sexta-feira, 10 de setembro de 2021

1 ano

Já faz 1 ano. Parece que foi ontem que a sra estava aqui.

Só faz 1 ano. Parece que esse vazio e essa dor imensas estão aqui desde sempre.

Já faz 1 ano, e eu continuo sonhando com a sra viva, rindo e falando: lembra quando vocês pensaram que eu morri?

Só faz 1 ano que a sra não está mais aqui. E eu ainda falo “ minhas tias” como se estivesse. Como se ao chegar em SP eu ainda pudesse ir na sua casa pra no mínimo tomar um chá e desabafar.

Já faz 1 ano que me vi levantando de madrugada no meu turno do clamor pra orar e até dançar com todas as minhas forças.

Só faz 1 ano que não restam muitas palavras, ou forças pra fazer muito menos que isso.

Já faz 1 ano que comemorar qualquer data especial se tornou uma mistura de uma forma de te honrar, parte do seu legado com a falta absurda que a sra faz.

Só faz 1 ano que essa falta parece preencher tudo, espaços, sons, e é uma falta tão absurda que faz parecer muito mais.

Aliás, já faz 1 ano que tudo perdeu a cor e o brilho. Sério. Até as flores, os pássaros, até o mar. Tudo que você olhava e dizia “ Meu Pai que fez”. Consigo ouvir você me dando bronca se me visse falando isso. Você diria “ quê isso Gabriela, tá maluca?”

Só faz 1 ano que tudo ficou meio opaco. O som distante. Parecendo aquelas cenas de filmes que mostram algo do “passado”.

Já fa 1 ano que cada um tem tentando se reinventar.

Já faz 1 ano que quase nada parece realmente importar.

Porque na verdade, 1 ano é tempo.

Mas passou tão rápido! Como eu queria nem pensar nesse dia, e aqui estamos.

E já foi. Mas dói. Como todos os outros. Como em ondas.

Na verdade, 1 ano é tempo.

E passou tão devagar! Principalmente aquelas horas que pra acordar, a primeira coisa a pensar era:  foi só um pesadelo, um dos piores, mas não é possível, é só um terrível pesadelo. E não era.

Como eu queria não acordar com essa ideia de que tem tanta coisa pra enfrentar.

Enfrentar mesmo por enquanto. Porque por enquanto, o luto ainda é luta que se faz presente, de tantas formas, com tanta intensidade.

Maioria lágrimas sim, mas muitas vezes raiva. Algumas vezes, risos dos momentos engraçados que foram muitos graças a Deus.

O que nunca muda é o vazio; esse vazio gigantesco que parece ter colocado tudo em outra perspectiva. Sabe aquelas cenas que o som fica distante, as cores opacas e pouco foco?

Foi assim esse 1 ano.

Mesmo com 1000 coisas acontecendo. Tudo parecia desfocado. Deslocado. Tudo fora do lugar.

E você não está mais aqui pra organizar, arrumar, transformar, embelezar, ensinar, alegrar.

Mas a gente tá. E tentando se ajustar. Nesse “ por equanto”, que as vezes dói pra valer e a impressão que dá, é que é eterno.

Mas eterna é você tia. O choro não. A dor não. A falta não.

Eterna é você, que na vida e na morte continua me fazendo olhar pra Jesus, olhar pro céu, e querer mais que tudo estar com Ele. Aqui e eternamente.

 Já faz 1 ano, só faz 1 ano. Saudades que não são eternas, mas são enormes.

É isso. Te amo sempre.