sábado, 20 de dezembro de 2014

Desconstruindo castelos..

     Eu estava perplexa enquanto olhava aquele castelo.
  Definitivamente, não era um dos mais bonitos, ou maiores que já construí. Nem mesmo o que dediquei mais tempo. Mas ele insistia em permanecer ali, firme contra todas as circunstâncias.
   O máximo que eu conseguia produzir com minhas marretadas de raiva, eram lascas.
   Fiquei observando, e tentando me lembrar de alguma coisa, qualquer coisa que justificasse toda aquela resistência.
   Relembrei os passos de sua construção: nada de extraordinário; mantive basicamente os mesmos passos dos demais castelos. Se alguma coisa era diferente nesse, era simplesmente o fato de tê-lo construído mais rápido, e de forma mais simples que os anteriores.
  Eu tinha absoluta certeza que ISSO, tornaria sua demolição mais fácil.
 Não me entenda mal: não é que eu planejei construí-lo para depois derrubá-lo, como fazemos com castelos de cartas, ou fileiras de dominós. Eu apenas considerei a possibilidade, já que até hoje, esse é o destino de todos os que construí.
   Se for pensar bem, comecei como uma distração. Era pra ser "divertido", então evitei desgastes em todos os níveis, inclusive o desgaste com a escolha dos materiais utilizados, e dos cálculos. Queria termina-lo rápido.

   Possuía algumas pedrinhas, que guardei com cuidado e sem nada em mente. Apenas porque gostei delas, porque quando as recebi, me agradaram.
   Mas com o tempo, ( e nem demorou muito), recebi em quantidade suficiente para tentar construir mais uma vez, e resolvi tentar.
  O máximo que poderia acontecer era desconstruí-lo depois. E francamente, nisso eu parecia estar craque! 
  Mas desconsiderei uma questão muito básica enquanto gastava minhas horas transformando aquelas pedrinhas em castelo: mudei a forma e o tempo de construir, até mesmo a intenção, mas não mudei a qualidade do material.
 Aquelas pedrinhas, feitas de fatos, frases soltas e frases implícitas, além de olhares e sorrisos , misturadas com a areia da minha imaginação, e a água das minhas esperanças, em proporções adequadas, produziram material suficientemente forte para manter aquele castelo firme.
  Eu não prestei atenção nesse detalhe. Não observei as benditas proporções.

   E agora estou aqui. Tentei utilizar uma técnica menos violenta de início: deixar esse castelo se deteriorar, se desgastar com o tempo e com a indiferença. Afinal, ela corrói não é mesmo?
   Mas não foi suficiente, mesmo tendo destruído algumas partes dele.
 Quando percebi que não podia mais desfrutar e nem suportar esse castelo abandonado e frio, resolvi juntar raiva, toda raiva que pude , concentrar em marretadas, mas também não resolveu.
  Está disforme sim, mas esta lá, no espaço que não deveria ser ocupado com " distrações".
  A questão agora é que decidi demoli-lo. Não domino as técnicas para isso, mas uma coisa eu sei: ainda que a mistura de materiais tenha o fortalecido, não deixa de ser, essencialmente um castelo de ilusão. 
  Precisaria de mais pedras para ser indestrutível...e já que não é, não está construído no lugar certo.



domingo, 9 de novembro de 2014

Interlúdio

      Hoje tudo parecia diferente:
   
   O céu, que sempre parecia pintado de luz, hoje parecia ter absorvido esse " tom", em suas cores fortes e misturadas, imponentes e misteriosas . Cores de transição.
  Isso era a única certeza. Não dava pra saber se os tons de vermelho, roxo, laranja, amarelo e azul escuro anunciavam o amanhecer. Ou o anoitecer...

  Estavam todos misturados, como se hoje o Artista tivesse tingido um tecido, e utilizado ele para cobrir as coisas, enquanto preparava alguma coisa  longe da minha visão.
  O que dava para saber é que eram as cores da transição. E como é de se imaginar, isso causava sensações tão variadas em mim como a paleta de cores que estava sobre mim.
  O vermelho trazia uma certa angústia. Mesmo no seu tom forte e esplendoroso, dizia com absoluta firmeza e tranquilidade : " Cuidado!"

