aqui ,precisei encerrar alguns ciclos. E nesse processo, percebi como é diferente a postura de alguém que sabe que seu tempo é curto, que está contado. Passei a fazer mais o que eu realmente queria, e deixar de lado obrigações e compromissos que só me tiravam tempo com as pessoas que eu amo.
  Passei a notar também que muitas coisas deixaram de ser apenas rotina e se tornaram significativas. Me surpreendi de diversas formas. E aprendi que os nãos que antes me custavam tanto, se tornaram tão fáceis diante de coisas que realmente eram importantes pra mim.
  Percebi que essa deveria ter sido minha postura na vida desde o começo...de não me enrolar com coisas, pessoas, e situações que não levam a nada.
 De sempre lembrar que pessoas valem mais que qualquer outra coisa, seja ela um compromisso ou uma tarefa...
 Que dormir é bom, mas melhor ainda é perder a hora conversando com alguém que faz você não lembrar da hora rs
 Que pisar na grama é sempre uma ótima ideia e olhar o céu também.
 E que as coisas simples valem muito mais do que a complexidade que transformamos nossos dias...porque são precisamente elas que nos dão vislumbres do lugar e do tempo que realmente pertencemos: a eternidade.
   Percebi e teimo em manter essa percepção bem viva em mim hoje : que diante de tantas surpresas maravilhosas que vivi, não tem por quê deixar o medo ser maior novamente...
  Ele tem mania de querer ficar e preencher tudo quando as coisas mudam muito bruscamente. Mas não é bem vindo, e pra isso me agarro a todas essas lembranças e percepções, pra me lembrar o que traz esperança.
 Eu posso não saber todos os detalhes do caminho, mas meu Guia sabe. E isso é suficiente pra confiar que tudo vai ser da forma que tem que ser. Mesmo que seja totalmente diferente do que eu imaginava.  
  Até porque, hoje eu amo mudanças. 





sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Das cartas que não entreguei #4

