Fui caminhando rumo ao meu alvo, que era realizar o sonho de
conhecer o centro cultural. Engraçado que quanto mais perto eu chegava, mais
desconfiada eu me sentia, porque não sabia se estava no caminho certo. Segui
indicações do áudio de uma amiga, e confiei.
E foi tão
incrivelmente recompensador chegar lá, e saber que fiz certo em confiar nela.
A emoção era imensa
ao chegar lá, além da sensação de : pq não fiz isso antes? Tão fácil!
Entrei. Parecia
outro mundo se descortinando na minha frente. Um silêncio de paz. Pessoas
estudando, observando, conversando baixo.
Todo tipo de pessoa.
Lindo de se ver.
Fui andando feliz, admirando tudo, desde o chão até o teto rs.
Comecei a descer as rampas, como quem tá num parque de diversões.
Quando cheguei na
entrada da biblioteca, e vi que precisava fazer cadastro, avisei que não tinha.
A moça pede meu RG. Vc levou o seu RG? Pq eu, pela primeira vez na vida,
esqueci. E sério, foi a primeira vez. O desespero de abrir a carteira e confirmar que não
estava lá. Eu vou com rg até na padaria!
Voltei pro balcão, e falei: "Moça, to sem
rg. Tenho título de eleitor, a carteirinha do meu serviço, serve?
Ela diz: vc vai
estudar?
E eu: não, vim só conhecer. Não moro aqui, to passeando. E
ela: vc sabe o número do rg?
E eu, sem pensar : não. É novo, não decorei.
Me julgue, eu sei o antigo. Esse já tem mais de 1 ano, mas
criei um bloqueio com ele por ter mudado o numero. Nem pensei em falar o velho...
Ela diz: "se vc
soubesse o numero eu podia quebrar seu galho."
Uma fila atrás de mim. Fiquei
parada, pensando em sair dali, e voltar outro dia. Aquele pensamento: poxa, mas
tava tão perto!
Sei que
inesperadamente, surgiu uma coragem que me fez perguntar: e seu conseguir o
numero? Ligar pra alguém? Vc me deixa entrar?
E ela, extremamente compreensiva, aceitou. Liguei, fui salva e me cadastrei rs.
Aquela sensação de conspiração pra eu conhecer...os carinhas
da portaria super de boa comigo, pareciam compartilhar a sensação de : ajudei
uma turista tadinha. Kkkk mal sabem eles que nasci e cresci em SP....kkkk
Desci as rampas da biblioteca como se fosse a entrada do
mundo. Que lugar incrível! Óbvio que eu parei em tudo. Todas as fotos,
exposições, tudo que eu pudesse ver!
E tirei foto de tudo também. Umas 200. Aquela ideia de que poderia compartilhar o momento com alguém
depois. Mas não sei se isso é possível no fim. Porque foi muito impressionante.
As sensações e emoções
que cada obra, cada foto, cada letra, cada desenho provocam são muito pessoais.
E eu tava parecendo flutuar, naquele mundo que parecia tão incrível e tão
conhecido...rs.
Não entendo de
cartoons, mas me senti tão próxima vendo a exposição ali. Não entendo de jazz,
mas me senti num show americano, enquanto olhava as fotos. Não sou leitora de
gibis, mas amei ver aquela diversidade do acervo. Como a acessibilidade tem o
poder de incluir a gente em coisas que a gente nem pensa tanto assim.
Deixei a biblioteca
por ultimo, por motivos óbvios. Não quis ler lá, pq seria o resto do dia
fazendo apenas isso; e o foco continuava sendo coisas novas.
Mas nossa, que lugar
incrível! Que acervo impressionante! Não sei porque, amo andar nos corredores e só
olhar as lombadas...as cores, os tamanhos, mesmo sem ver os títulos. Pra mim é
como ver milhões de mundos dispostos na minha frente.
Resolvi olhar a
discoteca. Ouvir musicas de folclore nordestino. Muito legal!
Subi pra ver as
exposições do lado esquerdo. Foi aí que tudo mudou. Até ali eu tava olhando, com aquela sensação de admiradora.
Então cheguei numa exposição interativa
de trabalhos artísticos, feitos por crianças de 5 a 12 anos, numa instituição
pública de iniciação artística, q eu nunca havia escutado falar.
Fascinante não
define. Como criança tem um olhar e uma linguagem que impressiona. Que convida,
que acolhe, que transcende. Que é leve, divertido, colorido, feliz, e
sensivelmente sincero, esperançoso. Eu amei cada detalhe!
Li todas as
descrições, parecia estar vendo grupos delas se expressando. Fiquei tão feliz
de saber que existe isso! E ao mesmo tempo, tão triste de saber que não é acessível a todos.
Passei um bom tempo
ali. Aprendendo o máximo que pude, admirando o máximo que pude, pq aquilo foi
um presente pra mim.
Depois, mais duas
exposições fotográficas muito legais...como a gente aprende com o olhar do outro!
Como é maravilhoso saber que existem pessoas dispostas a compartilhar seus
olhares, como isso enriquece!
Voltei pro metrô, porque já estava satisfeita. Senti que se melhorasse estragava rs. E voltei, toda
feliz de saber que dificilmente alguém compartilharia o gosto que senti ao
estar ali. Dificilmente poderia compartilhar tudo que vivi ali em palavras...embora essa seja uma tentativa.
Foi um dia
impressionante. E aconteceram outras coisas, outros dias. Mas eu queria falar
desse dia. Porque mudou minha perspectiva. Percebi que passear sozinha pode ser
ótimo. E que não é algo a ser evitado.
Apenas desfrutado, porque afinal, nunca
estamos sozinhos.