   Mas cuidado com o quê meu Deus? - A pergunta despertou a precaução, e me faz querer parar onde estava.
 Mas como eu disse, estava tudo misturado

 O roxo estava logo ao lado dizendo o contrário, com um ar todo elegante e descontraído: " Ouse!" Ouse continuar!!!". 
   Entre os dois, conseguia ver o laranja. Bem mais leve que os outros dois. Mais iluminado também, obviamente, Mas estava distribuído em " riscos", finos e esparsos. Estava teimando para estar ali. 
 Dizia " calma", na voz mais linda que eu já ouvi. Não sei se estava tentando ficar, ou se estava chegando. Era um desses mistérios desse céu de passagem...
    O amarelo se comportava da mesma forma. Iluminava apenas alguns pontos. Mas talvez se sua voz estivesse mais forte, perderia o conforto que trazia. Ele não dizia, apenas ria.
  Uma risada que era pura leveza, que inspirava um certo otimismo. Ouso sugerir que um pingo a mais daquele amarelo, transformaria aquela leveza em peso, em quilos de riso irônico que me esmagariam. 

  
   Mas tudo estava perfeitamente disposto. O que era incrível. 
 

Também tinha o azul. Escuro e iluminado. A melhor expressão da contradição das sensações. Ocupava bastante espaço, inclusive. Enquanto o seu tom escuro parecia cobrir coisas que antes eu via , conseguia ouví-lo dizer em tom profundo e calmo : "há mais coisas do que você pode ver", sugerindo horizonte e profundidade sem limites, bem além daquele ambiente em que eu caminhava.

  Debaixo daquela luz colorida e diversa, cada objeto, cada espaço, cada flor , sob outro ponto de vista, também parecia outro.
  Desde o portão. Aquele portãozinho branco da entrada, baixinho sabe? Que vive fechado?  Hoje não brilhava,  e já estava aberto.
 As flores, que cobriam o arco de passagem, sempre lindas, alegres, convidativas e espontâneas, hoje estavam tímidas. Mesclavam tons de lilás, até os azuis mais escuros.

  Cores silenciosas. Se protegendo, enquanto o vento passava por elas.
  Não era uma brisa, nem um vendaval. Era apenas vento. Constante , determinado, e tão firme quanto um vento pode ser.
  Ele me inspirou de alguma forma, a caminhar até a porta, e parar de analisar cada detalhe do que estava acontecendo ali.
  Antes de entrar, porém, meus pés teimaram. Pareciam ter se transformado em concreto. Meus braços tremiam, tinham toda pressa que os pés recusaram. Queriam abrir aquela porta, e acabar logo com o suspense.
  O misto de reações me deixou tonta. Fechei os olhos, e resolvi respirar fundo antes de entrar.
  E então eu consegui ouvir realmente : cada voz e cada palavra daquelas cores do céu, parecia formar uma orquestra.
  Sim, era incrível, magnífico! Sons altos de roxo, leves amarelos, sons constantes e pesados de azul, com sons estridentes de vermelho, e  médios de laranja.
  Tocavam um interlúdio

 E eu pude abrir os olhos e rir aliviada. Era uma transição. Pro dia, pra noite, que importa? Para alguma coisa, isso com certeza. Para alguma coisa necessária, inevitável, e cheia de possibilidades.

    Eu entrei. Naquele dia , tudo estava realmente diferente. Como aquele céu. Como eu, quando cheguei ali. 


 
  

  


terça-feira, 21 de outubro de 2014

o que eu não quero

Não quero uma vida medíocre. Essas palavras ecoam na minha mente, com extrema clareza, embora com intensidade diversa, dependendo do momento.
 Tem momentos por exemplo, que é apenas uma voz suave e distante.
  
   Um lembrete em post-it laranja. Um aviso alegre, que parece sinalizar que estou longe disso (graças a Deus!), que estou vivendo justamente o contrário. Só não me peça pra definir esse contrário em um conceito. Não cabe em uma palavra ou duas. 
 Sabe aquela sensação de novidade? Aprendizado, aventura?  Expectativa de transformação? Esperança? Sabe a sensação de viver algo extraordinário? É isso.
  Com extraordinário não quero aqui incluir o senso comum dessa palavra. Extraordinário aqui, tá mais para algo além do que planejei, sonhei, pensei. Além dos padrões que eu mesma estabeleço. Algo fora do comum,e ao mesmo tempo simples. 
   Sim, coisas simples são encantadoras para mim. Complico tanto a vida, e tantas coisas parecem tão complexas, que a simplicidade se torna quase uma utopia, parece o tesouro escondido na essência de todas as coisas que valem a pena.
  Tudo que eu quero descobrir, viver, desfrutar, parece ter essa característica: simplicidade.
 Coisas simples , portanto, estão muito mais próximas do extraordinário do que do medíocre. 
   