Campo Mourão, Agosto



 Tava procurando uma carta que fiz pra você. Lembro de textos, mas eles estavam todos na mesma pasta daquele netbook branquinho que morreu há um tempo sem um backup digno.
Carta mesmo não encontrei, mas um texto enviado por pura empolgação pra minha irmã que estava em SP.
 Foi engraçado ler, confesso. Eu escrevi tentando entender e explicar porque eu gostava tanto de você. Óbvio que a paixão dá umas cores mais alegres e uma descrição bem mais bonita pro que realmente acontecia. Eu não tinha uma boa resposta. Aliás, nunca tenho.
  No começo isso sempre é um pavor, um desprezo profundo pela minha inteligência que parece sair de férias “ Como assim, você se apaixonou só de ver essa criatura? Tá doida?”  Eu grito,me dou broncas até cansar. Mas sempre já é tarde. E depois de um tempo, eu desisto de me desprezar e resolvo que ninguém escolhe quando, nem por quem se apaixonar. Decido viver essa fase doida da vida enquanto for possível, sem muitas expectativas : uma pele mais bonita, o riso mais frouxo, e uma visão maravilhada de tudo e todos já me deixa satisfeita.
 Com você não foi diferente, até porque já fazia um bom tempo que não me apaixonava e tal. Mas vamos combinar, foi quase previsível de tão clichê..
 Eu nova na cidade, caloura na faculdade: exausta de estudar pras primeiras provas, exausta de me esforçar pra conhecer a galera e me adaptar a nova vida. Fui naquele evento por obrigação, porque tudo que eu queria mesmo era dormir.
Você foi pra jogar bola.
 No meio de todas aquelas pessoas que pareciam querer nos receber bem, fui parar onde você estava. Você sorriu e pronto, senti o chão sumir. Ofereceu ajuda e não precisou mais nada pra eu esquecer até como se fala. Aquele fio de voz ridículo saiu pra dizer “ obrigada”. Você provavelmente não lembra disso. Não sei nem quando percebeu que eu gostava de você, porque eu nunca disse claramente. Mas você sabia.
Se conversamos 2 minutos foi muito. Ouvi alguém dizer seu nome, e pronto, era o suficiente pra descobrir alguma coisa, qualquer coisa , sobre você.
Tava tudo indo muito bem, naquela vibe super platônica e eu poderia manter tudo assim por meses, mas um dia começarmos a conversar. E daí já não lembro mais datas, só momentos específicos.
 Você sempre era gentil e sorridente rs, e passou a frequentar algumas coisas que eu frequentava, se aproximar. Eu estava te conhecendo um pouco mais, e continuava sem resposta pra minha pergunta. A mais convincente que achei foi a do texto que citei antes “ gosto de você porque você faz com que eu goste mais de mim”
 Isso de fato aconteceu.Fica o agradecimento aqui, embora eu não ache que você fez alguma coisa pra ajudar nesse sentido. Não leve a mal, você até era educado e atencioso. Mas nada além do necessário pra manter minha atenção em você não é verdade? Eu sabia disso. Você até parecia me admirar, mas o que você mais gostava em mim, era o tanto que eu demonstrava gostar de você.
 Então hoje eu vejo que foi isso: passamos um tempão alimentando o ego um do outro e só. Os dois morrendo de medo de sair desse lugar  cômodo que nos tornamos.
  Os passos em direção um ao outro eram sempre muito curtos e inseguros. Vontade de tomar alguma iniciativa eu tinha, mas tinha um certo trauma disso, e você não me dava segurança suficiente pra me superar nesse sentido.
Então eu esperei, procurei te conhecer, conhecer mais do mundo que você vivia que era tão diferente do meu. E foram bons meses, não tenho más lembranças da maioria deles.
Essa carta sem ser entregue? Acho que é porque passei todo o tempo que estava gostando de você ouvindo muito e falando muito pouco.
 Parecia que eu sempre tinha que me resignar, sempre escutar, sempre ter paciência, te entender e tal. Mas eu mesma nunca conseguia falar.Coisas mínimas. Não lembro nem mesmo de você perguntar qualquer coisa além do “ tudo bem” automático depois do oi. Eu vivia um turbilhão de experiências, coisas, sonhos, faculdade, trabalho, choque cultural, mas não tinha espaço pra compartilhar. Eu te achava tão lindo, e achava que isso me deixava numa situação de desvantagem com você. Tentava me afirmar em outros aspectos. Outros que você nem sequer se importava, ou muito menos demonstrava estar próximo também.
Então a distância já existia antes mesmo de você se afastar.
Eu dizia que você foi covarde , mas na verdade era inevitável encerrar antes mesmo de começar não era? Era.
E passada toda aquela dor e euforia típicas da paixão, consegui finalmente te enxergar,  e me enxergar.
   Não foi apenas covardia, diferenças, ou falta de comunicação, embora tudo isso tenha feito parte também daqueles dias.Existia um abismo entre nós, feito desde falta de afinidades até o medo de se expôr demais e perder o pouco que tínhamos.
Não construímos pontes reforçadas também. Poucas tivemos, e sempre caíam.
Não encontrei cartas porque percebi que nunca tivemos esse espaço de conversa livre e espontânea. Não se engane com o som da minha voz produzindo falas. Isso nem sempre é conversa, e pra nós, quase sempre não era. (Mesmo sendo eu, a pessoa que por amar essa troca simples e significativa é capaz de conversar até com árvores rs).
E hoje fico feliz por ver isso sem tristeza e sem arrependimento também.
 A gente gosta de falar que errando que se aprende, e nessa época aprendi muito. Aprendi inclusive que afinidade não é um bônus, é essencial. E que eu jamais podia ter esperado gostar de vc ou de qualquer pessoa pra gostar mais de mim.
 Então obrigada. Por reforçar essa lição tão básica e urgente na vida. E pela pele mais bonita, o riso mais frouxo, e a inspiração praqueles textos que sumiram.
  Espero que esteja bem...acho que não tem mais o que falar né?

