terça-feira, 8 de novembro de 2016

Meninas

Você notou que esse ano, pela primeira vez foi comemorado/divulgado o Dia Internacional das Meninas ? Não? Eu notei. Você notou quantos vídeos, notícias, mobilizações, manifestos aconteceram ultimamente, não especificamente sobre mulheres, mas sobre MENINAS?
 Faz um tempão que penso em escrever sobre Meninas. Milhares de polêmicas se destacam, e somem da mídia, mas o nó na garganta não passa.
  Eu fico naquela esperança da poeira baixar, e me permitir escrever algo coerente, que não te leve ao desespero, nem banalize absolutamente nenhuma das lutas e dores que tenho visto, que não seja cheio de revolta ou tristeza.
 Mas não tem como. É como um grito, que tem ecoado por todo o mundo. Porque ser menina hoje, não é apenas " difícil ou complicado". É mortal. É se tornar alvo dos mais variados ataques físicos, psicológicos, sociais. 
  Li estarrecida esses dias um texto que colocava a frase " É menina", como uma das mais mortais que existem. Isso porque existem mais de 200 milhões de meninas que " desaparecem ao nascer". O texto fala de países distantes, como China e Índia. ( É menina - sentença que mata).
  Daí você pode falar da política do filho único, ou das religiões e crenças. Da pobreza, da cultura. Mas percebe que antes de todas essas coisas, existe uma ideia que diz que a vida de uma menina não vale absolutamente nada?
 Então se você ainda não percebeu que o mundo é um só, e que tudo que acontece nele te afeta de alguma forma, teve aquele outro vídeo, que foi muuito divulgado aqui :Pai, me ajude! Nasci menina. 
 É americano, verdade, mas mostra uma realidade mais próxima pra nós brasileiras que tivemos a sorte de conseguir nascer. Mas vamos ser honestos, ninguém sabe quanto tempo aguentaremos, pois seremos sistematicamente atacadas. Física e emocionalmente. 
 O que me lembra aquela tal pesquisa, que o Brasil é um dos piores paises da América Latina pra ser uma menina(um pouco da pesquisa aqui) 
  Sim, o índice de gravidez precoce e casamento infantil aqui é assustadoramente alto pra uma “ economia emergente”. 
Enquanto to aqui, escolhendo palavras pra descrever a urgência do que está acontecendo, a cada 7 segundos, uma menina, se casa no mundo. 
 Uma menina. Pode ter entre 7 a 15 anos. A idade média dos estupros é 13 anos. Meninas.
 Sem falar nas milhares que estão sendo vendidas, por serem a única esperança de sua família ter o que comer e sobreviver mais um dia. Ou as que estão sendo raptadas pelo Estado islâmico, ou Boko Haram.

 “ Bring back our girls”, “ Ni uma a menos” é familiar pra você? Meu primeiro assédio?
Todas campanhas que movimentaram as redes sociais. Que causaram choque, revolta, Deus permita, resultados.
 E então, surge essa palhaçada de “ escola de princesas”. Porque tem pessoas muito preocupadas com o comportamento das meninas atualmente.
 Quantas vezes você já não ouviu isso? Que “ as meninas hoje em dia” são isso, ou aquilo. São vulgares, mal educadas, não se respeitam, e por aí vai?
 As tragédias : da vítima do estupro coletivo, da Lucia Perez.
 Surge um pouco de esperança também , com aquela escola no Chile, de “ desprincesamento”. Lindo. Amém. Onde elas estão aprendendo a ser mais livres de todos esses condicionamentos terríveis que as pobres princesas estão aprendendo por aqui. 
  E tudo isso por que? Porque essa ideia simplesmente contamina tudo em todo lugar. A vida de uma menina não vale nada.
 Tem outras questões que aumentam a exclusão e a vulnerabilidade social, obviamente. Mas se você pensar bem, a vida de meninas " ricas" também não vale muito. O índice de tráfico humano também as atinge. Todo o esquema de padronização, de fazer com que elas sintam-se envergonhadas, insuficientes, feias, incapazes, que não queiram muita coisa além de serem bonitas e terem algum tipo de sucesso a qualquer preço, as atinge profundamente.
 É uma outra forma de assassinar. Mate os sonhos delas. Mate qualquer senso de dignidade intrínseca. Aniquile sua visão, limite suas possibilidades. Mate sua esperança. A alegria vai sumir junto, a qualquer momento.
  Mate seu coração, lentamente. Pronto. Você tem uma menina morta, cuja vida é pura aparência.
 Tenho a chance de conviver com algumas meninas no meu serviço, na igreja, em alguns lugares.
 Se você convive com alguma , provavelmente já viu aquele brilho nos olhos de quem tem toda a vida pela frente. Algumas querem realmente ser princesas. Outras modelos. Outras só querem poder estudar. Outras querem ser policiais, pilotas, marinheiras, tantas coisas!
  E a verdade é que hoje a gente não tem muito o que mostrar pra elas saberem que podem. Absolutamente tudo parece trabalhar para limitar, e matar mesmo, se não fisicamente, emocionalmente esse grupo específico.
 Mas calma, claro que tem esperança.
Você também já deve ter ouvido falar da Malala. Uma menina que mudou o mundo. Mudou porque mudou a perspectiva, mudou realidades, mostrou que ser menina, mesmo em circunstâncias muito difíceis, não é determinante para destruir um sonho, uma visão, um propósito. Vídeo lindo- meninas do mundo e Malala
  Então o que eu quero dizer com tudo isso, se você já leu até aqui e tá se perguntando aonde eu quero chegar com tanta tragédia:
Eu quero que você desperte pra responsabilidade, pra possibilidade que você tem quando convive com uma menina.
 Tudo está aí pra limitar. Pra dizer que não dá. Pra dizer que ela é um problema. Que não é suficiente. Que tem um papel determinado a cumprir. Que a vida dela não importa.
 Mas você, que sabe que tudo isso é mentira, e as consequências desastrosas que essas mentiras estão gerando, pode se levantar e dizer que dá sim, pra continuar. Que ela não é um problema. Que ela é o suficiente pra ser amada por ser quem é. Que o papel que ela tem a cumprir, é o que ela quiser. Que a vida dela é profundamente e indizivelmente importante, e por isso tem tanta coisa tentando convencê-la do contrário.
  Você pode dizer. Mostrar. Sorrir. Amar. Abraçar. Permitir. Perdoar. Respeitar.
Pra que essa menina, cresça com a força que o amor e a esperança podem proporcionar. E possa lutar pelas outras, que hoje ainda não conseguimos alcançar.
  As vezes a gente não sabe o que fazer, ou simplesmente não faz porque pensa que " não pode fazer nada". Mas quero te dizer, que podemos sim, fazer tudo
Podemos fazer qualquer coisa na verdade. E fazendo tudo que pudermos, mesmo que pareça pouco, bom, é muito melhor do que nada. Só precisa começar, não importa o lugar, nem quantas vamos alcançar.
 Porque a vida de cada menina que existe na face da terra importa sim.
 Pode ser o nome de um relatório : " Ate a última menina. Livres para viver. Livres para aprender. Livres de perigo".. Que seja também não apenas nosso sonho, mas nosso propósito. Amém.

Links se você se interessou pelas notícias:
Casamento Infantil- Carta Capital, dados da Save the Children
Meninas se sentem pressionadas com relação a aparência desde os 7 anos
* Dados do site da ONG Save the children, você pode ver mais aqui :Save the Children- about girls.



Nenhum comentário:

Postar um comentário