   Não quero mesmo uma vida medíocre. E, ultimamente, tenho sentido certa urgência nesse aviso.Tem vezes , por exemplo, que é como uma sirene. A luz confunde a visão. Sinaliza o perigo. O barulho irrita, e faz com que eu mude bruscamente de direção, pra sair desse ambiente confuso, pra diminuir o som, e saber que estou a salvo, finalmente.
    Quando isso acontece, porém, fica um certo caos. Me pergunto " como cheguei tão perto do perigo? " ou " Como me permiti ficar tão entretida por algo que definitivamente não quero?"
  Enquanto os olhos vão se adaptando novamente à luz do ambiente,percebo que não começa assim.  E começo a me lembrar: começou como uma fumaça, pálida, inebriante, sutil.  Que pode  encher qualquer ambiente, à partir do momento em que a noção de propósito se perde.
  E é extremamente tóxica, embora não seja desagradável aos sentidos. No início, proporciona um certo conforto, por aliviar as inseguranças que são praticamente parte das novidades. 
   Se parasse por aí, seria ótimo. Mas não é assim. Como controlar o efeito de uma fumaça invisível e invasiva, que se mascara sob sensações de conforto e adaptação?
 Impossível. Ela continua a se expandir. E no momento que envolve expectativas, sonhos e noções de propósito, se torna letal.
    É precisamente neste momento que me sinto intoxicada. Veja bem, não porque me considere melhor, ou mais esperta que qualquer outra pessoa. Mas apenas porque esses três " elementos", são vitais pra mim.
    " Tudo em mim é sentimento, e tudo se orienta para sonhos e propósitos". 
Assim, fico sem ar. Por isso, esse instinto de sobreviver, de fugir a todo custo.
  Se no seu caso, o conforto é vital, certamente discorda de tudo que eu disse, e minha percepção do que é mediocridade não é intoxicante para você.
  
 Não me leve a mal por isso. Somos diferentes. E você tem esse direito. De ser e pensar diferente. Assim como eu tenho o direito de não querer existir nessas condições.
   Quero o ar puro das possibilidades ,quero respirar em paz.
     E quando não entender qualquer coisa que eu diga ou faça, lembre-se: é porque eu não quero uma vida medíocre.
  
  

domingo, 31 de agosto de 2014

Conversa


  E aqui estamos outra vez. Eu e você, tentando chegar à um acordo razoável.    Conversar pelo menos. Sei o que você tá pensando : tá , fala logo o que você quer dizer, aí todo mundo fica feliz, e eu volto pro que eu preciso fazer.
  Mas não é bem por aí. Não vou ficar feliz só por dizer. Se você continuar igual uma estátua, mais uma vez, isso aqui não vai passar de um desabafo, uma sessão torta de terapia, ou qualquer coisa do gênero.
  Quero que você me escute, de fato! 
  Pelo menos considere as coisas que venho falando há tanto tempo.

  Como nunca falei sobre ISSO? Hellooo!!! Falo todos os dias! Pra não dizer o tempo todo.
“ Presta atenção, cuidado com quem você deixa te conhecer. Não é porque sorriu, e voltou uma ou duas vezes que essa pessoa quer estar aí. Você não sabe! Mal a conhece!”
 Só que você é teimoso pra caramba! Ao mesmo tempo que diz estar me escutando, vai formulando argumentos que derrubam os meus.
  Se agarra à detalhes, às mínimas coisas. Tudo porque de alguma forma que você nunca consegue explicar, se sente bem quando essa pessoa está aí. Como se o lugar que falta alguém, fosse justamente dela.
  Aí eu consigo muitas vezes, te passar listas bem razoáveis, sobre o porque você não deve dar moral pras suas impressões. E a maioria dos motivos são bons. Tem até semelhança com experiências passadas –ruins, vale ressaltar-  pra enfatizar o cuidado que você precisa ter.
  Aí você faz que me escuta, e fica repetindo tudo o que eu disse.
 Fico sossegado por um tempo.
 Mas meu sossego não dura nada:  basta um sorriso, uma fala boba qualquer, e lá ta você de novo, abrindo a porta, só faltando convidar pra jantar, ou sei lá!
  O que você não percebe, é que nessa brincadeira que você pensa estar no controle, você não está. 
   E na verdade, não sei quem está, porque eu aviso tanto...
  Aí, quando eu menos espero, tá lá outra vez: você deixou um estranho vir pra ficar. Num lugar que definitivamente não é pra qualquer um, embora seja de alguém.
  