                                                                          Deus abençoe, se cuida. 
                                                                                      bjo, Gabi

sábado, 19 de agosto de 2017

Das cartas que não entreguei #3

Campo Mourão, Outubro

 Tenho lido bastante ultimamente. Desde “quotes” do twitter, pinterest, blogs, poesias, notícias , contos.
Todos os dias. O máximo que consigo absorver.
Tenho a impressão que a palavra me alimenta, e que estou redescobrindo minha fome. Maioria das vezes parece que encontro nelas exatamente o que estou sentindo : " puxa que bom! Mais alguém pensa assim, não é coisa da minha cabeça, isso existe!”
Aliás, vou até parar nessa última expressão, porque  em ultima análise pra mim é isso mesmo : ao ser expresso em palavras minha alma reconhece finalmente a existência de algo.
Por isso tantas perguntas. Tantos textos. Tantas leituras.
Isso ficou muito nítido pra mim depois que você sumiu sem dizer nada. Claro, eu sei que a palavra solta no universo não diz tudo.
Tem o contexto, a situação, a intenção, tem a interpretação.
Tem as pausas. As escolhas.
Tem os silêncios.
Os olhares. Os sorrisos. Os gestos.
Os movimentos. O espaço. O tempo.
Junta tudo isso e outras coisas não ditas e daí sim, posso dizer que algo é, existe e ponto.
Eu sei que existem entrelinhas, subentendidos, implícitos e tantas coisas que exigem tudo de quem quer “ escutar ou saber” algo. Por muito tempo, considerei  suficiente esse diálogo não dito, entre o implícito que parece óbvio e a construção das minhas próprias conclusões e interpretações.
Mas de uns tempos pra cá, não considero. Não acredito. Não ouço, não vejo. Porque de fato não estou ouvindo nem vendo nada.
Pra uma pessoa ansiosa, com a mente fértil como a minha, isso pode se tornar um poço sem fim de angústias , conflitos, embates internos, resoluções que me fazem acreditar piamente que são respostas.
Até que a parte que não diz, finalmente solta um “ mas não está acontecendo nada”.

Posso ouvir o baque surdo de uma bomba lançada na minha alma :
Explosão, tudo ruindo. Aquela voz que diz “ realmente, tudo coisa da sua cabeça”.
O desespero de se sentir culpada e maluca ainda por cima.
Qualquer resposta minha começaria com um “ mas eu entendi....” e eu sei que isso é assumir tudo: culpa e dor, questionamentos e respostas, tudo.
Não, chega. Eu cansei disso aí. É uma verdadeira sacanagem. Palhaçada mesmo.
O mundo parece não saber, mas não se dá corda pra pessoas sensíveis e imaginativas. Mas já que não resistem e você parece ter seguido o mesmo caminho, posso controlar como respondo.
Não é de hoje que decidi levar as coisas dessa maneira: não falou claramente, não existe. Pode fazer o que quiser, tentar mostrar de todos os outros jeitos. Não acredito, não considero, não existe, fim.
Pode me chamar de exagerada, sempre fui, sou mesmo e isso você já sabia.
Cansei de escutar pessoas bem intencionadas com aquele ar complacente tentando me animar: " você que não quer enxergar, todo mundo tá vendo, é óbvio, fulano não é de falar, é de demonstrar, é uma pessoa tímida, nem todo mundo é como você” e por aí vai. Mas acredite, por experiência própria e um pouco de autodefesa também : enquanto não falar, não está acontecendo nada”.
Ainda assim corro risco quando dizem o que não querem realmente dizer. Que falam por falar. Mas a chance disso é menor do que se iludir com o que não é dito.
Há quem diga e acredite que atitudes valem mais do que palavras. Não é meu caso. Fique com atitudes sem nenhuma palavra, e você nunca entenderá o que realmente existe.  É a mesma sensação das palavras sem atitudes, só muda a forma.
Eu entendo as limitações dos diálogos.  To nessa postura de quem exige honestidade acreditando que é isso que eu ofereço, mas sei que não é bem assim. Quem fala muito nunca diz tudo, se você prestar bem atenção.
Então eu me esforço, pra ser o mais honesta e aberta possível. Mas primeiro comigo mesma. Aquilo que nem eu reconheço ou assumo direito não pode ser simplesmente ser jogado por aí em cima de qualquer pessoa, muito menos de você. Considero injusto isso. Então eu sei que existem limites.
Mas também sei que aquilo que eu não digo, você dificilmente tem como saber. Por mais esperto que seja. E a recíproca é verdadeira.
Posso lidar com sentimentos, fatos, circunstâncias, dificuldades e surpresas. Posso lidar com palavras que eu não gostaria de ouvir, e até com mentiras porque uma hora ou outra elas são desmascaradas. Sempre.
Só não me peça pra lidar com o indefinido assim, do não dito. Sinto muito. Isso eu não posso  e nem quero. O sentimento podia existir dentro de mim, sem muitos problemas, se sua palavra não tivesse trazido a existência uma esperança que eu nem contava ter. Não tenho poder de destruir isso. Por mais desgastado que esteja. Mas as palavras? Ahh elas tem. Então é isso : destrua de uma vez ou continue a construção. Essa estagnação é um desfavor  pra humanidade. Pra mim, pra você, pra todos os dias que não precisam ser espera.
Sinceramente, não sei muito bem como me despedir hoje...se cuida.
bj, Gabi


