quarta-feira, 25 de março de 2020

Tudo o que não é eterno...


Não tenho tempo”- eu já estava mais do que acostumada a dizer. De repente, aquele que parecia o algoz dos meus dias, o que me limitava e castigava justamente por sua falta, passou a preencher de forma tão abundante, que nem parece a mesma vida.
  E na verdade não é. De fato, tudo muda o tempo todo, mesmo quando não percebemos. O Que aconteceu agora, é que nossos olhos estão abertos, e atentos. Nossos sentidos estão captando, o que sempre esteve aqui.
  Não estou romantizando uma situação de caos. Nem quero trazer “ dicas” ou ideias pra você passar a quarentena.  Não quero negar a realidade, ou focar os meus olhos pro que vemos, pq o real é muito além do que se vê.
  Na verdade, senti apenas vontade de escrever. 
  De pôr pra fora, um pouco, talvez um milésimo de tudo que está aqui dentro sabe? Talvez te ajude, ou te traga algum sentimento bom( Isso seria maravilhoso!) ou não. Mas não se ofenda, não é por isso que estou aqui, primariamente falando.
 De início, sim, fiquei realmente preocupada e pensando em formas de “ permanecer junto” com pessoas fisicamente distantes. Pessoas que sofrem de ansiedade, assim como eu já sofri tanto. Saber que o medo estava simplesmente inundando vidas por aí fora, me fez querer falar com todo mundo que eu conheço e me importo de alguma forma, e dizer : hey, to aqui. Pode vir falar comigo se quiser, estamos juntos nessa!
 Mas logo percebi que seria impossível estar disponível pra tantas pessoas em uma medida que realmente fizesse diferença na vida delas. Um sentimento de frustração e impotência quase me derrubou. Me vi tentando achar “ meios”, afinal , faz tempo que eu sei, de alguma forma, minha personalidade ou sei lá como você quiser chamar, é orientada sempre pra pessoas. Que eu amo, que eu estou conhecendo, que eu aprendo, e até muitas que eu nunca vi pessoalmente.
 Porém hoje, aquela certeza óbvia, mas que estava meio escondida no meio dos meus pensamentos pareceu me encher mais uma vez: se eu não estiver bem, não posso ajudar ninguém.
  Aquele silêncio na alma. Um senso de responsabilidade mais forte do que consigo expressar aqui. Preciso estar bem.
  Aos poucos, pensamentos que já estavam nos meus dias desde que “ ficar em casa” se tornou absolutamente necessário, foram se tornando mais fortes, mais claros, com mais cor.
 Fomos obrigados a parar. E voltar para dentro de casa. E nessa volta, voltar para dentro de nós. Isso soa mais bonito do que realmente é.
  Porque repare, não há mais fugas. Talvez você seja uma pessoa bem resolvida, mas eu ainda não cheguei nesse nível.