 Tá eu sei, você só vai saber se arriscar. Mas cuidado! Os riscos são muito altos quando acontece tudo assim. 
  Você já viu esse filme: começa com sorrisos, olhares, e eu e você brigando pra manter tudo nesse nível. Até você se convencer de que : não precisa ter motivo, ( q absurdo!) , e vir com seu slogan de q pra mim tudo  é sentimento, como desculpa pra me ignorar.

  Eu sei que sou o mais fraco de toda essa situação. Sempre. De fato, pra você tudo é sentimento, e você tem o poder de irradiar isso pra todo lado, de forma que até meus argumentos se enfraquecem, e eu acabe deixando tudo como está.
  Afinal, apesar de estar bravo nesse exato momento, você sabe: não gosto de discussões. E precisamos manter um relacionamento saudável pras coisas caminharem.
  
 Enfim, você já sabe o que eu penso, eu sei exatamente o que você tá pensando também: que tudo que eu disse é válido, mas que tá na hora de arriscar.
  Nisso eu concordo. Só entenda por favor, esse meu medo. Essa vontade de te preservar pelo menos um pouco. Eu errei algumas vezes sim, mas já acertei também.
  
 Meu Deus, como é difícil falar com você! 
 Por que será que  esse “ tá” com esse sorrisinho não me convenceu?

 Sim, eu sei porque. Embora trabalhemos juntos a maior parte do tempo, você é sempre o mais obstinado de nós dois.
  Posso ter forçar pra muita coisa, mas raramente pra decisões. Espero que você esteja certo, pelo menos dessa vez.

   - tentativa e trecho de conversa entre cérebro e o coração, considerando que em alguns assuntos, eles são mesmo, extremamente opostos.



                              

sexta-feira, 18 de abril de 2014

TALVEZ

   TALVEZ, às vezes chego a pensar, que preferia que você não existisse.

 Sei que isso soa meio exagerado, mas é esse o tom que toca meus pensamentos e sentidos quando você aparece. 
  
 As batidas se intensificam; as vezes você acrescenta notas agudas e rápidas; e a música da alma se torna alegre.

 Mas outras tantas vezes, você intensifica notas graves e longas, ( nada contra as graves, gosto delas), e as batidas se tornam um pouco descompassadas, até se unirem ao som um tanto angustiante que você acaba provocando. 
  
  E basicamente as transições não são marcadas. Você é muito rápido em suas mudanças, não me dá muito tempo pra assimilar o que está acontecendo.
  
 TALVEZ , acredito que eu esteja cansada. Cansada das suas " infinitas possibilidades", que na minha mente fértil, oscilam na produção dessas melodias tão diferentes.
  Só quero um pouco mais de calma e certeza, pra variar. Por hora, talvez um " rallentando" já ajudasse.
( até porque, o silêncio também causa certos exageros em mim).

  Enfim, TALVEZ, não sei mais onde encontrar aquelas notas de esperança que sua existência geralmente  inspiravam pra mim. 

   Hoje seu exagero me faz mal.
 Então , TALVEZ, farei o que puder pra evitar ou disfarçar sua presença nos meus dias.

domingo, 16 de março de 2014

a brisa que vem chegando


   Aqui dentro, os pensamentos se atropelam. Empurram as horas, perturbam as obrigações e as coisas que já são feitas no automático.

  Lá fora, o sol brilha. O céu de um azul tão límpido, que parece brilhar tbm. Tudo está parado;

 Aqui dentro, as coisas parecem não caber dentro do tempo, e vão se sobrepondo, de forma que as vezes, parece não ter espaço nem pro ar mais...


Lá fora, as nuvens permanecem exatamente onde estavam, 

e tudo está parado.

Aqui dentro, os passos tem que ser rápidos, os movimentos certeiros, cada gesto muito bem pensado, e executado.


Lá fora, tudo está parado.


Aqui dentro, a culpa esmaga, no fim de cada linha escrita...não deveria estar aqui, deveria estar fazendo pelo menos uma das coisas que estão na minha lista.


E lá fora, tudo continua parado.


Aqui dentro, continuo no meu ato de rebeldia a mim mesma...e deixo escorrer pelas palavras, apenas gotas do turbilhão que só aumenta dentro de mim.


