sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Das cartas que não entreguei #2

Campo Mourão, Junho

Faz poucos dias que  decidi criar uma série de postagens com essas cartas. Lendo e organizando meus rascunhos,  percebi que os relatos e sentimentos que estão nelas não me afetam mais.
Vi ali parte da minha história, e  me senti pronta pra expor esse lado mais íntimo, mais particular.  Até porque  sempre me identifico com escritores que expõe sentimentos, com toda carga que eles têm. E a maioria dessas cartas faz exatamente isso: expõe meus sentimentos, antes de tudo, pra mim.
Eu tava mega empolgada organizando e retomando alguns rascunhos interminados, e sentia que mesmo tendo  textos recentes e antigos, tudo misturado, iria inaugurar uma fase nova no blog, na escrita e tudo mais.
 Mas bem no meio disso você reapareceu, sem mostrar muito as caras.
Confesso que fiquei  surpresa, afinal já faz tanto tempo!
De certa forma eu sabia que existia essa possibilidade. Pode chamar de intuição, sexto sentido, o que quiser. Eu não sei o que é. Sei que de alguma forma,  quando vi, encontrei até justificativas pra minha desconfiança.
E aí pensei que encontrar uma carta -ou um desses textos mais confessionais que eu sempre fiz-  escrito pra você poderia ser interessante. Não só pra ver mudanças de pensamento, mas pela questão dos textos também.
Eu quase perdi tempo procurando, até que me lembrei:  pra você eu entreguei todas; todas as cartas escritas, todos os textos, todas as linhas e palavras .
E não foram poucas, você sabe. Também não vou mentir, fiquei pensando sobre isso. O que mudou, que depois de você eu escrevi e guardei tantos textos e cartas?
Ter entregado todas não quer dizer que tenha dito tudo que queria ter dito sempre. Tem vezes que as palavras somem. Outras parecem tão vazias e insuficientes!
Tem vezes que a distância que sentimos se formar nos faz silenciar, desde  a boca até as mãos.
Então não, não foi isso de ter dito tudo. Apesar que hoje também, isso não faz diferença mais, faz? Acho que não. Então por quê estou escrevendo uma carta pra você? Sinceramente, não sei...
Acho que foi vontade de te incluir junto com os outros destinatários. Porque você também fez parte da minha história. E acredito que foi o que mais leu palavras minhas.
  Só que é estranho, parece que já dissemos tudo né?
Podem dizer o que for. Carta é uma conversa. Eu sei que enquanto você está lendo, consegue pelo menos imaginar o tom, a cor que eu dou pra cada palavra, cada pausa. E que seu olhar, sorriso, franzir da testa, mão no queixo, qualquer reação é um tipo  de resposta. Respostas suas, que eu não to vendo, mas sei que estão acontecendo.
Nesse exato momento você está enchendo essas linhas com o sentido que você acredita ser o melhor pra elas. E fatalmente vai responder:  com sorrisos, cara fechada ou silêncio.
Mas percebe, tem ainda algo pra dizer? Parece que não.
Tenho a impressão que passamos todas as fases. Dizem que tem negação, raiva, depressão, aceitação...são essas não são, que dizem por aí? Não vou aqui ficar falando de cada uma delas. Já foi, faz parte, vivemos, crescemos.
Eu só não imaginava que voltaria a te encontrar nesse mundo tão grande, mesmo que virtualmente.
Nem tanto porque eu queria isso, mas porque sempre tive certeza que era o que você queria. Então você reaparecer foi meio desconcertante. Tive aquela sensação de “ mas o que está acontecendo?”
Deve ser por isso que resolvi escrever. Essa sensação parece estar presente em todas as vezes que fiz essas cartas que ficaram comigo até hoje.
As vezes escrevendo encontro um pouco de clareza, de leveza, e paro com essa mania tão inútil de querer entender tudo.
 Mas sabe, achei interessante essa sincronia entre você , o blog, as cartas. Tudo meio que se encontrou de uma maneira inusitada. Até mesmo aquele menino da escola que eu trabalho, aquele que tem seus olhos, passou a vir mais aqui na Biblioteca. Sempre fazendo gracinhas, sempre me lembrando desse seu lado que me fazia chorar de tanto rir tantas vezes.
  Então, acho que é isso. Não tem um motivo muito específico no fim das contas. Só me parecia estranho que justo você ficasse sem uma carta dessas, sem se reconhecer em alguma linha, caso ainda esteja aparecendo por aqui.
Essa carta é pra você. Que você reconheça nas entrelinhas minhas lembranças gratas por ter lido todas as cartas que pude entregar.


                                                      Se cuida, Deus te abençoe,


                                                                                bjo, Gabi



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