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Das cartas que não entreguei #2

Campo Mourão, Junho

Faz poucos dias que  decidi criar uma série de postagens com essas cartas. Lendo e organizando meus rascunhos,  percebi que os relatos e sentimentos que estão nelas não me afetam mais.
Vi ali parte da minha história, e  me senti pronta pra expor esse lado mais íntimo, mais particular.  Até porque  sempre me identifico com escritores que expõe sentimentos, com toda carga que eles têm. E a maioria dessas cartas faz exatamente isso: expõe meus sentimentos, antes de tudo, pra mim.
Eu tava mega empolgada organizando e retomando alguns rascunhos interminados, e sentia que mesmo tendo  textos recentes e antigos, tudo misturado, iria inaugurar uma fase nova no blog, na escrita e tudo mais.
 Mas bem no meio disso você reapareceu, sem mostrar muito as caras.
Confesso que fiquei  surpresa, afinal já faz tanto tempo!
De certa forma eu sabia que existia essa possibilidade. Pode chamar de intuição, sexto sentido, o que quiser. Eu não sei o que é. Sei que de alguma forma,  quando vi, encontrei até justificativas pra minha desconfiança.
E aí pensei que encontrar uma carta -ou um desses textos mais confessionais que eu sempre fiz-  escrito pra você poderia ser interessante. Não só pra ver mudanças de pensamento, mas pela questão dos textos também.
Eu quase perdi tempo procurando, até que me lembrei:  pra você eu entreguei todas; todas as cartas escritas, todos os textos, todas as linhas e palavras .
E não foram poucas, você sabe. Também não vou mentir, fiquei pensando sobre isso. O que mudou, que depois de você eu escrevi e guardei tantos textos e cartas?
Ter entregado todas não quer dizer que tenha dito tudo que queria ter dito sempre. Tem vezes que as palavras somem. Outras parecem tão vazias e insuficientes!
Tem vezes que a distância que sentimos se formar nos faz silenciar, desde  a boca até as mãos.
Então não, não foi isso de ter dito tudo. Apesar que hoje também, isso não faz diferença mais, faz? Acho que não. Então por quê estou escrevendo uma carta pra você? Sinceramente, não sei...
Acho que foi vontade de te incluir junto com os outros destinatários. Porque você também fez parte da minha história. E acredito que foi o que mais leu palavras minhas.
  Só que é estranho, parece que já dissemos tudo né?
Podem dizer o que for. Carta é uma conversa. Eu sei que enquanto você está lendo, consegue pelo menos imaginar o tom, a cor que eu dou pra cada palavra, cada pausa. E que seu olhar, sorriso, franzir da testa, mão no queixo, qualquer reação é um tipo  de resposta. Respostas suas, que eu não to vendo, mas sei que estão acontecendo.
Nesse exato momento você está enchendo essas linhas com o sentido que você acredita ser o melhor pra elas. E fatalmente vai responder:  com sorrisos, cara fechada ou silêncio.
Mas percebe, tem ainda algo pra dizer? Parece que não.
Tenho a impressão que passamos todas as fases. Dizem que tem negação, raiva, depressão, aceitação...são essas não são, que dizem por aí? Não vou aqui ficar falando de cada uma delas. Já foi, faz parte, vivemos, crescemos.
Eu só não imaginava que voltaria a te encontrar nesse mundo tão grande, mesmo que virtualmente.
Nem tanto porque eu queria isso, mas porque sempre tive certeza que era o que você queria. Então você reaparecer foi meio desconcertante. Tive aquela sensação de “ mas o que está acontecendo?”
Deve ser por isso que resolvi escrever. Essa sensação parece estar presente em todas as vezes que fiz essas cartas que ficaram comigo até hoje.
As vezes escrevendo encontro um pouco de clareza, de leveza, e paro com essa mania tão inútil de querer entender tudo.
 Mas sabe, achei interessante essa sincronia entre você , o blog, as cartas. Tudo meio que se encontrou de uma maneira inusitada. Até mesmo aquele menino da escola que eu trabalho, aquele que tem seus olhos, passou a vir mais aqui na Biblioteca. Sempre fazendo gracinhas, sempre me lembrando desse seu lado que me fazia chorar de tanto rir tantas vezes.
  Então, acho que é isso. Não tem um motivo muito específico no fim das contas. Só me parecia estranho que justo você ficasse sem uma carta dessas, sem se reconhecer em alguma linha, caso ainda esteja aparecendo por aqui.
Essa carta é pra você. Que você reconheça nas entrelinhas minhas lembranças gratas por ter lido todas as cartas que pude entregar.