E lá fora, as folhas começam a dançar...é a brisa que vem chegando!


domingo, 2 de março de 2014

Passos rápidos


  Seus passos eram rápidos. Curtos. Firmes. Procurava não pensar demoradamente em nada naquela hora. Apenas continuar em frente, na esperança de que isso se refletisse de fora pra dentro.
  Não estava pensando nem mesmo nas ruas por onde passaria. Conhecia as possibilidades,então apenas continuava andando, sem parar nem mesmo para atravessar a rua, de forma que a pressa se tornou seu guia.
  Virou na esquina, ao perceber que precisaria parar e esperar um carro passar se continuasse em frente.
 Nesse momento, esbarrou em Alguém: "Oi, tudo bem?" As palavras a atingiram como um raio.
  Não sabia se estava feliz ou triste por ouví-las.
 " Tá", foi a resposta que saiu automaticamente. Tão rápida, que traduzia justamente o contrário. 
  Isso, porque as palavras têm que ser ditas. Caso contrario, elas dão um jeito de sair. Perpassam os gestos, a voz, os olhares....principalmente os olhares.
  Alguém percebeu isso. E nesse meio tempo, ela foi obrigada a parar por um instante, pelo menos para manter o curso " normal" das coisas, e se livrar rapidamente.
   " Não, não tá", foi o que ouviu, antes de sentir aquela onda de desespero aumentar dentro de si, e reunir todas as forças para se segurar , e não derramar todas as lágrimas que vinha juntando, justo ali, justo naquela hora.
  " Não, não precisa se preocupar, não é nada...to cansada só, vai melhorar"....falava enquanto tentava sair dali.
   A questão era que, parar, teve um efeito congelante em suas pernas, e simplesmente não conseguia se mover.
   Alguém decidiu ir além da cordialidade, e insistir: " vamos tomar alguma coisa, e conversar um pouco. Tenho certeza que seja lá o que for que você precisava fazer agora, não é mais importante do que tomar um café comigo".
  E falando isso, seguiu em direção a primeira lanchonete que viu. 
  Ela caminhava em silêncio. Não sabia como reagir...queria correr, queria ir embora e continuar seu caminho de apenas seguir em frente.
  Mas estava tão perturbada, por ter parado, por ter virado a esquina, por ter respondido aquele oi que não parecia levar a lugar algum, por não querer falar , mesmo sabendo que era o que mais precisava, que simplesmente o seguiu.
  Passos curtos, rápidos, mas não mais firmes. 
   Sabia que estava caminhando para o fim do seu disfarce. Sabia que ali, as máscaras que havia habilmente esculpido nos últimos tempos, já tinham começado a cair.
   E não sabia mais o que restava sob elas...mas Alguém estava disposto a descobrir. E isso não fez diferença apenas no ritmo, ou nas ruas por onde Ela caminhou dali pra frente...fez toda diferença pra Ela. 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Falta uma página


  Já faz um tempo que eu percebi. Faltou uma página. 
 Já leu um livro sem uma página?  É no mínimo, estranho. 
 Primeiro, você  fica mega confuso porque percebe que as coisas simplesmente não se encaixam. É a incoerência expressa na sua frente.
  Você relê, várias vezes, tentando entender alguma pegadinha do autor, até que se lembra de olhar o número da página. E tá lá : a página 72 / 73 sumiu!

 Aí você decide procurar, em todos os lugares. Todos mesmo. Primeiro, os óbvios: estantes, bolsas, embaixo de almofadas....daqui a pouco, se vê procurando em locais absurdos : banheiro, dentro da geladeira ( vai saber né?) meio das roupas. 

  Não tem como ler o livro sem uma página !
 Dias, semanas. Perdeu a conta já... e nada.Digamos que depois de um tempo, você se conforme com esse sumiço. 
 Eu pelo menos, a essa altura do campeonato, me conformei.; retomo a história. ( não sei se é bem um conformismo. Quem tiraria uma página da história? pra quê? Surgem tantas perguntas, que se torna melhor não pensar em nenhuma delas).
  Tenho duas opções: imaginar algo que preencha esse espaço vazio (não é uma boa opção se sua mente for fértil, já vou avisar. Cabe muita coisa antes de voltar a fazer sentido. Cabe qualquer coisa que justifique o sentido que você quiser dar daqui pra frente).
    A segunda é boba: relevar, fingir que NADA aconteceu.
     Nas duas opções, fica um vácuo, uma sensação esquisita. FALTA algo, e ignorar isso ou inventar outra não muda esse fato.
   Isso porque a história se tornou disforme. Não tem mais tanta graça, como tinha antes.
  Dá pra procurar a página....de novo. Dá pra deixar essa história incompleta na estante, e começar outra.
   Mas dá pra preencher a falta dessa página, sem encontrá-la ? 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

É só querer?

