sábado, 30 de maio de 2015

Centro de mesa

 “ Confesso que de vez em quando preciso falar nisso, provoco o assunto, alimento as reações, me exponho a todas as consequências, numa necessidade tão aguda de ficar centro de mesa. Mas de repente me vem um pudor ( não sei se é exatamente pudor) e não suporto a menor referência, problema meu, friso e levanto a cerca de arame, proibida a entrada de pessoas estranhas”           
            Lorena Vaz Leme- trecho do livro “ As meninas” de Lygia Fagundes Telles

    

  "Você quer mesmo escutar o que quero dizer?" - Eu poderia dizer essa frase claramente no início de cada fala , cada post, cada conversa. Talvez você já tenha percebido, porque ela de fato está nesses lugares. Nas perguntas como quem não quer nada. Nas pausas. Nos olhares. Principalmente nos olhares. E claro, mais do que tudo nos silêncios.

  Sei que muitas vezes não parece. Aprendi com o tempo a suavizá-la e adequá-la aos protocolos de uma conversa despretensiosa. Não por falsidade, hipocrisia, ou medo. 

É apenas precaução.

Precaução porque tem muita gente disposta a ouvir, mas não escutar.  

 Muita gente que só quer saber pra depois poder falar. 

Muita gente que na verdade não quer saber, e só pergunta por perguntar.

   E eu, com uma credulidade que as vezes beira a cretinice, já fiz isso muitas vezes: me colocar como centro de mesa, simplesmente porque sinto que preciso falar, sem considerar se quem tá me ouvindo está de fato disposto a me escutar. Ouvir é fácil.    

  Mas pense, você de fato vai escutar? Já escutou as pausas? A falha na voz? A ansiedade ali naquela palavra? As defesas quando falo firme? E o silêncio ? Escutou?  Esse pra mim é o mais ensurdecedor. Não se engane. Ele não aparece só quando não sei o que falar. Aparece muito mais quando não sei se alguém vai escutar. É aí que ele grita, de fora pra dentro, tentando entrar. Mas não adianta, silencio pra mim não é paz, me traz muito mais apreensão.
   Gosto de música, gosto de sons, gosto de falas, notas, timbres e tons.
   
  Sei que tenho fama de falar demais ( e nunca neguei isso).  Mas se você prestar atenção, quem fala demais nunca diz tudo. 
  Claro que tem aquele dia que me faço centro de mesa por pura animação. Quando é praticamente impossível se controlar e ficar de canto, como se nada estivesse acontecendo.
  Mas esses dias são bem claros. E não faz muita diferença se alguém quer escutar ou não. As falas correm como rios em tempo de cheia, e extrapolam as margens das conversas pacatas.
  O propósito desse blog também não é esse. Já pensei muito sobre isso. Se não era o ápice dessa necessidade. ( E nem tinha lido esse livro ainda rs, Anyway,outro dia escrevo sobre motivos de estar aqui ).  Mas percebi que escrever não me expoe além do que eu gostaria. Eu mesma posso me dar os limites. Além disso, lê quem quer. 

  Centro de mesa, ou fechada entre cercas de arame, pra quem quer te escutar não vai ser impossível te encontrar. Percebeu onde eu quero chegar? 


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