quarta-feira, 20 de julho de 2016

Dos dias em SP- parte 2

   Continuei meu caminho. Dentro do metrô, outros tipos de reflexões...outras pessoas. Estar sozinha me fez muito mais observadora rs.
  Desci na estação Paulista. Tinha um foco, é verdade: bazar e depois centro cultural.  Mas no caminho, tinha um dos lugares que eu mais gosto no Universo: Livraria Cultura, do Conjunto Nacional *_* 
Por que não, descer, dar uma volta e depois ir nesses lugares? 
 Quebrei minhas próprias regras, coisa que estou amando fazer, e fui. Andei em seções que não olhava muito. Tirei fotos de ângulos diferentes. Li um livro infantil, pra variar. Entrei na Geek também, só pra olhar. E me senti muito dona de mim, e feliz.
 Caminhei pela Paulista, dessa vez, olhando outras coisas. E achei muito interessante que a maioria esmagadora estava sozinha também. Seja qual for o motivo, é uma condição bem comum na sociedade hoje, e olha que coisa :estar sozinha ali também, fez com que eu me sentisse mais próxima dessas pessoas desconhecidas.
  Fiquei surpresa como as coisas mudam em pouco tempo. E mais surpresa ainda de ninguém me reconhecer na antiga igreja, onde foi o bazar. Diziam: VOCÊ mudou muito. E eu fiquei pensando, se toda a mudança interna estava assim, tão externalizada...porque eu não notei isso rs.
  Achei muito divertido, confesso. Passou o bazar, subi pra Paulista de novo, onde vi o tal shopping "novo" que eu não conhecia :Cidade São Paulo.
  A ideia era ver a praça de alimentação. As 13. Lotado é apelido. Mas fui. Gente chique ali. Eu felizona com minha regata e tênis velho. Sério.
 Mas vivi uma experiência legal: tinha uma exposição de móveis gigantes. Filas pra tirar foto neles. Eu fui numa poltrona laranja, uma das cores que eu mais amo, pensando: todo mundo tem alguém pra tirar foto, como que eu vou fazer? Selfie não dá. Não vai dar pra ver o tamanho. Pedi pra organizadora da fila. Ela disse q era proibido pra ela e pros seguranças tirar foto. Pra pedir pra alguém da fila. Isso acompanhado de mil desculpas.
Atrás de mim não tinha ninguém.Orei né. até que apareceu uma mulher com uma senhora, e pedi a ela. Ela super topou. Depois q ela tirou as minhas, outras pessoas sozinhas surgiram da fila, pedindo pra eu tirar pra elas... me senti num momento único de “ existe amor em SP”, vamos compartilhar, não custa nada, e foi o máximo ( olha a foto aqui, que alegria: existe amor em SP + poltrona laranja).
  Acabei não comendo nada, mas saindo de lá com a alma alimentada. De verdade.
  E fui, caminhando pro centro cultural, seguindo orientações de uma amiga ( oi Tamíres linda).
No caminho , algumas coisas me chamaram atenção:
 No dia anterior, eu tinha visto um senhor tocando violão com seu amplificador na frente do conjunto nacional. O que aqui, é super comum. Parei pra tirar foto, e minha irmã disse: não acredito que você vai tirar foto disso. 
 E eu : " Acho o máximo a coragem dessas pessoas, de fazer o que gostam assim. Admiro mesmo. Ele não tá nem aí pro que os outros pensam, no sentido de : estou seguindo meu sonho. Ao mesmo tempo, essa postura corajosa tem tanta generosidade...porque pensa: ele compartilha o que ele tem de melhor, com qualquer pessoa. Com todos ou com  ninguém. Ele simplesmente doa o dom dele ali, na rua. Espera receber alguma coisa? Provavelmente. Mas não está condicionado a isso. Acho isso lindo".
  E ela me disse q ninguém nunca disse isso pra ela kkkkk; e achei justo então, compartilhar isso AQUI :)
  E porque na quarta, vi outros exemplos de pessoas corajosas/generosas: um cara com uma guitarra, fazendo mil distorções. Apenas. Nenhuma melodia. Ninguém parado pra olhar. Depois, vi um senhor cantando em inglês enquanto lia um caderno com as letras no chão...rs...e achei divertido, e novamente, ninguém parecia notar.
 Um pouco mais pra frente também tinha um rapaz , vestido tipo Jonas Brothers, rsrs, com um banjo, encostado num corrimão, parecendo nem tocar.
  E talvez ele nem estivesse mesmo. Não tinha amplificador, o barulho dos ônibus impedia de ouvir qualquer coisa ali, e acho que nem ele estava se ouvindo. Fiquei pensando o que ele estava fazendo ali então...rs, ou o que pensava que estava fazendo. E como a gente também se ilude sozinho, porque é isso que ele representou pra mim. 
  Depois, nos semáforos de cruzamento, onde se reúnem multidões pra atravessar junto, reparei uma coisa : ao mesmo tempo que vi empresários com ternos carésimos e iphones, moças de salto e bolsas caras, estudantes com fone e dreads, um morador de rua, bem no meio de todos, do meu lado, esperava pra atravessar também ,descalço, enrolado num cobertor, de boa. Ao lado do cara de iphone. E percebi que SP tem essa falsa inclusão muito latente. O cara pode andar ali, pode parar do lado de quem for, ninguém vai se incomodar. Mas é justamente isso que me deixou perplexa...e como se ele não existisse. Ninguém olhou pra ele. Tá, eu sempre vi isso, mas não com esses pensamentos. 
  A gente sabe que todo mundo pode andar na paulista,( ou em outros lugares) do jeito que quiser, e ninguém vai falar nada. Mas também, percebe? Não será sequer notado, principalmente se for uma pessoa marginalizada. Muito complicado isso.
  Continuei caminhando e observando essas cenas. Moradores de rua nos corrimãos de prédios lindíssimos e antigos. Do lado de seguranças. Ninguém parecia notar ninguém. Cada um olhando pra um nada na sua frente. Parecendo coexistir em paz, mas que paz existe nessa desigualdade absurda?
  Não existe.  Silencio nem sempre é paz.

E eu andando, também sem saber o que fazer além de pensar e olhar. Observando os silêncios de outras pessoas. Pensando sobre os vários desdobramentos de se estar sozinho num lugar tão grande e cheio de gente.
 ( continua...)

Créditos das fotos:Beatriz Ramos Fotografia

Um comentário:

  1. Nossa me acho em tantos textos seus e ainda sou citada diretamente para a minha alegria kkk
    Narrativa milll Trouxe sentimento para selva de concreto rsrs

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