" Basta você querer".

 A bendita frase, clichezíssima, que ecoa nas bocas, nos olhos, nas frases soltas, na nossa própria mente.

 Mentira daquelas, que parece bonitinha até, e que nós engolimos, sempre com esperança.

 Sério, não quero aqui, partir pra ignorância total e generalizar. Dizer que isso NUNCA é verdade, ou NUNCA é bom 
( até porque, NUNCA é só uma dimensão de tempo, indeterminada temporariamente...antes de perceber, nós mesmos a determinamos, e a palavra perde o sentido. Enfim, volta Gabi)

  Vamos falar a verdade: Quantas coisas você já quis, e não conseguiu, e sabe que não vai conseguir ?

 Não precisa se limitar a " coisas" propriamente ditas. To falando aqui de sonhos, vontades, planos, desejos...tanto cabe nessas palavras não é?
  Nem sempre o que queremos é um impulso consumista. Nem sempre é injusto, ou irreal. 
 E aí, quando não conseguimos, e sabemos que não vamos conseguir ( por n motivos),essa bendita frase surge. Enchendo nossa vida de culpa...de frustração...as vezes de desprezo por nossa limitação.
  Fala sério gente, tudo que não conseguimos é por que não queremos o suficiente? TUDO mesmo?
  Eu,como sonhadora que sou, discordo e muito dessa frase. Se tudo que não tenho ou não consegui é porque não quis o suficiente, posso me considerar um caso sério de passividade. E na boa, não é bem por aí que as coisas caminham né?
 Antes que isso se torne um post muito revoltado, porque NÃO FOI ESSA A INTENÇÃO ,rs, vale dizer que a ideia tinha mais a ver com " menos culpa, mais satisfação" sabe?

  Não deu? a culpa não é exclusividade sua, Aliás, nem sempre é questão de culpa. O tempo passa, e depois entendemos milhões de livramentos em sonhos não realizados.


 Eu quero, um tanto de coisas.Sei que algumas, vale a pena esperar, ou lutar....outras ainda não decidi...e outras tantas, sei que vão ficar um tempo ainda aqui comigo, no campo dos " sonhos".

  Sei, definitivamente, que não terei TODAS elas. 
  E isso não é motivo pra desistir da vida, ou de sonhar, ou desculpa pra ser um ser humano amargurado.
 Prefiro acreditar que querer essas coisas faz parte de mim, e do processo de transformação que vivo...e que isso já vale muito a pena.
 Afinal, ser é mais importante do que ter, não é mesmo? Então! 
  Não basta querer....mas isso não é tão ruim quanto parece. :D


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Coragem


  " Coragem não é simplesmente uma das virtudes, mas a forma de todas as virtudes, quando estas são testadas" C. S Lewis

  Hoje eu tinha que falar sobre isso. Porque a gente sabe, que tem dia que precisamos disso até pra abrir os olhos.

  São tantos desafios...e com eles, parece que de "brinde" vem o medo. Em graus diferenciados, mas sempre vem.
  Meu foco não é explorar o medo em si, porque isso renderia um livro da minha parte. Sério, conheço ele muito bem, nas mais diversas apresentações de sua realidade, nos mais diversos graus, nas mais diversas circunstâncias. Mas como não curtia a companhia dele, não vou dar moral pra ele aqui não. ;)

  Só que pra falar de coragem, acabo falando um pouquinho ( só um pouquinho mesmo rs) do tal medo. Quem conhece ele, sabe que o mais fácil, o mais óbvio quando ele chega, é não manda-lo embora. É se render. 

  Já a coragem, me parece justamente o contrário. Tenho visto ela como a decisão, a atitude, por menor que seja, que se opõe ao medo; que vai contra a estagnação. Que se opõe ao seu domínio e, ironicamente diz: Hei, não tenho medo de você! rs

  Tenho vivido isso! E quis compartilhar, porque isso não é mérito meu. 

  Sei que não..se existe algo bom em nós, que atua em nós, vem de Deus...e Ele, aparentemente, decidiu que finalmente chegou a hora de vivenciar a tão esperada coragem!

