segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

2017 : o Outono e o Inverno passando...

   2018 já chegou há um tempinho. A essa altura, eu já teria escrito e publicado alguma retrospectiva .“ Somos feitos de histórias” já dizia Eduardo Galeano, e 2017 teve tantas!  Além disso, não acredito que a vida se organize conforme o calendário, embora ele ajude. Mas pra mim, o tempo se faz muito mais por estações do que por dias, meses e anos. E o ano que passou teve duas muito bem definidas, embora ao estar nelas eu não tenha percebido tão claramente: foram dias de outono e inverno. Talvez não tão indistintamente definidos, igual o clima mesmo.
   Começou com muitas reservas e inseguranças caindo literalmente, logo no dia primeiro: minha irmã fotógrafa - talentosíssima e insistente- não desistiu de mim e fez um ensaio impressionante. Até então eu não conseguia ficar na frente da câmera sem morrer de rir, ou morrer de vergonha. 
 Mas foi uma experiência tão incrível e assustadora, que poderia dizer que era já um prenúncio do que seria o resto do ano: um " outono” cheio de descobertas , onde foi essencial saber que independente das folhas que estavam caindo, ainda existia uma raiz.  Perceber isso, me fez derrubar ainda mais folhas de vergonha, de complexo de inferioridade, medo e dúvidas.
   Nesse processo, participei de uma oficina de contação de histórias, e lá me descobri finalmente como contadora, mesmo fazendo isso há algum tempo. Ali me firmei  como alguém que sabe o quê faz e o por quê  faz. Lá descobri " minha voz". 
  Tempo cheio de novidades, sustos e desafios, e alguns até transbordaram em forma de textos por aqui. Mas escrevi muito menos do que eu gostaria. Incrívelmente menos. 
 De início, pela correria: eu não parava nos primeiros meses, tudo parecia muito promissor, e eu tava a mil por hora! Comecei a ministrar na célula das meninas -um dos melhores presentes que recebi na vida-  contei histórias no acampamento e no culto das crianças, tinha a academia, e tantas coisas boas, que parecia que mesmo com as folhas caindo, eu tinha finalmente encontrado meu “ lugar”.
     A questão é que o turbilhão tem seu preço, e começaram as doenças e dores contínuas. Muitos repousos forçados. Muita raiva e frustração. Sempre fui dura comigo mesma: não admito erros. Não admito falhas. Não queria admitir estar doente também não. Até porque repousos forçados são terríveis. Alternava entre gripes fortíssimas, enxaquecas horríveis, resfriados esquisitos, e do meio pro fim do ano até uma anemia eu descobri.
  Isso me fez pensar, porque nunca fui de ficar doente. As constantes interrupções que a dor ou as gripes causavam, me tiravam do eixo completamente. E pra voltar o mais rápido possível, comecei a considerar o que estaria acontecendo num nível mais profundo do que a minha imunidade por exemplo.
 Descobri quase tudo sobre chás e remédios, por leitura e experiência. E muito sobre mim também. Descobri por exemplo que lidava de forma bem estúpida com todo e qualquer nível de dor e machucado que tivesse. Tenho péssima noção espacial, normal aparecer com roxos, cortes e arranhões que não faço ideia de quando e onde aconteceram. Quando eu vejo já foi, já tá doendo, só me resta remediar. As vezes até ignorar. Mas se isso já é ruim, imagina fazer a mesma coisa a nível de alma também? Obviamente eu não tinha percebido. E todo meu esforço pra me cuidar, pra ser saudável, pra sarar, pareciam surtir muito pouco efeito. 
   Em 2017 também resolvi que queria aprender a correr.Queria mais resistência, e tava bem animada com os treinos cada vez mais desafiadores, e com as respostas que meu corpo dava quando eu tava bem rs. E foi muito ótimo começar. Não posso dizer que corro ainda, estou muito longe disso. Mas percebi que pra correr, basicamente você tem que tentar, e continuar indo, mesmo que de cara sinta tudo dizendo que não vai dar. Porque pelo que percebi essa sensação não muda, nem na 1ª vez, nem depois de 1 mês praticando. O jeito é adotar o “ Go, anyway” ( ou "só vai, pra alguns rs) e continuar. 
   Também foi o ano que mais senti a necessidade de me desapegar totalmente do passado, e o ano que mais fui colocada em contato ou em confronto com ele. ( Passado aqui sendo desde o dia de ontem, até aquelas lembranças desagradáveis de infância). Pra "Podar hortênsias " tive que encará-las.
   Além disso, creio que a intensidade de todos os acontecimentos me deixaram num turbilhão de confrontos tão profundos, que eu simplesmente não conseguia processar e escrever sobre. Nem pra mim mesma. Era tudo muito novo e assustador. Adotei o “Go, anyway” pra vida. Principalmente por não saber lidar com as dores, fraquezas, ou falhas que surgiram .E nesses processos tive muitas, muitas mesmo. Quase todas sem perceber. Me considerava bem flexível, calma, quase imparcial, de tanto que eu queria ajudar tudo e todos, e  assegurar que tudo ia ficar bem com todos.
    Foi mais ou menos assim que ignorei todas as dores internas e externas em mim, e "quebrei", como descrevi no ultimo post .
 Foi a forma mais clara e drástica de aprender (e espero, que de uma vez por todas) que não se quebra pra manter alguém inteiro. Mesmo que esse alguém seja muito importante pra você e pareça muito digno e necessário fazê-lo. 
   2017 foi um ano onde a manifestação da graça de Deus em mim foi muito forte, porque eu tenho certeza que nunca me vi tão fraca. Sou intensa, é verdade. Isso faz diferença. Mas também não sei se é possível mudar algo tão intrínseco em mim, que é essa coisa de amar ou odiar, o 8 ou 80, sabe? Meios termos pra mim não existem. Não fazem sentido, não tenho percepções medianas sobre absolutamente nada. E acredito que mesmo com os dias difíceis, isso me proporciona vivências incríveis, mesmo em situações corriqueiras. Não troco isso por um dia " normal" ( afinal, o que é normal?).
   Não posso esquecer que também quebrei minhas regras algumas vezes, e isso foi muito surpreendente novamente -até porque  tenho muitas mesmo. Mas tenho limites pras concessões que faço porque senão fico de novo naquela de não me reconhecer. Muitas são relacionadas a situações que me deixam num nível de vulnerabilidade maior do que eu considero suportável rs. 
  Mas em um desses lapsos que a gente tem, quebrei uma dessas regras naqueles 20 segundos de coragem insana e acho que só pensei “ por quê não?” .
  Foi de longe uma das melhores coisas que fiz nesse ano rs, mesmo tendo sido algo tão simples. Mudou praticamente tudo dali pra frente.
  Nessa me descobri impulsiva por pensar demais, mesmo que isso soe contraditório.
 Graças a Deus, a maioria desses " repentes" resulta em coisas boas.
 " Bom é que não você não se preocupa com o que as pessoas vão pensar”- ouvi isso algumas vezes, e gostaria que fosse totalmente verdade. Mas meus primeiros pensamentos ainda tem essa rusga de “ e o que vão pensar?” - não com relação a sociedade, e sim com às pessoas com as quais eu realmente me importo.
  Porém reconheço que embora o pensamento exista, as vezes até aquela dor aguda de saber que “ é, vão se decepcionar” aperte o peito, de fato, isso não me paralisa. Acabo agindo baseada em algo maior, que faz muito mais sentido pra mim, que é obedecer Deus. E pra isso, eu já sabia que decepcionar pessoas queridas, fazer coisas que ninguém entende, ou mesmo ser xingada e coisa e tal, poderiam acontecer. Não é a pior parte. Ainda acho lidar comigo mesma, com orgulho, autopiedade, e medo muito mais difícil.
  Olha, quantas aventuras 2017 rendeu rs! Quantas experiências, quantas pessoas incríveis pude conhecer! Teve muitos eventos inesquecíveis esse ano também : o casamento da mamys, a célula das meninas, viagem pra SP e o corte de cabelo no meu aniversário, o livro do Akapoeta autografado, assistir Lés Miserábles, o Fornalha Tour Dunamis, conhecer mais um autor de livros infantis ( Ilan Brennam), uma festa do pijama inesquecível e muitas despedidas surpreendentes quando mudei pra SP, conhecer Paraty também...nossa, quanta coisa!
  Mas a maior lição desse 2017 foi sem dúvida, aquela mais básica, que já cansei de falar e ouvir por aí, mas que nunca calou tão fundo na minha alma, nunca me tocou de forma tão significativa e transformadora, como as experiências desse ano proporcionaram :
  Deus se importa muito mais com o que eu sou, do que com o que eu faço.