  Tudo o que preenchia nossos dias, todas as tarefas, programações, se esvaíram como fumaça.
  Eu que sempre desmarcava os rolês, ou deixava pros dias que “ desse tempo”, percebi o tempo que perdi ao fazer isso. Quantas amigas e amigos deixei de estar perto porque estava com a agenda muito lotada.
 Agenda lotada que sinceramente, era um fardo absurdo. Que nem eu entendia muito bem por quê realmente me submetia a ela. Que me fazia todos os dias pensar em bons motivos pra continuar. Porque nenhum parecia bom o suficiente....a certeza de que minha vida era medíocre era uma luta constante. Volte e meia me derrubava. Me fazia entrar naquelas crises de choro, e desespero, e de reelaborar tudo, e voltar, “ até que as coisas mudassem.”
  Percebi ontem que tarefas que gosto de executar, estavam tão mais leves! 
  Eu não estava mais fazendo algo pensando em “ tudo que ainda tenho que fazer depois”. Aquele sentimento horrível de “ não estou dando conta, não sei o que fazer pra conseguir dar conta de tudo” passou, e hoje parece tão distante!
  Pra mim é tão nítido que de repente, o que realmente importa, o que realmente vale a pena, preencheu o meu dia, e isso me traz uma alegria e uma paz difíceis de expressar.
  Talvez você esteja se perguntando, se não estou preocupada. Porque falando assim né, sei lá.
  Estou. Sei que essa paz que estou sentindo nos momentos que descrevi ali, é justamente aquela da Bíblia “ que excede todo entendimento”, e é difícil de explicar.
  Porém nos momentos que penso na crise que toda essa situação desencadeou, em prováveis consequências econômicas, sociais, enfim...claro que meu coração se torna pequeno nessas horas.
 Estamos literalmente quebrados.
  Porém já fui quebrada. Mais de uma vez. Dessas quebras onde parece que não vai sobrar nada. Que parece que é melhor que seja o fim, porque não consigo enxergar condições de continuar, ou reerguer mais uma vez.
  E GLÓRIA A DEUS, sempre tem. Ele sempre me tira desse poço de desespero, onde pra mim só existem cacos, ou cinzas, e faz de novo. Com toda paciência e Amor que só o Oleiro poderia fazer.
 Então sabe, dessa vez, não estou “ me segurando “ em nada.
 “ O secreto” deixou de ser um lugar e um tempo específico da agenda, pra que eu me torne esse lugar - como aquela música que eu gosto tanto de cantar.
  É como se realmente, de uma forma muito concreta, “ tudo o que não é eterno, tenha se tornado eternamente inútil”.
 Coisas simples e rotineiras perderam o lugar de importância. E parece que em todas elas, o Senhor tem me ensinado sobre a essência...sobre o coração.
  É até engraçado falar. Porque a gente sempre fala. E ouve. E lê. E canta, e prega. E vive, de certa forma. Mas é como se a profundidade tivesse aumentado.
  Eu honestamente queria dizer aqui que o dia todo mantenho meu coração e olhos nas coisas que são do Alto. 
 Que estou focada e conseguindo me cuidar, em todos os aspectos antes de querer estar, conversar, servir alguém.
 Que estou curtindo minha família. O presente. As “ pequenas coisas”.
 E graças a Deus, na maior parte do tempo, o Senhor tem me dado essa graça; porque claramente não vem de mim.
 Mas não é sempre assim. Tem horas que a gente sente medo. E impotência. E ansiedade. Frustração também. E tantas coisas difíceis de lidar.
  Mas mais do que nunca, não são dias de atentar pra isso.
 O medo não tem a palavra final! O desespero também não. Não são dias simples. Pois agora que " temos tempo" nos demos conta de que não temos todo o tempo do mundo.
 Provavelmente o mundo como o conhecemos nunca mais será o mesmo, porque acima de tudo, nós não seremos os mesmos.
  E sinto, com todas as minhas células,  alma,  fé e entendimento que “ quem sabe não foi para um tempo como esse?” ( se você já leu Ester, sabe do que estou falando). A certeza só aumenta de “ Não somos dos que retrocedem”.
  “ Conheçamos a Deus e esforcemo-nos por Conhecê-LO”. Pq Ele virá! ( Oséias 6:3, um dos meus versículos mais amados, se é que posso dizer assim ).
  E sinceramente, não importa se até lá todos os sonhos e promessas e planos que eu achava que eram Dele se cumpriram. Mas se eu O Amei de todo o S2. Se isso trouxe glória pra Ele. E se aqueles que ainda não O conhecem, tiveram essa oportunidade.
  Ekballo e Maranata!


23 de Março de 2020

Imagens: pesquisa no Google

segunda-feira, 16 de março de 2020

Tempo de voltar

   Eu sempre achei que deveria saber o quê queria dizer antes de escrever. Quer dizer, nem sempre.
 De uns tempos pra cá, acabei me convencendo disso. Sendo que é justamente o contrário:  exatamente quando não sei, que mais preciso escrever. É exatamente nesses momentos que não sei definir nada, que preciso vir aqui e deixar as palavras escorrerem, naquele turbilhão que muitas vezes me sufoca por não deixá-las livres.

 Sim, eu falo muito. Sou super expressiva. Mas também me calo, engulo, me contenho, guardo, muitas vezes disfarço muito mais.
 Por educação. Por falta de ocasião. Por não saber o que dizer.
 Pra evitar a dor. O julgamento. A culpa. O medo. O confronto.
 Evito tantas coisas, mas carrego tudo comigo, e uma hora ou outra, tudo começa a escorrer por entre os poros, as mãos, as falas. Vira dor. Pesadelos. Tanta coisa ruim.

  É Por isso que voltei. Na verdade, não tem como não voltar: são 20 anos.
 20 anos que encontrei aqui o meu lugar. Ainda que quase ninguém saiba. Ou veja. Ou goste. Ou entenda.
 Foram tantas histórias! Diários, Poemas, novelas, Redações, relatos, até um livrinho de poesias!
 A Palavra me transforma. Me aguça. Me desestabiliza muitas vezes.
 Mas é ela que outras tantas me traz pro prumo de novo.

 Uma vez eu li que escrever era " como ter fogo nos ossos" que só parava quando a gente escreve. 
 Algo assim, do Eugene Peterson.

 Meus ossos estão queimando.
 Realmente " não tenho pra onde voltar", e ouço a voz do meu Amado há algum tempo dizendo :   Você precisa escrever!
  Então Senhor, Eis-me aqui!