  Não é fácil, natural e heroica como nos livros e filmes que gosto de ler...


 Ela é exigente sim. Exige fé, confiança, no mínimo disposição...exige perspectiva pra além do "aqui e agora."

 Mas posso dizer que é MUITO mais emocionante, se levantar (ainda que com todos os tremores e temores, com toda a adrenalina, e visão meio embaçada) e dar um voto de confiança pra esse momento, o momento onde a virtude é testada....do que simplesmente deixar o medo vencer. Seja ele qual for.

 Porque a vitória da coragem de fato nos enobrece, nos inspira.... 
e é isso que desejo pra você que tá lendo isso aqui.
   Tem sido muito bom passar por isso, e ver que é possível!
  
 Ah, e claro, a coragem só aparece depois que o medo dá as caras....fica ligado!  Não sei se "sozinha" sou  suficiente pra escolhê-la...mas sei que o Espírito Santo de Deus, nos dá a graça necessária para recebê-la.

   E aí? o que você vai escolher agora? 


  


   

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Mexendo na Gaveta

 É como abrir uma gaveta. Daquelas cheias de coisas diversas, sabe? Coisas que não se encaixam em nenhum outro lugar, e aí, vão pra gaveta! 
  E lá, parece que sempre cabe, que sempre fica "ótimo". Parecem bem guardadas, parece que a gente sempre vai saber onde estão.
 As vezes isso acontece, as vezes não. 
   (Mas não é bem de uma gaveta que eu queria falar..fui  estabelecer um tipo de comparação, e quase mudei tudo aqui ! Voltando:)

  Lembranças. Essa era a idéia...elas se parecem com as coisinhas preciosas que guardamos sem conseguir classificar muito bem. Meio que se classificam com o tempo.

  Na gaveta é assim: tantas vezes abro pra guardar algo, vejo outra coisa lá, e me dou conta de que existe um lugar melhor pra guardadá-la agora! 
  E não dá outra : acabo mexendo em muito mais coisas do que tinha planejado.  Acabo selecionando coisas que já podem ser jogadas fora, outras q não consigo jogar fora, (e permanecerão ali até só Deus sabe quando) ou me dou conta de que existem lugares mais " apropriados" para guardar aquilo que até hoje esteve ali.
  
  Lembranças. 
 Algumas, percebo que já podem ser jogadas fora. Independente do tempo que estiveram ali, percebo que não faz mais sentido que permaneçam...onde quer que seja. E decido jogá-las fora.
  No tal lixo do " esquecimento" (diga-se de passagem, lixo meio traiçoeiro esse).
 Em seguida, me deparo com aquelas que parecem estar no lugar errado. Com essas é um pouco mais fácil, afinal, é só "trocar de lugar". 
  Pode significar mais acesso à elas. Um novo valor atribuído.
 Mas aí, bato o olho em outras, que me causam sentimentos tão diversos , e as vezes contrários, que me vejo perdida...tentando entendê-las melhor. 
  Nem sempre é possível, nem sempre é agradável também. Acaba sendo aquele momento de " concessão, de segunda chance" . 
  Posso até ter "visto" que elas não possuem nenhum motivo para ficar, além do fato de eu não querer que elas saiam. E isso , de repente, se torna suficiente pra deixá-las ali. 

  Honestamente, não sei te dizer o lugar específico dessas lembranças...onde é a gaveta. Pode ser a alma, a mente, o coração, tudo junto...depende do que entendemos por cada um deles.

  
         Sei que minha gaveta tá nessa fase de arrumação. E estou doida pra ver logo como é que vai ficar! =D
Até porque, to precisando de espaço. Coisas novas acontecem todo instante.
   E percebo que essa gaveta pode, e deve ser mais " movimentada " do que tem sido :D


 


 

 

domingo, 19 de janeiro de 2014

Mudei. - ( escrito em 1 de janeiro de 2014)