 E pra isso, pode ser que eu tenha que deixar de fazer absolutamente tudo que eu estou acostumada, que eu goste, ou que me considere boa.
 Pode ser que eu tenha que deixar de lado todas as coisas que eu faço e acredito fazer por Ele. 
Pode ser que isso exija renúncias tão doloridas, que pareça que depois delas, não vai restar muito mais pra continuar. 
Pode ser que eu me sinta completamente só, e errada, e perdida também.
 Até não restar mais nada, que me atrapalhe de enxergar as feridas, os roxos, os hematomas que deixei passar. Ou tudo que era bom, mas tava fora de lugar.
  Até que toda mancha, toda sombra, toda casca de proteção, suma.
Se me falassem antes, eu com certeza pensaria que não iria restar muita coisa. Mas talvez seja esse o ponto, por mais doido que isso seja...é preciso morrer pra que Cristo possa viver. E isso tem tudo a ver com depender e confiar.
  E quando Ele vive, eu me torno muito mais eu, muito mais autêntica do que jamais conseguiria ser, sem Ele.
 Então 2017 foi sobre isso: toda essa desconstrução louca, sobre sentir todas as folhas caírem, e nisso esquecer que a raiz ainda tava lá. Mas graças a Deus, ela estava, e está. 
 E por isso, é hora de construir de novo...sobre as bases e fundamentos certos, que acredito eu, permaneceram.
 A primavera vem, nem que não seja agora, uma hora ela vem. 2017 não foi o fim! Graças a Deus! 
 E isso já é suficiente pra me encher de esperança e gratidão pra viver as estações desse ano que começou.

Créditos das fotos: Pinterest