                                                      Se cuida, Deus te abençoe,


                                                                                bjo, Gabi



sábado, 22 de julho de 2017

Das cartas que não entreguei #1

Campo Mourão, Outubro


E aqui estou eu mais uma vez.
De novo demorando pra escrever, de novo tentando organizar as idéias antes de colocar pra fora.
Vou seguir o modelo clássico, que é o mais fiel aos meus pensamentos: eu falando com você; e  você sendo  aquele que escuta e no máximo segue um roteiro que eu imagino:

Hoje se você aparecesse, não sei como seria. Fico pensando no que eu diria, em como reagiria. Mas  não há muito que eu possa dizer.
A reação seria das mais óbvias também: sentiria meu coração dando três voltas dentro do peito, em seguida aquela sensação de desmaio horrível. E provavelmente sentada, eu cerraria os dentes com força,  respiraria fundo, e repetiria pra mim mesma olhando fixamente pra tela do celular: "calma Gabriela, respira e conversa. Vocês são adultos." E aí eu seguiria os protocolos gerais de " oi, td bem?" esperando que você quebrasse isso.

Os números não saem da minha cabeça: dia que nos conhecemos, hora, coisas desse tipo. Mas se fossem só os números, era mais fácil. As palavras, os olhares, os pequenos gestos, o sorriso, tá tudo aqui gravado com uma nitidez impressionante.
Nem parece que faz dias que você passou das conversas pras frases soltas, das frases soltas no ar, pra lembrança e expectativa.
Falando assim fica até bonito dizer que você desapareceu. Desaparecimento que não acompanha meus pensamentos, como você bem deve saber.  Parece que cada confronto e ausência só serve pra me mostrar o quanto eu me sinto impotente diante do que sinto.  É uma coisa tão estranha, forte, fixa, tão independente de você e até de mim. Eu sinto e pronto. Aparentemente nada funciona pra mudar isso. Nem seu silêncio, sumiço inexplicável, os momentos que a ansiedade pareceram me sufocar.
Hoje não sinto mais essa ansiedade, graças a Deus. Me convenci de que você precisa desse tempo . E que provavelmente não vai sumir pra sempre. Hoje saber que você está bem me parece suficiente, por mais clichê e orgulhoso que isso soe, é honesto.
  Confesso que não entendo muito bem essa sua mania de querer esperar “ as coisas se desenrolarem.” Não sei que tipo de coisas você está falando. Mas me empenho pra respeitar seu tempo - mesmo sabendo que não precisei de 1 segundo pra me apaixonar por você. Somos diferentes, então considero que pra você seja ainda mais complicado.
 No fundo, a gente tem que admitir que não estamos sabendo lidar com nós mesmos. Da minha parte, eu evito questionar ou falar qualquer coisa que possa sugerir a mínima pressão sobre você, sobre sua resposta. Mas isso não diminui nada, porque essa pressão existe desde o momento que você soube o que eu sentia ( aliás, lembra como foi ridículo o jeito que você soube? não me conformo, foi tudo errado, mas já foi).
E você, provavelmente ta tentando evitar que eu sofra, não falando claramente que não gosta de mim da mesma forma que eu gosto de você. Isso na melhor das hipóteses. Na pior, você tá evitando seu próprio sofrimento em abrir mão da minha atenção. Mas sabe, isso também não diminui o sofrimento: porque tudo que você diz e não diz, faz ou não faz acaba demonstrando isso.
E já doeu, claro. E provavelmente quando você admitir pra mim, vai doer mais. Mas quer saber? Qual o problema ? É impossível evitar sofrimento. Eu nem tento, pelo contrário. Eu sabia dos riscos quando resolvi assumir que gostava mesmo de você. Soube todo o tempo. Continuo consciente de todos eles. São muitos? Sempre. Mas sou dessas que prefere confiar e se jogar pra ver o que vai dar, do que se arrepender pra sempre de não ter tentado. Se eu não era assim, me tornei.
Também não me arrependo por sentir demais. Tenho certeza que isso só me traz benefícios, mesmo quando dói. Ao escrever isso, pensei em quantas vezes nesses meses, senti dores que achei que não poderia suportar. E estou aqui, não é verdade?
E também me lembro que as alegrias, sempre foram incomparavelmente melhores. Sempre.
Então estou aqui. Esperando você aparecer.  Seja lá quando for, seja lá o que vai dizer. Porque independente do que vai acontecer, pior do que esse vazio não vai ser.
 O que eu estou esperando? Que você seja honesto, consigo primeiro.
Porque só  daí eu sei que você conseguirá encontrar a  coragem que precisa pra ser comigo também.
Até lá, se cuida.
bjo, Gabi



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segunda-feira, 3 de julho de 2017