   Há um ano atrás, a única coisa que eu sabia era que nos mudamos pra Campo Mourão, Paraná.
 Mas não fazia ideia que na verdade, o que realmente estava acontecendo, era que Deus estava mudando minha vida, com certeza para sempre, através desse lugar.
    Já mudei de estado antes ( por períodos menores). E sempre sonhei em continuar me mudando....rs...conhecendo lugares e pessoas, vivendo coisas diferentes.
     Dessa vez porém, foi diferente. Tinha muitas expectativas em jogo:            - -Primeira vez que me mudava junto com minha mãe e irmãos
-Primeira vez que não teria um lugar estabelecido pra voltar
-Primeira vez que não recebi um cronograma, ou um manual me dizendo mais ou menos o que eu deveria levar, o que deveria acontecer.
  O que permanecia igual? A certeza de que Deus estava nisso. De que foi ELE quem planejou, e nos conduziu...em absolutamente cada detalhe até aqui, e que isso no mínimo garantiria uma aventura e tanto.
    Até então, eu não curtia aventuras. Nem novidades e surpresas. Tenho quase certeza que foi no caminho pra cá que isso mudou.
     Ah tinha um medo enorme também, por causa da faculdade...sonho morto e ressuscitado numa hora tão inesperada!
     Fora todos os outros medos “normais”. Tinha pré-conceitos...e uma aradura “básica” pra me manter de pé no meio de tantas mudanças drásticas.
  Mas nada disso permaneceu, graças a Deus!

 Mudei pra CM e CM me mudou!
  
 De forma que é difícil expressar isso em palavras....por mais que ame fazer isso.
  O melhor é que NADA do que eu esperava aconteceu, e com isso, aprendi a gostar de receber surpresas.
  Conheci muitas pessoas incríveis, sem dúvida. Umas se deixam conhecer mais que outras, e por isso se tornam mais próximas.
  Perdi contato com outras tantas, infelizmente. Mas descobri que apesar da distância, muitas continuam tão parte da minha vida, da minha história quanto antes, e isso é ótimo!
   Poderia escrever uns 365 textos diferentes sobre esse tempo.
 Sobre o lugar. Sobre a paisagem, o clima, as pessoas, a comida, a cultura, o modo de falar, sobre as roupas, os costumes, sobre a igreja, sobre a faculdade, sobre dificuldades e aprendizados, medos e esperanças, sonhos e realizações, sobre o que ressuscitou e o que morreu, sobre mudanças internas e externas.
   Mas prefiro focar na palavra que Deus me deu ao vir pra cá: ressurreição.
  É de fato perfeita para descrever este ano.
  Foi um tempo de ressurreição, e isso explica o fato de me sentir mais viva do que nunca.
    Poderia dizer “ mais feliz”, mas “ mais viva” é bem mais adequado.
 Por isso também, tanta coisa parece mais bonita,e  me vejo prestando mais atenção em detalhes que antes pareciam bobos. Porque apesar da palavra “ morta” ser muito pesada para descrever períodos anteriores, posso dizer que  muitas coisas estavam de fato nesse estado. Principalmente sonhos, e percepções.
    E o engraçado é que acho que nunca deixei de sonhar! Mas enterrei muitos. E aqui foram esses mesmos que Deus resolveu trazer de volta a vida.
  Confesso que não lembro desse momento de transição com muita clareza. Sei que doeu sim, que não foi tão fácil como parece hoje. E que exigiu uma certa rendição, e coragem.
   Mas hoje me vejo tão diferente de um ano atrás, e ao mesmo tempo tão mais “eu” do que jamais fui, que fica difícil distinguir o que exatamente mudou.
 Aliás, não gosto dessa palavra. “ exatamente”. É muito limitada pra mim.
 Aqui, me sinto como num daqueles filminhos, onde você vê algo distante, de uma perspectiva bem geral, e o foco vai diminuindo, diminuindo, você vai entrando em lugares menores que você jamais imaginaria existir, se não fosse o foco que a câmera vai dando.
   Não esqueci a perspectiva geral. Mas creio que Deus me trouxe aqui pra me mostrar “ detalhes essenciais” da história que estamos escrevendo juntos.
   Ele apontou o foco pra mim. E pela primeira vez não me sinto mal por isso. Nem egoísta, ou desapontada.
 Pelo contrário, me sinto feliz, me sinto animada, e me sinto tranquila com o que vejo. Uma aventura e tanto isso !!!
  E isso é resposta de oração de anos.É o encaixe que eu precisava pra crer em tudo que Ele tem me dito há anos também. Enfim...
  Vi uma frase, do Teófilo Hayashi, que dizia mais ou menos assim:
 "Deus nos muda de lugar para mudar a roupa da nossa alma”
   É um privilégio estar aqui. É um privilégio receber essas novas roupas de Deus .É um privilégio fazer parte dos planos de um Deus tão Poderoso e Amoroso, e saber que “ todas as coisas cooperam para o bem dos que O amam.”