segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A mistura de pó e glória

  Não é sempre, mas algumas vezes as palavras somem. Outras elas parecem não expressar bem o que gostaríamos, tamanha a intensidade das experiências que temos.
 
 Vi essa frase há um tempo, já havia pensado em escrever alguma coisa sobre, por ser tão verdadeira, e tão próxima do que eu estava pensando.
  E hoje eu queria falar sobre depressão. Sobre esse vazio imenso que se instalou em mim esses dias, e do quanto eu parecia cada dia mais engolida por ele.
 Mas também queria falar sobre a misericórdia de Deus. Sobre o quanto Ele é incrível, e nos resgata não importa quão profundo estejamos afundados.
Sobre Ele não desistir. Sobre sermos pó, mas também sermos essa mistura linda de pó e glória. E sobre Ele ser o Oleiro, e nós o barro. Sobre Ele nos moer mas refazer também....

  Por isso, talvez aqui não caibam metáforas...talvez seja necessário eu ser mais explícita:

 Era como se eu estivesse me desligando do mundo lentamente.
 Não, não era uma fuga. De fugas eu entendo bem. Me aprimorei tanto nelas com o passar do tempo que conseguia transformar qualquer coisa em fuga, e “ voltar” quando sentisse que podia ser descoberta, ou quando estivesse mais segura. Se tornou um hábito, uma coisa automática, quase natural. Mas eu decidi não fugir mais há um tempo. E mesmo não sendo muito fácil, estava conseguindo.
  Então eu sabia que não era fuga...principalmente porque não era algo que eu estivesse controlando, ou tivesse decidido. Parece mais um buraco, que a gente cai e parece não ter fundo, nem paredes pra subir.
  Os sons vão ficando cada vez mais distantes. A luz também. Firmeza não existe, nenhuma. 
É uma luta pra respirar, pra tentar manter os sentidos em algo real, pra quem sabe encontrar uma saída, ou um fim pra queda. Porque a impressão que dá, é que estamos em queda livre. E ela é lenta. E te afasta cada vez mais de tudo e de todos. Mesmo que não pareça.
  É como se o mundo, fosse sumindo do seu alcance. E quando digo mundo, é tudo que ele representa, com todas as suas dificuldades e possibilidades.
  As cores vão ficando cada vez mais opacas, as imagens cada vez menos nítidas. Os sons se transformam em silêncio ensurdecedor, porque a mente grita. O tempo todo.
  Nada mais faz sentido. E não é que tudo precise fazer... A gente sabe que a maior parte das coisas estão além da nossa capacidade limitada de entendimento, e aprendemos a lidar com isso, cada um a seu modo. Mas quando todo o sentido se esvai, as coisas mais simples se tornam fardos. O tempo, uma tortura. Até que você chega naquele momento do “ tanto faz”.
  A indiferença. Pra mim, uma das coisas mais mortais que existem nesse buraco. Perceba que aí não há mais tristeza, ou angústia que se externalizem. Essas muitas vezes sufocam, mas se transformam em alívio e coisas boas quando passam.
 A indiferença não. Quando não há mais lágrimas, ou gritos, ou vozes, ela chega invadindo tudo com esse vazio, que ocupa um espaço imenso. Não chamaria de desespero, porque no desespero a gente sente vontade de sair. A gente grita, a gente sente algo.
  Ali não. Só silêncio em tudo. Porque tudo já está muito distante.
  A esperança desaparece, e no lugar dela, a certeza que é o fim. E se não for, é melhor que seja. Porque parece impossível que algo mude, ou melhore.

 
Eu caí. Não foi a primeira vez.  Não me pergunte como, ou quando. Quando me dei conta, já estava caindo.
  E a gente luta, tenta se agarrar em qualquer coisa, olhar pra cima, tenta achar uma luz, uma voz, alguma noção da realidade que a gente sabe que existe.
  Eu fiz tudo que dizem ser suficiente pra não cair, cultivei e mantive os hábitos saudáveis que todos ensinam pra não chegar nesse ponto. Eu me esforcei. De verdade. Porque já havia caído uma vez. E sabia o quão horrível isso é. Mas por mais que os esforços ajudem, eles não alcançam o principal...a alma. O interior. A minha estava em frangalhos. Moída mesmo, não tem outra palavra.
Não vou dizer que foi apenas isso...sei que existem questões químicas, fisiológicas, e tantas outras que também influenciam muito.
Mas sei também que quem nunca passou por isso, não entende. Pensa que é drama. Que é falta de inteligência emocional, maturidade, ou algo assim. Que é “ não saber lidar”. Que basta crescer, se tornar mais maduro, ou mais duro também. Consigo e com os outros.
  Mas sabe, eu espero realmente que você que nunca passou não precise passar pra descobrir que está errado. Que você também não precise conviver com alguém que passe por isso, pra perceber que seus conselhos , geralmente superficiais,não resolvem.
  Sei que existem diversos caminhos comprovadamente eficazes de sair de lá. e que não é o mesmo pra todos.
  Eu saí de lá, as duas vezes, com um resgate incrível do Amado da minha Alma. Sim, Ele foi tão fundo quanto é possível, porque o Amor Dele é implacável. Poderoso. Irresistível. Libertador. 
 E Ele não desiste!
 Eu sei que Ele nunca me abandonou. Nem mesmo nesses momentos de escuridão profunda. Ele estava lá. Ele era a Vida, o Ar que me manteve viva quando tudo em mim dizia que eu não queria mais estar.
 E eu sei que Ele nunca me disse que não passaria por isso...o que Ele disse foi que estaria comigo.
  Nas vezes que estive próxima de cair nesse buraco, questionei qual era a vantagem de crer e confiar Nele, se isso não me protegia de todas as coisas que me quebravam. Pelo contrário, parecia muitas vezes que eu passava mais vezes por esses processos do que pessoas que pareciam estar no controle de suas vidas.
 Mas foi lindo o que aprendi estando quebrada: não é apenas uma vantagem, é uma esperança de vida eterna.
 Somos barro, parecemos duros mas somos frágeis, e diante de golpes nos tornamos pó. A única coisa que pode nos refazer, nos transformar de pó em algo novo, é a Agua da Vida ( Jesus), misturando-se conosco, nas mãos do Oleiro ( Deus). E nos fazendo essa mistura de pó e glória.
  Ele sabe o que está fazendo. Sempre. Mesmo que eu não saiba ( e geralmente, eu não sei mesmo rs).
 E é nesses momentos, onde somos resgatados, com esse Amor tão doce e ao mesmo tempo tão forte, que nos damos conta que tá tudo bem não saber, tudo bem não aguentar, tudo bem se eu cair. 
  Tudo bem não conseguir controlar minhas próprias emoções tantas vezes...tudo bem ser fraca, porque é o que eu sou, e com Ele posso ser qualquer coisa.
  Ele Sabe, Ele segura, Ele nos levanta, Ele nos aquieta, Ele nos fortalece. Ele nos transforma. 
 Ele é simplesmente muito mais do que qualquer palavra pode expressar. E não expus essas coisas pra falar de mim, mas Dele. 
 Pra que você que está lendo saiba, que não importa quão fundo pareça o buraco, quão escuro, ou quão sozinho você se sinta hoje, o Amor Dele te alcança, e não desiste!



 créditos: 
Fotos : Tumblr
Vídeo: Bethel Music
Ressignificado: João Doederlein ou @akapoeta