Sorriso no meio do caminho

Era um dia comum: daqueles cheios de nuvens com um ventinho fresco bem típico das manhãs. Eu estava subindo uma rua, no caminho que mantinha quase sempre pra ir pro trabalho.
Antes eu gostava de alternar as ruas, o máximo possível. Vantagens de se morar numa cidade pequena e planejada...a gente inventa alternativas pra rotina não nos sufocar por completo. Mas umas broncas de mãe preocupada que sempre me desencontrava no caminho me fizeram prometer manter sempre a mesma rota. Eu escolheria a que tivesse mais gente passando, mais flores, mais detalhes, pra não enjoar muito rapidamente. Mas no geral, as ruas são vazias, as flores ficam nas avenidas, os detalhes são sempre os mesmos. Acabei escolhendo pela rapidez mesmo.
Geralmente encontro poucas pessoas no caminho também indo trabalhar: umas três mulheres que vão em direção oposta e geralmente respondem meu "bom dia"; as vezes dois varredores de rua, que sempre respondem educadamente também, e dois homens de bicicleta : um que sobe a rua rápido em direção as avenidas, e outro que desce e trabalha bem na esquina da rua que eu viro. Tem dias que encontro ele sentado esperando alguém abrir o portão. Outras ele está descendo a rua. Pra esses dois da bicicleta eu não costumava falar bom dia, ou mesmo sorrir. Acabei adotando sem querer esse comportamento que me causa estranheza desde que mudei pra cá: a olhada pro chão.Nunca havia notado isso em SP. De forma geral, lá se olha pra frente, pro nada talvez. Olhares se encontram nas ruas rapidamente, e continuam. Simples assim. Aqui muita gente responde cumprimentos de "Oi" e "Bom Dia", mas muita gente também olha pro chão ao cruzar com você na rua. E isso sempre me incomodou. Mas pra esse rapaz, não sei porquê eu acabei adotando esse comportamento. Mexia no fone, olhava onde ia pisar : aquela calçada encerada de tão impecável, olha!- e seguia.
Mas nesse dia que começou tão comum, e eu subia as ruas seguindo esse mesmo script, em questão de segundos, olhares e sorrisos mudaram tudo: meu dia, meu caminho, a reprodução impensada dessa olhada pro chão.
 Como eu disse, o rapaz da bicicleta trabalha na esquina de baixo dessa rua que eu subia todos os dias. Na esquina de cima, uma casa estava em obras. Um dos pedreiros que trabalhava nessa obra, já havia me encarado de forma intimidadora algumas vezes. Eu encarava de volta, subia afastando pensamentos de medo, e justificando tudo com alguma paranóia minha, e de teimosa, não mudava o caminho não. Nesse dia, na hora que eu virei a esquina pra começar a subir essa rua, o tal pedreiro parou atrás do poste, com alguma coisa na mão, que eu não conseguia ver, e ficou ali, parado, olhando pra minha cara enquanto eu subia. Não quis voltar atrás e ir por outra rua, mas quanto mais eu subia, com mais medo eu ficava. Fui andando firme e procurando algum objeto no chão, galho, qualquer coisa que eu pudesse usar caso precisasse. Chegando perto já de onde ele estava, eu estava andando quase no meio da rua, disfarçando o medo que eu tava o máximo que podia, quando o rapaz da bicicleta aparece atravessando a avenida de cima. Senti um alívio enorme, pensando : agora se eu precisar gritar tem alguém pra ouvir!
Em questão de segundos vi de relance o cara que estava me assustando abaixar as mãos e dar um passo pra trás, enquanto o rapaz da bicicleta olhou pra ele, em seguida pra mim e se aproximou sorrindo e dizendo como se me conhecesse há séculos : Oi, tudo bem com você?
Eu não consigo explicar como essas palavras mais simples do mundo me fizeram bem naquela hora. Respondi extremamente grata que sim, estava. Ele acenou e continuou descendo, e o pedreiro ficou parado, olhando alternadamente pro rapaz e pra mim. Vi que ele jogou o que estava segurando pro lado , mas eu não quis nem saber o que era. Enquanto eu esperava um carro passar pra atravessar a avenida de cima já bem mais feliz e encorajada, vi que ele entrou de volta na obra, e o rapaz da bicicleta acenar mais uma vez antes de alguém abrir o portão pra ele.
 Desse dia em diante, mudei o caminho. E imagina a minha surpresa ao encontrar de vez em quando o mesmo rapaz que continua cumprimentando com um aceno e um sorriso toda vez que cruzamos os caminhos , agora em  outras ruas.
Eu não sei o nome dele, ele provavelmente também não sabe o meu. Aquele dia foi o único que trocamos algumas palavras. É engraçado, nunca conversei com ele e nem sei se um dia vou conversar. Mas tenho sempre uma sensação de profunda gratidão uma cumplicidade genuína quando nos vemos.
“ Um sorriso vale mais do que ele pode durar”- diz o poeta Lucão, e ele tá certo. Geralmente esse sorriso gratuito de um desconhecido vale um ânimo novo no meu dia, por mais bobo que isso pareça.
Quando se fala em sorrisos que nos fazem bem a gente já associa com crushs, amores platônicos, temas mais românticos. O que é uma verdadeira bobagem. A gente não precisa entender e classificar tudo em termos conhecidos. Um sorriso pode ser muito mais  significativo quando tem essa cumplicidade do que algum outro tipo de atração.
Parece um detalhe. Uma atitude tão simples, trivial pra muitos, uma coisa que passa despercebida tantas vezes, que me ajudou a lembrar que as pessoas não são sempre egoístas como muitas fazem parecer. Também me tirou daquela reprodução impensada de olhar pro chão, pra voltar a ser como sempre fui, olhando e sorrindo pra quem eu puder.
Verdade é que coisas simples pra mim geralmente são significativas e transformadoras, não é a toa que gosto tanto delas!
E que as vezes a gente só precisa ter coragem, seja de olhar pra frente, seja de sorrir quando tem vontade.
Aliás, você já sorriu hoje?


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